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Safra dos governadores (por Antônio Carlos de Medeiros)

O federalismo poderá ser o vetor de ascensão de novas lideranças na cena política brasileira

atualizado

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O federalismo poderá ser o vetor de ascensão de novas lideranças na cena política brasileira. A safra de governadores eleitos em 2018 e 2022 mostra uma renovação política relevante. A de prefeitos também.

Ao contrário do que costumam dizer os livros textos sobre a renovação de lideranças nas democracias, aqui, agora, a renovação não parece que virá do Congresso Nacional. A partidocracia das emendas, versão Século XXI do coronelismo da República Velha do século passado, não está produzindo novas lideranças de amplitude nacional.

Efeitos bumerangue do processo político: o ex-presidente Jair Bolsonaro desferiu ataques políticos aos governadores no período da pandemia do Covid 19. A pauta do ex-presidente era negacionista. A dos governadores, atuando na ponta dos efeitos da tragédia, não era. Ciência “versus” Fake News e supostos efeitos “crocodilo” das vacinas.

Os governadores se organizaram com ferramentas federativas. Uniram-se através da criação e formação de Consórcios. Por exemplo, o Consórcio dos governadores do Nordeste. E o Consórcio dos governadores do sul e do sudeste. Com diálogos também no centro oeste e norte. A maioria do PIB e da força da sociedade brasileira.

Criaram uma força política de resistência e de combate ao negacionismo. Acima de tudo, mitigaram perdas de vidas humanas e criaram um “espírito de corpo” federalista. Uma barragem política. E aprofundaram atenção especial às políticas públicas. Ou seja, o cuidado com a gestão, a governança e a entrega de serviços públicos.

Veio a eleição de Lula em 2022 e o governo Lula 3. Está cada vez mais clara a importância do federalismo na mediação política e na articulação da governança de da governabilidade no país.

Outro efeito bumerangue da partidocraia versão brasileira. Ela jorra emendas pix nos municípios. Cria raízes para apoio de vereadores e prefeitos aos deputados federais. São eles (os deputados federais) que contam para a contabilidade do fundo partidário e do fundo eleitoral.

Mas, aí, esse movimento clientelista e eleitoreiro faz renascer uma tradição do processo político brasileiro: a estadualização da política. A política brasileira sempre teve uma inequívoca dimensão regional.

A política brasileira é centrada nos estados. Os partidos selecionam os seus candidatos nos estados, e não no plano nacional. E o sistema eleitoral provoca, na prática, o surgimento de candidaturas “quase distritais”. Faz com que os políticos mantenham estreitos vínculos locais. A lógica da carreira política brasileira é local e regional. Confere centralidade política aos governadores.

No final da esteira, aqueles governadores que realizam uma boa gestão e fazem entregas, para além da realidade paralela da polarização fermentada pelas máquinas das redes sociais, despontam como lideranças que conseguem aglutinar a anarquia da fragmentação partidária e dão algum sentido ao modelo cacofonia da formação de opiniões. Opiniões líquidas. Da liquefação da política brasileira.

Neste contexto complexo, as novas lideranças emergentes ou ascendentes não se resumem ao sul e ao sudeste. Não mais. O agronegócio mudou o nordeste, o centro-oeste e o norte. Novos vetores do desenvolvimento do país. Um Brasil que trabalha em silêncio.

A mídia nacional, e os Institutos de Pesquisas, têm colocado o foco em Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG), Ratinho Júnior (PR), Eduardo Leite (RS) e Ronaldo Caiado (GO).

Entretanto, também são lideranças emergentes ou ascendentes outros governadores (ou ex-governadores) e prefeitos (ou ex-prefeitos): Rafael Fonteles (PI), Wellington Dias (PI), Camilo Santana (CE), João Campos (PE), Renato Casagrande (ES) e Fernando Haddad (SP).

É a safra federalista. Todos gestores bem avaliados. Todos sintonizados com o perfil dos problemas, dos desafios e das políticas públicas dessa já terceira década do Século XXI.

Já estão na estrada e poderão estar na raia de partida em 2026 ou em 2030. Mas é preciso saber, antes, qual vai ser o barômetro das eleições de 2024.

Enquanto isto, o que transparece dos fatos de hoje é que o establishment político e econômico brasileiro está indócil, descrente, e, portanto, desancorando as expectativas.

Como conversar com o establishment? Como conversar com a sociedade? Eis o dilema estrutural da Política no Brasil de 2024.

*Pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science.

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