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Mulher-Maravilha: aleitamento materno no Brasil é referência mundial

O nutriente é imprescindível nos primeiros meses de desenvolvimento do bebê

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No Brasil, apenas 36,6% das crianças com até seis meses de vida recebem exclusivamente aleitamento materno. Os dados são de 2013, mas o número cresceu muito e a estatística para 2017 deve subir pelo menos mais cinco pontos percentuais.

Apesar de baixo, o índice é referência mundial. A porcentagem é tão acima da média global que inspirou até estudo na prestigiada Escola de Saúde da Universidade de Yale. A pós-doutoranda brasileira Gabriela Buccini faz parte da equipe idealizadora do projeto Becoming Breasfeeding Friendly (Se Tornando Amigável à Amamentação, em tradução livre). O programa mede a situação do aleitamento exclusivo em vários países para criar um índice e definir se o país está pronto ou não para evoluir em programas de amamentação.

“O BBF tem sido um grande aprendizado para nós, especialmente na hora de propor ações que precisam levar em consideração os gargalos específicos de cada nação — em financiamento ou questões culturais”, afirma Gabriela.

Entendendo o índice
A médica Rossiclei Pinheiro, do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explica que as regiões mais pobres do país costumam ter indicadores mais favoráveis à amamentação. “É complexo avaliar, mas a questão financeira é muito importante. O leite materno é gratuito. Em outras regiões mais ricas, existe acesso e opção a outro tipo de alimento”, conta.

Algumas estratégias usadas pelo governo também são importantes para explicar o aumento da porcentagem. Os 385 Hospitais Amigos da Criança espalhados pelo país — grupo de estabelecimentos públicos e privados comprometidos em incentivar a amamentação desde a hora do parto — se tornaram fundamentais. Neles, não se oferece chupeta, mamadeira ou fórmulas artificiais e uma equipe multidisciplinar ajuda as mães neste primeiro momento. O banco de leite materno também é importante para aquelas que não conseguem amamentar.

O maior entrave quando se fala em aleitamento é a dificuldade que as mães têm em amamentar. “Às vezes, o bebê não consegue se encaixar para sugar de forma eficaz, a mãe tem fissura nas mamas, sente dor. A criança acaba não ganhando peso e, por causa disso, os pais optam pela fórmula. Um profissional de saúde para dar suporte a ela e orientar a família é fundamental”, afirma Nathalia Sarkis, pediatra do Centro de Medicina Fetal do Hospital Santa Lúcia. A falta de informação sobre a importância do aleitamento também contribui para a mãe desistir de amamentar integralmente o filho.

Outro problema é que as mães precisam voltar ao trabalho antes dos seis meses do parto e são obrigadas a abandonar o aleitamento exclusivo e complementar a alimentação com fórmulas. Apesar da licença maternidade obrigatória, nem todas têm direito a 180 dias em casa e as autônomas raramente podem ficar tanto tempo longe do emprego. A ausência de planejamento familiar também é um empecilho: muitas mães acham ser preciso parar de amamentar quando ficam grávidas novamente.

Mas, além de conscientizar as mães da importância do aleitamento, é preciso acabar com o julgamento por parte da sociedade. Muitas ainda ficam envergonhadas por ter de amamentar em público, e procuram locais específicos e escondidos quando deveriam ficar à vontade em qualquer lugar.

“O Ministério da Saúde também vem fazendo campanha há muito tempo. A Sociedade Brasileira de Pediatria tem fortalecido muito a questão com divulgação. É preciso sensibilizar a sociedade para que a comunidade se sinta estimulada a cuidar desses bebês nos seis primeiros meses”, afirma Sandra Lúcia Andrade, pediatra neonatologista e coordenadora do Centro de Medicina Fetal e Gestação de Alto Risco do Hospital Santa Lúcia.

Importância do aleitamento materno exclusivo
Nos seis primeiros meses de vida do bebê, o leite materno é a melhor opção de alimentação por ser cheio de nutrientes, sais minerais, vitaminas, lipídios e anticorpos da mãe. Ele é suficiente para o desenvolvimento da criança. “Traz benefício imunológico e nutricional, além de ajudar a prevenir doenças respiratórias, alérgicas, diabetes e obesidade infantil no futuro. E ainda estimula o contato e vínculo com a mãe”, explica Nathalia Sarkis.

Ao contrário do senso comum, mães com infecção urinária, bacteriana ou mastite (inflamação nas mamas que pode acontecer nos primeiros dias) não estão contraindicadas a amamentar. “São poucas as que não podem oferecer aleitamento. Mulheres HIV positivas, infectadas por vírus HPLV-1 (pode desencadear leucemia no futuro), ou passando por quimioterapia não devem amamentar. Bebês com intolerância à lactose também precisam de outras opções”, ensina a doutora Rossiclei.

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