Prato saudável: alimentação infantil preocupa pais e mobiliza escolas
Redes públicas sofrem com merendas reforçadas enquanto instituições privadas fazem acompanhamento com alunos
atualizado
Compartilhar notícia
“Ele nunca comeu um biscoito recheado.” A frase dita pela mãe parece chocante, mas ilustra o cardápio do pequeno Daniel Guilherme, de 9 anos. O filho de Kelly Josiane Souza Prado, 44, é estudante do Ceneb, em Ceilândia, instituto que se preocupa com a alimentação das crianças e ajuda Kelly no processo de educar o filho de forma saudável.
Embora seja instruído pela escola a ter uma alimentação livre de açúcares e gorduras, o próprio Daniel recusa um lanche nesses moldes, como conta Kelly. Tudo começou quando a mãe precisou dar frutas ao filho após ele não se adaptar ao leite integral, aos 3 anos. Desde então, acostumado, Daniel passou a ser exemplo para amigos e familiares.
Apesar do prato recheado de folhas e dos lanches “light” na escola, Daniel tem seus momentos de escape. Isso porque, de acordo com Kelly, a rotina pesada do dia a dia não permite que todos os alimentos consumidos por Daniel sejam saudáveis. No lanche da tarde, por exemplo, o garoto – que nunca comeu um biscoito recheado e não se interessa por pizza – recorre a sucos industrializados e petiscos, como pão de queijo.
Na escola em que estuda, Daniel e os colegas participam, junto a professores, de projetos em prol da boa alimentação. Conforme Kelly, um dia da semana é reservado ao “prato saudável”, no qual o aluno deve lanchar uma fruta no período da manhã — horário em que o garoto frequenta a instituição de ensino.
Sobrepeso, preocupação e cuidados
A realidade de Daniel, no entanto, está muito longe da de várias crianças espalhadas pelo mundo. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em parceria com a Imperial College London, o número de crianças obesas cresceu consideravelmente nas últimas quatro décadas e, em 2016, pessoas de 5 a 10 anos com sobrepeso somavam 213 milhões.
Diferentemente do filho de Kelly Prado, o herdeiro da assistente jurídica Glênia Souto, Daniel Santos Silva, 12 anos, sempre conviveu com sobrepeso. A preocupação com o prato de seu terceiro filho fez com que Glênia mudasse completamente o cardápio dele.
Segundo a mãe, ela não tinha conhecimento acerca de restrições de doces e gorduras em relação ao menino. “Eu evitava certos alimentos, como refrigerante, mas em festinhas e ocasiões especiais liberava. A alimentação dele piorou quando passou a ficar mais tempo com o pai e consumir mais comidas rápidas”, revela Glênia. “Hoje, buscamos não comer alimentos industrializados e sempre compro frutas e legumes frescos para preparar em casa.”
Atenção nas escolas
Mesmo com os bons hábitos repassados dentro de casa, é importante lembrar que crianças e adolescentes fazem pelo menos uma refeição na escola. O cuidado de redes privadas, segundo a nutricionista Débora Campos Oliveira, do Grupo Educacional Colinho de Mãe, em referência à saúde dos alunos é maior que o visto em redes públicas, que chegam a sofrer com falta de merenda.
“Os lanches de escolas públicas são mais reforçados porque as crianças são mais carentes”, observa Débora, que atenta para o exagero de açúcares e gorduras nestas refeições. Ela diz ainda que o cardápio da rede pública — assim como de locais privados — é acompanhado por uma nutricionista, “mas não é completo”.
Débora aponta, apesar disso, a existência de crianças “que não fazem refeição na escola e apresentam sobrepeso”, referindo-se aos cuidados caseiros promovidos pelos pais. Na escola em que atua, a nutricionista afirma conversar com responsáveis sobre a situação de saúde dos alunos e dar dicas de reeducação alimentar.
Em busca do prato saudável
Mas afinal, qual seria a refeição ideal para crianças e adolescentes em um lanche pela manhã, por exemplo? Segundo Débora Campos, carboidratos, proteínas e sucos naturais podem balancear a dieta de quem está acima do peso. E para quem segue com a rotina saudável, como Daniel Guilherme, os componentes continuam sendo essenciais.
Portanto, pães – incluindo sanduíches naturais -, vitaminas e até iogurtes são opções na hora de preparar a lancheira da criança. Em casa, os componentes podem variar, mas na hora do almoço Débora explica que alimentos reguladores – como vegetais – e energéticos garantem até um aprendizado melhor. Frutas são ótimos pedidos para sobremesa.
O maior vilão é o açúcar
A respeito do alimento relacionado ao aprendizado, Débora diz que a atenção da criança é determinada segundo o que é consumido. Portanto, para garantir boas notas, açúcares devem ser excluídos, já que é o componente que mais deixa alunos dispersos.
“É fácil perceber que o açúcar interfere no jeito como o menino ou menina se comporta”, informa a pedagoga Renata Mendes Carvalho Neves, da Unidade Baby.
“Em crianças com alto consumo de açúcar, notamos que elas ficam mais agitadas. Nossa experiência com a ausência de açúcar é que, por estarem mais calmas, aceitam melhor a convivência com outras crianças, com educadores e recebem melhor a introdução de conteúdos”, conclui a especialista.