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Bons vinhos nacionais merecem ser valorizados: veja iniciativa

Ticiana Werner oferece degustação para promover o produto do Brasil. Marco Antônio Salton fala sobre o mercado

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1 de 1 Vinho23 - Foto: Divulgação

Já fui “acusado” de defender o vinho nacional, como se ele precisasse ser defendido, na verdade sou um entusiasta e consumidor do vinho nacional. Minha pretensão é ajudar a acabar com o preconceito que existe, aquele do tipo “não provei, mas não gostei”.

Esta é uma das razões porque me alegro quando vejo uma iniciativa que visa valorizar o vinho do nosso país.

3 taças de vinho com a Chef Ticiana Werner, proprietária do Ticiana Werner Restaurante & Empório, que está iniciando uma série de degustações que tem o objetivo de promover e valorizar o vinho brasileiro

Instagram/Reprodução

Como será este projeto e o que a inspirou para o realizar?
Sempre tive o interesse de trabalhar na valorização do vinho nacional, mas agora em setembro eu participei, em Bento Gonçalves-RS, do segundo Wine South América e lá eu fiquei maravilhada com tanta variedade e qualidade. Participei da rodada de negócios e conheci vários produtores do Brasil inteiro. Fiquei impressionada com os vinhos de São Joaquim-SC. Conversando com vários produtores e enólogos me despertou a vontade de trabalhar mais com o vinho nacional e de mostrar estes produtos para o cliente. Eu percebo que alguns clientes tem preconceito com o vinho nacional e, sem experimentar, acham que é ruim.

Mas não é bem assim! O Brasil já produz muitos vinhos bons, e não só espumantes, mas de todos os tipos, que estão sendo premiados e reconhecidos lá fora, sendo bastante exportados. Mas ainda não estão recebendo o devido valor aqui no Brasil.

Tem a questão do preço e da tributação. Com certeza isso é um pouquinho ruim, mas acho que não é porque é um pouquinho mais caro, R$ 10 ou R$ 20 a garrafa, que se deixará de provar um vinho brasileiro.

Neste trabalho de valorização do vinho nacional, todo o mês teremos uma degustação de uma vinícola diferente. Só vou falhar dezembro por conta das festividades de final de ano. Mas reiniciaremos na segunda quinzena de janeiro.

E quero convidar a todos para apreciarem e prestigiarem o que há de melhor em nosso país em matéria de vinho!

Como os restaurantes podem colaborar para a melhor divulgação da qualidade do vinho nacional e no aumento do seu consumo?
Este desejo de que o nosso restaurante seja reconhecido como mais voltado para o vinho nacional não significa que eu vá deixar de trabalhar com os produtos dos outros países.

Mas, para um restaurante brasileiro, ter uma referência maior ao vinho nacional deveria ser comum, porque quando a gente vai nos outros países, como o Chile e Argentina, 95% da carta é de vinhos deles. Ninguém tem essa diversidade que nós temos aqui no Brasil nas nossas cartas. Mas fazemos assim porque o cliente exige isto da gente.

Se todo restaurante colocasse o vinho nacional em evidência, mudaria o setor vitivinícola do Brasil. De repente poderia influir até na questão dos preços.

Então, através do restaurante, trazendo os produtores e o enólogos das vinícolas eu quero mostrar um pouco disto para os clientes lá do restaurante e para o público aqui de Brasília.

Como será a degustação que abre o Projeto? E o que tem planejado para as próximas, a partir de janeiro?
Teremos nesta primeira degustação, imperdível, oito vinhos da premiada Vinícola Valmarino. Receberemos o enólogo e sócio-proprietário da Valmarino, Marco Antônio Salton, que irá comandar a degustação. Será uma noite regada a bons vinhos, gastronomia de primeira e música de qualidade. ⠀

E tem muitas coisas boas que eu quero mostrar para os clientes e para isto selecionei excelentes vinícolas boutique. Todos estes vinhos vão estar disponíveis na carta do restaurante

Outras três taças de vinho com Marco Antônio Salton. Engenheiro agrônomo, enólogo e sócio proprietário da Vinícola Valmarino.

O que você pode nos falar sobre o atual momento da indústria nacional do vinho?
Estamos enfrentando dificuldades porque os nossos vizinhos, principalmente o Chile e a Argentina são muito fortes aqui no mercado brasileiro, são muito competitivos, tem preços e uma qualidade até boa, além de produzirem grandes volumes.

