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Tecnologias futuristas já são realidades na medicina “vida real”

Antes tidas como expectativas de um futuro longínquo, inovações tecnológicas já começam a ser incorporadas em tratamentos médicos de ponta

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1 de 1 070617 GB Maquinas Hospital Santa Lucia 001 - Foto: Giovanna Bembom/Metrópoles

Se está complicado acompanhar o ritmo das atualizações do iPhone, imagine o de máquinas, exames, tratamentos e diagnósticos de doenças e procedimentos médicos complexos. A medicina hoje talvez seja o campo onde a tecnologia nada a maiores braçadas.

Abarca aquela parte que você, paciente, não se dá conta — como computadores capazes de diagnosticar quase que sozinhos uma doença, robôs cirurgiões, câmeras tão pequenas que se espremem em veias de calibre mínimo. Mas também está naquilo que você hoje monitora no seu Apple Watch: passos, calorias, horas dormidas. Em (muito) breve, o nível de oxigênio do seu sangue, eletrocardiogramas, temperatura corporal. Segundo as promessas, suas perguntas ao “doutor Google” devem ficar cada vez mais detalhistas.

Antes vislumbres de longo prazo, algumas expectativas futuristas da medicina começam finalmente a virar realidade. Máquinas que imprimem maquetes ósseas de pacientes antes de uma cirurgia de grande porte e aquelas capazes de diagnosticar e operar um doente, quase que simultaneamente, já são realidade — e não em centros gringos de referência inacessíveis a meros mortais. Algumas já estão aqui, instaladas em centros particulares do Distrito Federal, custeadas inclusive por planos de saúde.

Dr. Google, é você?
No último fim de semana, por exemplo, Brasília recebeu o evento Oncologia Integrada que, entre outras coisas, discutiu o uso da chamada computação cognitiva, uma espécie de enciclopédia virtual que reuniria os estudos e achados mais recentes das fontes mais confiáveis do mundo. Ou seja, o computador é dotado de curadoria, o que auxiliaria médicos a escolherem as melhores rotas de tratamento para cada caso, baseado em evidências que, dada a rapidez da evolução do conhecimento, talvez não chegassem até eles a tempo.

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“É um novo player de futuro”, acredita o oncologista Gustavo Fernandes, diretor técnico do Hospital Sírio Libanês em Brasília. “Há 50 anos, a quantidade de informação demorava 50 para dobrar. Hoje duplica a cada ano. Esse valor é assustadoramente alto. As pessoas estão cada vez mais especializadas dentro de suas áreas, então fica difícil acompanhar o ritmo”, analisa.

A computação cognitiva é um vulto antigo na medicina, mas há alguns anos aguardava o momento do seu début na “vida real”. Em 2014, foi apontada no livro “The Guide to the Future of Medicine” (“o guia do futuro da medicina”, em tradução livre), do médico futurista Bertalan Mésko, como o “desenvolvimento mais importante da história de medicina”. Em tempos em que informações de todo tipo de fonte circulam livremente pela internet, vem bem a calhar.

A capacidade de leitura da máquina é muito maior do que a do cérebro humano. O dispositivo ajuda a selecionar as melhores informações e vai ajudar muito o médico a tomar decisões.

Gustavo Fernandes, diretor técnico do hospital Sírio Libanês em Brasília

“É assustador o que ‘os caras’ conseguem fazer. O que você faria em horas, dias, a impressão é que a máquina consegue fazer em coisa de minuto”, continua, sobre uma demonstração da IBM para especialistas na sede do Sírio, em São Paulo, há alguns meses.

Segundo Gustavo, a empresa tem modelos muito próximos da versão final em testes em alguns centros mundo afora e não deve demorar muito tempo para se colocar como uma terceira voz dentro dos consultórios, junto a médico e paciente.

Dois em um
Outra “tendência” do casamento entre medicina e tecnologia apontada por Mésko é o diagnóstico em tempo real na sala de cirurgia — em alguns lugares do mundo essa inovação se tornou realidade. Elevada ao extremo, a técnica envolveria um bisturi chamado “iKnife” capaz de detectar compostos químicos no lugar da incisão e dizer se aquele tecido é maligno ou benigno, tão logo o médico fizesse o corte. A iKnife ainda não está disponível para profissionais da saúde. Mas máquinas que diagnosticam e tratam o paciente quase que de uma tacada, sim.

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A Rede Santa de hospitais, por exemplo, acaba de alocar em uma de suas salas no complexo da Asa Sul um equipamento de hemodinâmica que não apenas permite o diagnóstico de trombose, AVC ou derrames sem o uso de contrastes — o que por si só diminuiria o risco dos procedimentos —, como também serve de guia para médicos operarem seus pacientes em um nível infinitamente menos invasivo do que as técnicas ultrapassadas.

O aparelho é um biplano, ou seja, permite a visão simultânea de ângulos diferentes do ponto-alvo da equipe médica, além de permitir a fusão de imagens de exames do paciente com as geradas ali, durante o procedimento. Diagnóstico e tratamento são feitos na mesma sala, sem a necessidade de deslocamento. Além disso, cirurgias que, em outras condições, seriam realizadas com o paciente aberto e demorariam até quatro horas, são concluídas em não mais do que 60 minutos, por um cateterismo.

“É incomparável o nível de invasão”, resume o cirurgião endovascular Gustavo Paludetto. “Operamos o paciente com um esforço cardíaco muito menor, com um tempo de cirurgia menor e, dependendo do caso, com o paciente acordado e um anestésico local”, compara. O pós-operatório também muda de figura: sete dias de hospital, com alguns bons de UTI, viram dois, às vezes sem a necessidade do cuidado intensivo depois do procedimento. Conta também o nível de radiação ao qual médico e pacientes são expostos: ⅙ da dose apenas.

