9 dicas para abrir uma garrafa de vinho com segurança e elegância

Vou iniciar esta coluna parafraseando o poeta Ferreira Gullar (1930-2016), que declarou que “a crase não foi feita para humilhar ninguém”. Pura verdade! Trazendo para o mundo do vinho a frase seria: “A rolha não foi feita para humilhar ninguém”. Outra grande verdade!

Mas, para muitas pessoas, o momento que antecede o prazer de degustar o vinho, a hora de tirar a rolha da garrafa, é de receio com o que pode acontecer. Vai ter aquela briga com a garrafa? A rolha não vai querer sair? Vai quebrar? Afundar? Esfarelar? Vai acontecer de se perder a paciência e desistir do vinho? Ou pior, vai se machucar?

As garrafas de vinho podem estar vedadas de diferentes formas, com tampas de rosca (screw cap), vidro ou rolhas, sendo que estas últimas podem ser de cortiça ou sintéticas. A forma de abrir também varia.

Tampas de rosca: moleza! É só girar a tampa até romper o lacre. Se estiver difícil ou muito dura, use o Princípio da Alavanca de Arquimedes (aquele do “dê-me uma alavanca que moverei esta tampa, digo, o mundo”). Firme a tampa com uma mão e com a outra, segure a base da garrafa e a gire no sentido horário.

Tampas de vidro: são muito simples. Após tirar o lacre de plástico, basta puxar a tampa, que pode facilmente voltar a fechar a garrafa.

Rolhas de cortiça ou sintéticas: estas são feitas maiores que o diâmetro do gargalo da garrafa. Uma máquina de pressão aperta a rolha e a empurra para dentro do gargalo, onde se expandem novamente fazendo pressão contra o vidro lacrando as garrafas.

Tem um princípio na Administração que diz que “quem pode mais, pode menos”. Sendo assim, se você sabe sacar uma rolha de cortiça, é lógico que saberá tirar a sintética que oferece menor dificuldade.

Existem diversos modelos de saca-rolhas para abrir garrafas de vinho. O ideal é utilizar um que não exija o emprego de força bruta, nunca o do tipo “bate-coxas” com a garrafa presa entre as pernas.

Então, vamos ver umas dicas simples do antes, durante e depois para abrirmos o vinho. Já aviso que não será com a elegância profissional, mas, com toda certeza, vamos conseguir tirar a rolha.

Aprenda a abrir uma garrafa de vinho sem traumas

Antes
1. Reúna tudo que será necessário: um pano de prato; a garrafa de vinho, que deverá estar limpa, sem pó e seca; as taças limpas e sem cheiro e um saca-rolhas, de preferência o “amigo do garçom” de dois estágios.

Durante
2. Retire a cápsula do vinho, o lacre de papel ou alumínio que envolve o gargalo da garrafa. Rode a lâmina acoplada ao saca-rolhas (ou use uma faquinha comum) ao redor da base da boca da garrafa, onde há um ressalto maior, e tire a parte de cima da cápsula. A opção legal é utilizar um corta-cápsulas (foil-cutter). Ele tem a forma de um “U”, e possui disquinhos de aço que realizam todo o trabalho. Sempre cuidando para que a cápsula não fique em contato com o vinho quando for servido.

3. Passe um pano sobre a rolha, para tirar qualquer poeira ou sedimentos. Examine a superfície, verificando se ela está bem conservada, sem fungos. Caso esteja esfarelando, o saca-rolha deverá entrar atravessado. Posicione a ponta da rosca no meio da cortiça.

4. Centralize a ponta do espiral na rolha. Vá rosqueando o saca-rolhas até que quase todo o espiral entre. Desta forma vamos evitar que a rolha se quebre ao ser retirada. Porém, para evitar que resíduos caiam dentro do vinho, evite “furar” a cortiça. Para isso, pare de rosquear um pouco antes da última curva da rosca.

5. Apoie o primeiro estágio do saca-rolhas na borda do gargalo da garrafa. Com uma mão, segure o apoio do saca-rolhas e com a outra, faça força lentamente para baixo. Isso fará com que a rolha suba e comece a sair.

6. Levante a rolha até que seja possível apoiar o segundo estágio no gargalo da garrafa. Novamente, segure o apoio e com a outra faça força lentamente para baixo, com o maior cuidado para que a rolha não se parta, até que o restante dela saia.

Depois
7. Examine a rolha. Só será necessário cheirá-la quando estiver com uma aparência estranha. Se está úmida, é bom sinal; se está seca, pode ser que o vinho tenha sido armazenado em pé ou que seja muito novo. Na maioria dos casos isto não é bom. Caso se esfarele, pode ser um vinho com uma rolha de má qualidade ou muito velha; se está vazando vinho é mau sinal e o mais provável é que o vinho esteja oxidado e estragado.

8. Coloque um pouco da bebida em uma taça. Observe a cor e o odor do vinho. Prove. Essa análise deverá ser feita pelo dono da casa. Se estiver ruim, só ele fará careta. Também pode pedir auxílio para um convidado que seja conhecedor do assunto. Está ruim? Com cheiro de mofo ou de papelão molhado? Estragado? Com uma cor de tijolo e oxidado? Abra outra garrafa. Está tudo legal? Sirva!

9. Para ajudar a servir sem respingar, use um corta-gotas. Coloque-o na boca da garrafa para evitar que as gotas escorram.

Pronto, o vinho que estava lacrado agora está livre.

“Enquanto está na garrafa, o vinho é meu escravo; fora da garrafa, sou escravo dele.”
Juan Luis Vives (filósofo e escritor espanhol, 1492-1540)