Depois da China o Brasil é o país que mais importa vinho do Chile e da Argentina, então, dá para ver que eles estão inundando nosso mercado e com isso a indústria nacional vem sofrendo, principalmente as grandes vinícolas, porque nossos custos são maiores também na garrafa, na uva e no frete. Então as grandes estão cada vez mais espremidas devido à competição até “desleal” com o vinho importado.

Também tem a nossa carga tributária que é muito elevada e gera um efeito cascata que vai tornando o vinho cada vez mais caro. Assim o importado chega mais barato ou de igual preço na prateleira e o consumidor tem aquela tendência de optar pelo importado.

Muitos destes vinhos importados são meio-secos e o consumidor não vê, porque está escrito muito pequenininho, e esta certa doçura acaba enganando, sendo confundida com qualidade.

Mas ao mesmo tempo, para as pequenas de vinícolas, tem aquela luz no final do túnel. Elas estão se destacando porque já tem um consumidor que possui uma certa cultura do vinho, que já tomou o vinho de várias regiões e possui um bom conhecimento e que quer vinhos diferenciados.

E estes pequenos produtores estão sobressaindo em qualidade porque conseguem ter um controle melhor de lotes de uva diferenciadas, com vinhos que envelhecem em barricas de carvalho e que possuem um padrão internacional, com um potencial de guarda que chega até a 10 anos. Levantando assim a bandeira da qualidade do vinho brasileiro.

As Confrarias dos consumidores de vinho tem realizado um trabalho muito importante. Nelas tem pessoas com certo conhecimento e estão publicando muita coisa na internet. Realizam degustações às cegas e incluem vinhos brasileiros que, muitas vezes, se sobressaem aos importados de valores muito mais altos no mercado.

Então isso é um alento e nos ajuda. Estamos no caminho certo e temos qualidade. O mercado brasileiro é muito grande e ainda tem condições de crescer.

O mercado de Brasília tem alguma característica especial?
Esta parte do mercado está mais a cargo do meu irmão Guilherme que trabalha aí em Brasília com o Murilo, que é o nosso representante. Eu cuido mais da produção, desde as uvas até a elaboração do vinho. Ainda ajudo na comercialização.

Nos últimos 10 anos o Murilo vem fazendo um trabalho em muitos eventos, diretamente com o consumidor final e com alguns restaurantes. Temos encontrado dificuldade com os restaurantes, porque o vinho importado é muito forte e agressivo com a atuação das grandes importadoras, que fecham a carta de vinhos e não permitem a entrada de vinhos brasileiros.

Então é difícil! Apenas um ou outro restaurante é que abre essa oportunidade. A Ticiana Werner está fazendo um grande trabalho para o vinho brasileiro. Ela já trabalhava com a nossa linha faz tempo.

Vejo que em Brasília tem algumas vinícolas nacionais, que são bem conhecidas, que conseguem vender até um bom volume, mas nós, ano a ano, estamos conquistando o consumidor pela qualidade.

Como é a história da Valmarino? Quais são os seus projetos?
A Valmarino fez 22 anos em setembro. Temos uma produção própria de 21 hectares de vinhedos, com 14 variedades de uvas. Com uma produção que varia em torno de até 200.000 litros de vinho ano, sendo que uma parte dos nossos vinhos é vendido na embalagem bag-in-box e os demais são engarrafados.

Estes últimos são vinhos que envelhecem em barrica de carvalho, bem estruturados e que tem o potencial de guarda de até 10 anos. O Cabernet Franc é o vinho tinto mais premiado da Valmarino. Estamos crescendo bastante na área dos espumantes, com envelhecimento, elaborados pelo método tradicional. E esse é o caminho que pretendemos trilhar nos próximos anos.

Pinto Bandeira (RS) está para conquistar uma Denominação de Origem para a América do Sul, para espumantes elaborados pelo Método Tradicional, o que irá dar um grande impulso para nossa região. Já temos uma Indicação de Procedência para vinhos espumantes desde 2010.

Também o que está nos ajudando muito é o eno-turismo. Estamos recebendo cada vez mais pessoas na nossa vinícola para conhecer os vinhedos, as instalações e degustar nossos produtos. E as pessoas realmente ficam encantadas com os vinho e o local. E estes são os nossos grandes divulgadores

Isto é o que nos possibilita continuar nessa caminhada, que é um sonho já concretizado, mas vamos continuar! Cada vez mais buscando qualidade e com prazer de trabalhar neste ramo.

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