Rótulo dos alimentos pode mudar e Anvisa deve lançar consulta pública
Indústria e governo ainda divergem sobre o modelo do alerta, mas a ideia é que excesso de açúcar, sódio e gordura saturada seja denunciado
atualizado
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São Paulo – A embalagem da sua comida pode mudar em breve. Seguindo uma tendência internacional de alimentação mais saudável e de mais informação ao consumidor, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deve disponibilizar uma consulta pública para decidir se alimentos industrializados deverão trazer as quantidades de sódio, açúcar e gorduras saturadas em destaque na frente do pacote.
Segundo João Dornellas, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia) e membro da Rede Rotulagem (grupo que reúne 22 entidades ligadas ao setor de alimentos e bebidas), a versão sugerida pela indústria é a que imita um semáforo e mostra a quantidade em gramas de cada um dos macronutrientes de acordo com a porção. As cores do sinal, verde, amarelo e vermelho, indicariam ao consumidor se a quantidade é considerada excessiva, mediana ou baixa em cada alimento. Segundo uma pesquisa do Ibope Inteligência, o modelo é preferido por sete em cada 10 brasileiros.
Outros países, como o Chile, adotam uma marca preta ou vermelha que faz o mesmo alerta, mas sem dizer quanto exatamente de cada componente nutricional está presente no produto. Esse era o modelo defendido pela Anvisa, apoiado por associações como Unicef e Opas. Segundo o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), os produtos que receberem o triângulo preto ficariam proibidos de fazer publicidade voltada a crianças e não poderão exibir informações nutricionais complementares.
Além de empoderar o consumidor, a ideia é que a indústria se movimente para aumentar a pesquisa e melhorar os índices sem transformar completamente o sabor do produto – afinal, um biscoito que recebesse sinalizações vermelhas ou pretas de açúcar e gorduras saturadas em excesso, por exemplo, pode perder compradores.
Alimentação e exercício
De acordo com um levantamento do Instituto Ideafix de Pesquisas feito em novembro de 2018, o brasileiro sabe muito bem que é preciso adotar uma alimentação saudável e praticar exercícios físicos regularmente – porém, não chega a colocar o plano em prática.
Cerca de 95% dos 660 entrevistados afirmam ter algum grau de preocupação com a própria saúde; 92,4% citam a dieta equilibrada como fator importante para manter uma boa saúde e 85,6%, a prática de exercícios. Mas quando questionados sobre os hábitos que interferem diretamente na própria saúde, apenas 45,7% mencionam a falta de alimentação saudável e 52,3%, a pouca quantidade de atividades físicas no dia a dia.
“O consumidor está bem informado, mas é difícil mudar hábitos, sair da zona de conforto e seguir sem um entorno que facilite a mudança”, explica a nutricionista Vanderli Marchiori. Outro ponto citado pela especialista é o receio de ser julgado por amigos e família.
Nesse contexto, uma nova rotulagem, mais clara, seria importante para garantir que a população seja capaz não só de controlar a própria dieta, mas também de decidir sobre alimentos consumidos com pouca frequência.
“Alimentação não é remédio nem veneno. É essencial aprender a diminuir as porções”, afirma o educador físico e apresentador Marcio Atalla. Ele e Vanderli ensinam que o ideal não é cortar nutrientes do cardápio e sim fazer escolhas conscientes e equilibradas sobre o que chega ao prato, sem necessidade de eliminar um grupo completamente (no caso de indivíduos saudáveis).
O apresentador lembra, ainda, que os novos rótulos com mais informação são interessantes, mas é preciso falar sobre exercícios físicos – de acordo com ele, ainda não há políticas públicas que visam inserir a atividade no dia a dia do brasileiro e, apesar de o país já ter uma população interessada em se alimentar de forma saudável, ainda é a quarta nação mais sedentária do mundo.
A repórter viajou à convite da Rede Rotulagem