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As eleições para Presidente dos EUA deste ano (por Ricardo Guedes) 

Os debates são fundamentais. Trump é assertivo em suas incisões, e Kamala Harris parece ser mais assertiva do que Hillary Clinton e Biden

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Imagem colorida de Donald Trump e Kamala Harris - Metrópoles
1 de 1 Imagem colorida de Donald Trump e Kamala Harris - Metrópoles - Foto: Reprodução

As eleições para Presidente dos Estados Unidos encontram-se, hoje, indefinidas.

Após a desistência de Biden, Kamala Harris obtém o número de delegados necessários para a sua nominação. Seguem-se duas principais pesquisas pós retirada da candidatura de Biden: a pesquisa Reuters IPSOS que aponta Kamala Harris 44% e Trump 42% no total do eleitorado; e a pesquisa CNN SSRS que aponta Trump 49% e Kamala Harris 46% entre os eleitores registrados; em situação de equiparidade.

  1. A economia

A economia é a principal variável de uma eleição.

Há uma forte correlação entre o crescimento do PIB e o resultado das eleições. “It is the economy, stupid,” na célebre frase de James Carville, ao explicar o crescimento de Clinton contra George H. Bush nas Eleições Presidenciais de 1992. Há outros temas, certamente, nas eleições americanas, como o controle de armas; a imigração, que tira empregos das camadas mais baixas da população americana; o aborto e suas questões ético-morais; a Guerra da Ucrânia e a relação com a Rússia; a Guerra Israel-Hamas e a crise do Oriente Médio; a relação possivelmente conflitiva com a China devido à economia, a geopolítica do Mar da China e Taiwan; a inflação, já controlada; e a democracia; dentre outros temas. Mas a economia é a variável mais importante das eleições.

Paul Krugman, no seu artigo “Por que os americanos ainda estão pessimistas em relação à economia”, de 18 de março no New York Times, diz que o americano tem expressado sua insatisfação para com a economia, embora a economia esteja sólida e em pleno crescimento. Dados recentes do World Bank mostram que durante a administração Biden o PIB cresceu 8,9% de 2020 a 2021, de US$ 21,3 trilhões para US$ 23,6 trilhões; 6,6% em 2022, chegando a US$ 25,7 trilhões; e 6.6% em 2023, chegando a US$ 27,4 trilhões.

Nos Estados Unidos, são os Estados que elegem o Presidente, e não o voto direto popular. Os fundadores da República, temerosos que eram do absolutismo, instituíram o Colégio Eleitoral, na preservação da autonomia dos Estados, com número de Delegados proporcional à população de cada Estado. Os votos do Colégio Eleitoral de cada Estado, são alocados ao candidato que vence no voto popular no respectivo Estado, e não de forma proporcional a nível nacional, podendo haver discrepâncias entre o voto popular e o Colégio Eleitoral.

Retrospectivamente, o governo George W. Bush (Republicano) apresentou crescimento anual de 4,5% do PIB de 2001 a 2004, e de 4,7% ao ano de 2005 a 2008. Em 2008, o PIB cresceu somente 2,1%, devido à crise financeira do subprime, com Obama (Democrata) vencendo as eleições contra John McCain (Republicando), 365 a 173 votos no Colégio Eleitoral, 52,5% a 45,7% no voto popular.

O governo Obama (Democrata) apresentou crescimento anual de 4,9% do PIB de 2009 a 2012, e de 3,6% de 2013 a 2016, diminuindo para 2,7% em 2016. Trump (Republicano) venceu Hillary Clinton (Democrata) com 332 a 206 para Trump no Colégio Eleitoral, 48,2% a 46,1% para Hillary no voto popular.

O desempenho de Trump (Republicano) na economia, entretanto, foi abaixo do esperado, com crescimento anual de 3,6% durante o seu governo, com o PIB caindo em -1,5% em 2020 devido às políticas para o COVID-19. Biden (Democrata) venceu as eleições, com 306 a 232 dos votos no Colégio Eleitoral, 51,4% a 46,9% no voto popular.

A economia favorece a eleição de Kamala Harris (Democrata).

  1. Base política de apoio

A economia deveria ter sido suficiente para eleger Biden, a não ser por sua situação de saúde, conforme percebido pelo eleitor.

Previamente ao debate, as pesquisas indicavam cerca de um a dois pontos de diferença entre Trump e Biden. Dois-terços do eleitorado americano avaliaram que Biden perdeu o debate, e 2/3 avaliaram que Biden deveria ceder a candidatura a outro candidato. Após o debate, as pesquisas indicaram 4 a 5 pontos de diferença pró Trump, inclusive em relação aos demais candidatos do Partido Democrata, a não ser em relação a Kamala Harris, entre 3 a 4 pontos. Paulatinamente, as pesquisas começaram a retornar ao patamar de um a dois pontos de diferença.

O eleitorado americano está rachado no meio. Esta tendência é um fenômeno mundial, com a diminuição da participação das classes médias no PIB a partir de 1980, conforme indicado no “World Inequality Report”. A taxa anual para cursar a Universidade de Harvard nos anos 70, por exemplo, era de US$ 4.000,00, hoje em US$ 52.000,00, 13 vezes mais do que a 50 anos atrás, com a renda per capita americana aumentando somente 5,6 vezes comparativamente neste período. O “sonho americano” se dissipa.

No primeiro semestre deste ano, a pesquisa IPSOS mostrou que 67% dos americanos gostariam de ter uma eleição sem Biden nem Trump. Adicionalmente, o fato de que 2/3 do eleitorado tenha sugerido a substituição de Biden por outro candidato, indica que Trump não tem apoio majoritário. Em verdade, ambos os candidatos não formam maioria no eleitorado. A tarefa é ganhar o meio, ou através de promessas emotivas ao eleitorado, ou através de políticas racionais de recuperação do poder aquisitivo das classes médias. Não é uma tarefa fácil, posto que a economia ruma no sentido contrário, o da concentração de renda.

Não é usual os institutos de pesquisa americanos fazerem uso de indicadores de rejeição aos candidatos, o que em muito facilitaria a análise das eleições. A política tende, hoje, para atitudes mais personalistas do que partidárias.

  1. As campanhas e os debates

Em pleitos apertados, a campanha e os debates tornam-se fundamentais.

Kamala Harris tem a experiência de ter sido Vice-Presidente, mas não tem a experiência de ter concorrido a cargos eleitorais majoritários como cabeça-de-chapa. Trump tem a experiência de ter sido Presidente, mas perdeu as eleições para Biden nas últimas eleições.

Os debates são fundamentais. Trump é assertivo em suas incisões, e Kamala Harris parece ser mais assertiva do que Hillary Clinton e Joe Biden em suas discussões, dado ter sido Procuradora Geral da Califórnia.

Trump tem o “dom” de criar estereótipos em relação aos seus adversários, que instigam o eleitor a estigmatizar seus oponentes no âmbito da consciência coletiva, segundo característica parcial que lhe é estendida. Assim, chamou Hillary Clinton de “nasty woman”, Biden de “sleepy Joe”, e agora refere-se à Kamala Harris como “radical left lunatic”. Kamala Harris poderá vir a contrabalançar, diferentemente dos candidatos anteriores de seu partido e do partido do oponente, em expressões como, segundo um analista, um “hysteric and false person”, ou outra caracterização, sempre assistidos por pesquisas e grupos de discussão. Não se trata do mundo ideal, mas por aí andam as coisas.

A economia favorece a Kamala Harris, a campanha será renhida, e as eleições serão decididas em sua etapa final.

Ricardo Guedes é Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago e CEO da Sensus

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