Sedentarismo: ficar sentado é o “novo fumar”, diz médica americana
Enquanto o tabaco era a preocupação nacional nas décadas anteriores, o tormento atual é a obesidade, consequência da falta de exercícios
atualizado
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A maioria da população trabalha, até oito horas por dia, sentada em frente a um computador. Não consegue encontrar nem um tempinho para dar aquela esticada nas pernas. Nesta era tecnológica em que vivemos, muitos empregos envolvem pouca ou quase nenhuma atividade física, trazendo riscos para a saúde de quem passa muito tempo na mesma posição.
E o pior: quando o jovem trabalhador chega em casa, costuma se deitar para assistir à televisão e relaxar, até a hora de dormir, ou fica horas mexendo no celular. Dificilmente pratica atividades físicas com regularidade.
“Atualmente, já é possível fazer uma conexão de que, quanto mais tempo a pessoa passa sentada, maior é o risco de mortalidade por doenças ligadas ao peso e à falta de exercícios. Para essa geração, ficar sentado é o ‘novo fumar’”, disse a doutora Rita Raman, médica neonatologista pela Universidade de Oklahoma, no 21° Congresso Brasileiro de Nutrologia, realizado no fim de setembro, em São Paulo.
Quem fica muito tempo sem esticar a perna ou mexer o corpo pode desenvolver distúrbios cardiovasculares, diabetes, osteoporose e até câncer. Mas a principal consequência, sem dúvida nenhuma, é a obesidade.
Nas últimas décadas, campanhas de conscientização têm ajudado a diminuir o consumo de cigarros. Entre 1990 e 2015, a porcentagem de fumantes diários no Brasil caiu de 29% para 12%, entre homens, e de 19% para 8% entre mulheres.
Em compensação, a obesidade cresceu entre 2006 e 2016. O índice de brasileiros com a doença passou de 11,8% para 18,9%. O número aumenta com o avanço da idade, mas, mesmo entre pessoas de 25 a 44 anos, permanece alto: 17%. Um dos motivos para o aumento dessa estatística é o sedentarismo.
Os maiores índices foram encontrados nos corpos dos voluntários que ficavam mais tempo sentados. Segundo os pesquisadores, quase metade dos homens disse passar três quartos do dia em uma cadeira, enquanto apenas 13% das mulheres relatou tal circunstância.
Para a doutora Maria Cristina Jimenez, presidente da Sociedad Paraguaya de Nutrición (SPN), o combate à obesidade requer uma equipe multidisciplinar.
“Médicos nutrólogos, endocrinologistas, cardiologistas, psicólogos e nutricionistas devem se unir no combate da doença. Uma pessoa que reduz o peso de 5% a 10% promove uma melhora corporal em curto prazo, porém a homeostase energética – interação metabólica responsável por manter a energia do corpo para sobrevivência em curto e longo prazo – nunca será a mesma entre ex-obesos e magros”, diz Jimenez.
O urologista Rafael Buta, da Aliança Instituto de Oncologia, acrescenta que o sedentarismo também está relacionado a cânceres de vários tipos. “Não é a causa direta, mas está relacionado a provenientes do câncer. O de próstata, por exemplo, tem como causa o sedentarismo e a obesidade”, diz.
Outro ponto apontando pelo especialista é que homens costumam ter uma queda de testosterona aos 40 anos – no entanto, os sedentários têm uma perda muito maior do hormônio. Ou seja, sofrem mais com disfunção erétil e diminuição de libido.
Assim como com o tabagismo, a mudança deve ser gradual: transformar a cultura, incentivar o indivíduo a se exercitar e mudar a organização dos escritórios. Sérgio Borges, especialista em arquitetura corporativa há 18 anos, diz que o mercado está mudando, e grandes empresas já se preocupam com os funcionários, buscando alternativas para a triste realidade das repartições.
“Já existe uma mesa que, por meio do acionamento de um botão, sobe com seu computador, anotações, tudo para você trabalhar um tempo em pé. São as ‘standing desks’. Outra tecnologia disponível é uma cadeira com bicicleta ergométrica acoplada. São soluções para forçar as pessoas a ficarem mais ativas [imagens na galeria abaixo]”, diz o diretor da skborges.
As novas bancadas tecnológicas podem ser encontradas em Brasília e chegam a ser até quatro vezes mais caras que as mesas tradicionais. “Vale o investimento. O empregador percebe isso ao ver os funcionários pedindo menos licença médica e trabalhando mais focados”, fala Sérgio.
Estudos da Universidade de Chester, na Inglaterra, apontam que trabalhar em pé, entre duas e três horas por dia, gera uma perda média de oito quilos por ano e, ainda, combate o estresse do trabalho. Ou seja, levante já o seu bumbum da cadeira e vá dar uma voltinha!