A máquina, chamada Innova Biplane, é a única da GE no Brasil. Custou cerca de R$ 6 milhões.

O robô de jaleco
Robôs que operam não são a coisa mais nova em medicina, mas as técnicas e usos continuam evoluindo. De acordo com o futurista Mésko, são usados em cirurgias remotas, treinamento cirúrgico pré-operatório, manipulação intraoperatória, simulação e treinamento, entre outros. “Possivelmente, em breve poderemos encontrar salas de cirurgia sem pessoas além do paciente”, ele aposta.

É também a opinião do ginecologista Marco Aurélio Pinho de Oliveira, chefe do ambulatório de endometriose do Hospital Universitário Padre Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O especialista foi um dos primeiros no Brasil a receber o certificado necessário para operar pacientes de endometriose por robótica, um procedimento com não mais do que cinco anos de vida no país.

iStockResumidamente, a cirurgia robótica é hoje o topo de linha para procedimentos ginecológicos extensos, como os de tumores. Parece com a laparoscopia, feita por vídeo e já usada há mais tempo, mas ainda mais evoluída.

“A diferença é que acoplamos um braço e controlamos esse braço por um joystick”, explica o cirurgião. “Fazemos o movimento da mão e o robô replica o movimento lá dentro”. As vantagens: a máquina não treme e não se cansa. Ou seja, a cirurgia é mais precisa e tem menor chance de erro humano. “A gente tem uma visão interna bem melhor e controla os braços com movimentos muito delicados”, acrescenta Oliveira.

Como é menos invasiva do que as técnicas anteriores, ela preserva mais nervos e traumatiza menos os tecidos, o que pode levar a um pós-operatório menos doloroso. Nem se fala mais na técnica convencional hoje (com a paciente aberta). Ela deveria representar menos de 10% dos casos, idealmente, mas infelizmente não é a realidade do Brasil.

O país tem hoje entre seis e oito robôs no Rio e, em São Paulo, 12. Cada um a um custo médio de R$ 10 milhões de instalação. Alguns centros públicos de saúde, como o Instituto Nacional de Câncer do Rio (Inca), já utilizam a tecnologia. A nível de comparação, os EUA têm mais de 2,5 mil robôs em funcionamento.

Confira outras tendências tecnológicas que são apostas do futurista Bertalan Meskó para a medicina:

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Diagnósticos portáteis: os smartphones também seriam território de diagnósticos remotos, não importa onde o paciente esteja. Com capacidade de coletar e armazenar dados sobre o estado do paciente, Meskó acredita que esses aparelhos serão o centro da medicina no futuro próximo e servirão como um painel de cuidados com a saúde.
Criogênese: está no rol das possibilidades há muito discutidas e sobre as quais a lista de polêmicas é infinita. Algumas pessoas inclusive já contrataram serviços de empresas especializadas em criogenização de corpos, com esperança de que poderão ser trazidas de volta à vida no futuro. Além dos entraves técnicos, fazer essa promessa virar realidade ainda envolveria discussões sobre superpopulação e pobreza, por exemplo.
Upload da mente: a série "Black Mirror", da Netflix, já abordou o assunto algumas vezes, assim como o livro "You Tomorrow". Basicamente, seria possível criar "egos digitais" com informações neurológicas de um indivíduo, prolongando sua vida ao infinito, pelo menos virtualmente.
O fim das cobaias: a tendência é descrita pelo futurista como "organ-on-a-chip". Em resumo, pequenos chips, como o da foto, seriam capazes de reproduzir as funções de órgãos do corpo (o da foto é o de um pulmão), dispensando assim cobaias vivas para testes de novas drogas e protocolos. Serviriam como espécies de "pacientes virtuais". Não deve demorar muito a virar realidade.
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A saúde gamificada: a aposta é que aplicativos de jogos projetados para serem usados em smartphones ajudem médicos e pacientes a controlarem suas doenças. Os games poderiam motivar o paciente a coletar dados sobre suas atividades rotineiras e sobre seu estado de saúde. Assim, ele e seus médicos conseguiriam tomar decisões melhores para o tratamento. Meskó estima que 50% dos pacientes crônicos não sigam à risca o tratamento passado pelo médico.

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Diagnósticos portáteis: os smartphones também seriam território de diagnósticos remotos, não importa onde o paciente esteja. Com capacidade de coletar e armazenar dados sobre o estado do paciente, Meskó acredita que esses aparelhos serão o centro da medicina no futuro próximo e servirão como um painel de cuidados com a saúde.

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Criogênese: está no rol das possibilidades há muito discutidas e sobre as quais a lista de polêmicas é infinita. Algumas pessoas inclusive já contrataram serviços de empresas especializadas em criogenização de corpos, com esperança de que poderão ser trazidas de volta à vida no futuro. Além dos entraves técnicos, fazer essa promessa virar realidade ainda envolveria discussões sobre superpopulação e pobreza, por exemplo.

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Upload da mente: a série "Black Mirror", da Netflix, já abordou o assunto algumas vezes, assim como o livro "You Tomorrow". Basicamente, seria possível criar "egos digitais" com informações neurológicas de um indivíduo, prolongando sua vida ao infinito, pelo menos virtualmente.

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O fim das cobaias: a tendência é descrita pelo futurista como "organ-on-a-chip". Em resumo, pequenos chips, como o da foto, seriam capazes de reproduzir as funções de órgãos do corpo (o da foto é o de um pulmão), dispensando assim cobaias vivas para testes de novas drogas e protocolos. Serviriam como espécies de "pacientes virtuais". Não deve demorar muito a virar realidade.

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