Composto que dá cor à beterraba pode inibir mal de Alzheimer
Estudos anteriores sugeriam que o suco da raiz pode melhorar o fluxo de oxigênio no cérebro
atualizado
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Um estudo realizado por cientistas americanos revelou que a betanina — composto que dá cor à beterraba, ajuda a reduzir o acúmulo de proteínas “mal dobradas” no cérebro — um processo associado à doença de Alzheimer. Segundo os autores, a descoberta poderá levar ao desenvolvimento de drogas que podem aliviar os efeitos de longo prazo da doença.
Os resultados do estudo, realizado por pesquisadores da Universidade do Sul da Flórida (Estados Unidos) foi apresentado na terça-feira (20/3), no encontro nacional da Sociedade Americana de Química.
“Nossos dados sugerem que a betanina, um composto presente no extrato de beterraba, pode ser promissor como inibidor de certas reações químicas no cérebro, envolvidas com a progressão da doença de Alzheimer”, disse o autor principal do estudo, Li-June Ming.
“É apenas um primeiro passo, mas nossa descoberta, esperamos, pode estimular outros cientistas a buscar por estruturas semelhantes à betanina. Elas podem ser utilizadas para sintetizar drogas possíveis de tornar um pouco mais fácil a vida daqueles que sofrem dessa doença”, declarou Ming.A ciência ainda está tentando descobrir a causa da doença de Alzheimer — um tipo de demência progressiva e irreversível –, mas uma das principais hipóteses é que o desenvolvimento da enfermidade tenha relação com o peptídeo beta-amiloide, um fragmento de proteína que se acumula no cérebro, rompendo a comunicação entre as células cerebrais, chamadas neurônios.
A maior parte desse dano, segundo Ming, ocorre quando a proteína beta-amiloide se liga a metais como ferro ou cobre. Eles podem levar os peptídeos beta-amiloides a se “dobrarem” de forma errada, fazendo com que se acumularem em aglomerados capazes de promover inflamação ou oxidação — um processo semelhante à produção de ferrugem — em neurônios adjacentes, levando-os à morte.
Estudos anteriores conduzidos por outros grupos de cientistas sugeriam que o suco de beterraba pode melhorar o fluxo de oxigênio em um cérebro em processo de envelhecimento, promovendo provável melhora do desempenho cognitivo.
Ao realizar a nova pesquisa, os cientistas liderados por Ming queriam descobrir se a betanina — composto da beterraba utilizado comercialmente como corante, que tem a propriedade de se ligar a metais — seria capaz de bloquear os efeitos do cobre nas proteínas beta-amiloides, impedindo que elas se dobrem de forma anômala e, assim, evitem a oxidação dos neurônios.
Em estudos feitos em laboratório, os cientistas conduziram uma série de experimentos envolvendo o DTBC, um composto utilizado como substância modelo para estudar a química da oxidação. Utilizando espectrofotometria visível, os cientistas mediram a reação oxidativa do DTBC quando exposto apenas à beta-amiloide ligada ao cobre e a uma mistura de beta-amiloide com cobre e betanina.
Sozinha, a beta-amiloide causou pouca ou nenhuma oxidação do DTBC. No entanto, como esperado, a beta-amiloide ligada ao cobre induziu a uma considerável oxidação do composto. Porém, quando a betanina foi adicionada à mistura, os cientistas descobriram uma queda de 90% na oxidação, indicando que a anomalia na estrutura do peptídeo havia sido suprimida.
“Não podemos dizer que a betanina detém completamente o problema dos peptídeos dobrados de forma anômala, mas ela reduz a oxidação. Menos oxidação pode evitar a dobra errada dos peptídeos até certo ponto — talvez até retardar o acúmulo de peptídeos beta-amiloides, o qual acreditamos ser a principal causa do Alzheimer”, disse Ming.