Boicote à pílula anticoncepcional chega às academias
Mulheres que praticam musculação acreditam que o método contraceptivo atrapalha a hipertrofia e a perda de gordura. Especialistas comentam
atualizado
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A pílula anticoncepcional entrou no mercado em 1960, representando verdadeira revolução sexual, autonomia sobre o próprio corpo e liberdade de escolha para as mulheres do mundo ocidental. Apesar de ter evoluído com o passar das décadas, o medicamento é rodeado por polêmicas. A mais recente acredita que o uso do método contraceptivo tem influência direta no desempenho das mulheres na academia, prejudicando o ganho de massa magra, hipertrofia, perda de gordura e emagrecimento.
A influenciadora digital do meio fitness e modelo, Bruna Corrêa, 26 anos, levantou a discussão em sua conta no Instagram há duas semanas e, desde então, tem recebido mensagens de várias mulheres do país que se identificaram com ela. Para Bruna, o assunto já é muito falado nas academias, mas as pessoas evitam trazer o tema à luz para não influenciar outras mulheres a tomarem decisões sem acompanhamento médico.
“É complicado incentivar mulheres e meninas a não fazerem o uso, pois também existe uma responsabilidade grande por outro lado, que é evitar a gravidez”, revela. “Mas não adianta treinar para caramba, tomar Whey Protein e se alimentar direito, se a gente toma a pílula. Isso atrapalha muito uma pessoa na busca por um ‘corpo de academia'”.
Bruna lembra que interrompeu o uso do anticoncepcional no último verão por uma questão de saúde e logo percebeu melhora no desempenho dos treinos e resultados na forma física. “Muitas mulheres relatam que pílula as deixam mais cansadas, preguiçosas e inchadas”, acredita.
A modelo faz acompanhamento com um grupo de profissionais – ginecologista, nutricionista, endocrinologista e personal trainer – desde dezembro, em Porto Alegre. Desde então, ela fica monitora os níveis hormonais com exames de sangue. Há dois meses, ela decidiu interromper a menstruação novamente com a injeção anticoncepcional trimestral, sem orientação médica. “Foi como uma bomba. Fiquei muito inchada!”, lembra.
Prós X Contras
A nutricionista funcional e oncológica da Aliança Instituto de Oncologia Michelle Mendes explica que a testosterona e o estradiol são fundamentais no processo de lipólise, a queima da gordura. “Como o anticoncepcional acaba prejudicando o fluxo dessas duas substâncias no organismo, a pílula e os efeitos dela podem atrapalhar o processo de emagrecimento”.
Segundo ela, o uso do anticoncepcional sempre foi bastante questionado por mulheres que buscam qualidade de vida e saúde.
A ginecologista Juliana Dytz, da Aliança Instituto de Oncologia, avalia que o uso do anticoncepcional aumenta a produção do hormônio sexual SHBG – globulina produzida no fígado ligada aos hormônios –, provocando a redução da testosterona livre, refletindo diretamente na dificuldade para ganhar músculos e perder gordura.
Juliana alerta, no entanto, que o assunto deve ser levado a sério, considerando os prós e contras de abolir o uso do método contraceptivo em busca do corpo ideal. “Estamos falando de um medicamento, usado por vários motivos, prevenir uma gravidez indesejada ou tratar uma patologia. A paciente precisa avaliar o que é mais importante para ela: a saúde ou ter o corpo considerado perfeito”, pondera a ginecologista.
A médica não acredita que as mulheres devam se preocupar tanto com o assunto, a menos que sejam atletas e o percentual de gordura do organismo seja decisivo para o bom desempenho em competições. Ela lembra, inclusive, que algumas esportistas profissionais buscam pelo método contraceptivo para interromper a menstruação por longos períodos, evitar anemias, cólicas e outros mal-estares do período menstrual.
“Não é o uso de anticoncepcional que vai influenciar significativamente nisso. A dificuldade em perder gordura ou ganhar massa pode ser contornada com a intensificação do treino e dietas mais específicas”, aponta.
O nutricionista esportivo Vinicius Lacerda confirma que cada vez mais recebe pacientes entre 20 e 30 anos no consultório relatando falta de disposição e energia ao longo do dia, piora na qualidade do sono, diminuição de libido, dificuldade em ganhar massa muscular e perder gordura, assim como aumento de flacidez e celulite.
Lacerda explica que não se pode associar todos esses sintomas exclusivamente ao uso do método contraceptivo. O ritmo da rotina e o estresse, por exemplo, interferem diretamente nesses sinais. Contudo, exames hormonais mostram que mulheres medicada com a pílula apresentam queda nos níveis de testosterona.
“As mulheres produzem naturalmente entre dez e 15 vezes menos testosterona do que os homens (entre 40 e 70 miligrama de hormônio por decilitro). Em algumas pacientes que fazem uso da pílula, a dosagem chega a 20 miligramas de hormônio por decilitro. Isso é muito baixo”, sinaliza o especialista. Essa é a realidade de sete em cada dez pacientes atendidas por ele.
Ele indica que há sim a possibilidade de aumentar os níveis de testosterona de forma natural como uma alternativa. “Há vários estudos apontando o fato de uma dieta rica em gordura ajudar na produção de testosterona; o uso orientado de fitoterápicos podem estimular a produção endógena, ou seja, do próprio corpo, do hormônio; e treinos específicos direcionados por um personal trainer também são opções válidas”. O importante é buscar acompanhamento profissional caso decida usar ou não o anticoncepcional.