metropoles.com

Mudança dos ventos (por André Gustavo Stumpf)

As guerras de Israel versus palestinos e de russos contra ucranianos mostraram sua capacidade de influenciar a política e a economia mundial

atualizado

Compartilhar notícia

bymyratdeniz/Getty Images
Imagem colorida de sombras de dois soldados em frente de parede pintada nas cores das bandeiras de Rússia (esquerda) e Ucrânia (direita) - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de sombras de dois soldados em frente de parede pintada nas cores das bandeiras de Rússia (esquerda) e Ucrânia (direita) - Metrópoles - Foto: bymyratdeniz/Getty Images

As guerras de Israel versus palestinos e de russos contra ucranianos, que seriam questões localizadas e regionais, mostraram sua capacidade de influenciar a política e a economia no resto do mundo. De repente, o Brasil descobriu ser dependente de fertilizantes ucranianos, que poderiam ser substituídos por equivalentes russos. Além disso, a Rússia, um dos maiores produtores de gás e petróleo do mundo, para fugir dos bloqueios econômicos promovidos pelo governo dos Estados Unidos, passou a vender seu combustível por preço abaixo do praticado no mercado internacional. Competição pesada.

As consequências vêm depois, ensinou o Conselheiro Acácio, magistral personagem criado por Eça de Queiroz em O Primo Basílio. O Brasil multiplicou várias vezes suas importações de Rússia. E a China passou a ser o principal comprador aquele mercado. O gigante asiático colocou os russos debaixo do braço e juntos estão fazendo pressão contra a hegemonia norte-americana. Irã e Coréia do Norte realizam bom dinheiro vendendo armas para a Rússia na sua guerra. Novos parceiros internacionais.

Os Estados Unidos e seus aliados europeus também estão fazendo grandes lucros na venda de armas e munições para a Ucrânia. O governo da Dinamarca autorizou a utilização de seus poderosos F-16 em ataques dentro da Rússia, o que empurra a guerra para mais perto de Moscou, que errou muito no seu planejamento estratégico. Ao contrário do que previra seu Estado Maior, mais países limítrofes aderiram à OTAN, como Finlândia e Suécia. Dois blocos estão surgindo: Rússia e China de um lado versus Estados Unidos e seus aliados europeus. É uma disputa que não admite previsões.

Os chineses não se mostram muito preocupados com o aumento do nível de tensão. Estão preparados para invadir o mundo ocidental com seus poderosos artefatos de alta tecnologia. Eles agora pretendem inundar o marcado com veículos elétricos bem desenhados, de alta performance e preço baixo. Os norte-americanos já responderam aumentando em quatro vezes as tarifas de importação. O objetivo é tirar os chineses do mercado. Em outros tempos esta concorrência era chamada de livre mercado pelos norte-americanos. Hoje é considerado ato predatório.

O cenário externo é complicado. O interno também.  Desde tempos recentes, o agronegócio tem sido principal negócio da atividade econômica brasileira. Este fato tem repercussões no futebol – ninguém poderia imaginar que o Cuiabá, um time de Mato Grosso estivesse na primeira divisão – na música, o sertanejo domina a cena musical e na política o Congresso Nacional tornou-se majoritariamente conservador.

O agronegócio negocia em dólar nas principais bolsas de valores do mundo. Seus dirigentes precisam de mercado livre, fartos financiamentos para manter grandes safras e acesso fácil ao mercado internacional. Eles já sustentam grandes bancadas no Congresso Nacional. O dinheiro está neste segmento. Não é por acaso que uma das principais revendedoras de carros esporte alemães esteja em Goiânia, onde o hospital Albert Einstein abriu uma sucursal e Claude Troigros acaba de inaugurar um restaurante.

Este conjunto de circunstâncias auxilia a entender o que aconteceu nesta semana no Parlamento. O governo Lula foi largamente derrotado na votação do veto da chamada saidinha de presidiários e na tipificação de crimes em mensagens que disseminem informações falsas, as fake News. Foram derrotas importantes porque as bancadas mostraram plena autonomia. União Brasil que detém três ministérios votou contra o governo. PSD, também com três ministérios, votou contra. Republicanos que manda em um ministério votou majoritariamente contra. Até Maria do Rosário, petista raiz, aquela que brigou com Bolsonaro, agora candidata à prefeitura de Porto Alegre, votou contra.

A eleição para prefeitos está perigosamente perto. Os assuntos locais determinam o comportamento dos políticos. Eles percebem que a população quer maior ação policial. E teme que o governo faça censura das redes sociais. É o que os parlamentara ouvem nas ruas e reproduzem nos seus votos no Parlamento. O governo federal não dispõe de recursos para reverter esta situação. Além disso, o governo Lula e sua assessoria petista estão solidamente plantados em algum momento dos anos setenta. Eles advogam a intervenção do estado na economia e desconhecem as consequências da globalização que nas relações de troca no mundo. Mas um novo ciclo se anuncia. Na África do Sul, o partido chamado Congresso Nacional Africano, a legenda de Nelson Mandela, perdeu a eleição majoritária. Seus dirigentes foram incapazes de perceber a mudança dos ventos na política e na economia.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?