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Vítimas do PMMA: retirada do produto exige cirurgias plásticas

O PMMA gera deformações e é extremamente difícil de remover. Produto adere aos músculos e nervos e solidifica, dificultando a retirada

atualizado

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Montagem/Reprodução/Acervo Pessoal
Vítimas do PMMA: mulheres relatam dor e arrependimento após a técnica
1 de 1 Vítimas do PMMA: mulheres relatam dor e arrependimento após a técnica - Foto: Montagem/Reprodução/Acervo Pessoal

Aplicado muitas vezes sem o consentimento das pacientes que tentam passar por harmonização facial ou por procedimentos para remodelar o corpo, o polimetilmetacrilato (PMMA) é responsável por causar dores, inflamações e deformidades nas vítimas.

O PMMA é um gel plástico que se adere ao corpo como um chiclete, se juntando aos músculos e nervos depois que é injetado. Ele não é absorvido pelo corpo, como ocorre com o ácido hialurônico ou o colágeno — enzimas específicas são capazes de remover os produtos caso ocorra algum problema ou o paciente não goste do resultado. Não é o caso do PMMA.

Quando a substância se adere, ela se solidifica e, nos casos em que inflama ou infecciona, pode comprometer inclusive o sistema vascular, nervoso e renal. Porém, existem poucas opções para o paciente que precisa tirar o produto do corpo.

A recomendação mais tradicional é retirar o PMMA em cirurgia. Os médicos conseguem remover a maior parte do produto, mas não é possível fazer uma limpeza total.

“Uma das únicas formas de remover o PMMA é através da remoção cirúrgica, o que muitas vezes pode causar dano estético ao paciente, já que parte dos tecidos também precisariam ser removidos. O que fazemos, muitas vezes, é a remoção parcial do preenchedor para minimizar esses efeitos”, explica a cirurgiã plástica Maria Roberta Martins, representante da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Por isso, os pacientes muitas vezes precisam passar por várias cirurgias plásticas para retirar o máximo possível do produto, o que aumenta as cicatrizes e diminui a qualidade de vida, já que precisam ficar longos períodos internados. É o caso da funkeira Letícia Minacapelly, de 28 anos, que já passou por seis cirurgias para tentar retirar o PMMA que está em seus glúteos.

“Estou há 22 dias internada depois do último procedimento. Só consegui retirar o dreno no sábado (29/6). Mesmo estando internada para tratar as infecções, já sei que terei que fazer uma sétima cirurgia para tentar remover mais PMMA. Continuo lutando pela minha vida”, lamenta.

Foto mostra o antes e depois de Leticia Minacapelly, mulher que foi vítima do PMMA
Antes e depois de Leticia Minacapelly. Um médico aplicou PMMA tentando corrigir um problema nos glúteos da jovem, mas a situação só piorou

Alternativas além da cirurgia

Como a intervenção feita no centro cirúrgico é radical e muitas vezes precisa ser repetida, a comunidade médica procura outras opções menos invasivas para retirar o PMMA das pacientes.

Uma das alternativas sendo testadas é a aplicação do citrato de tofacitinibe, substância que parece ser capaz de diminuir a inflamação sem afetar a musculatura. O uso do medicamento, utilizado tradicionalmente para tratar artrite reumatoide grave, ainda está em testes, mas já apresentou bons resultados em pesquisas feitas, inclusive, no Brasil.

Uma delas foi conduzida pela professora de dermatologia Mayra Ianhez, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Em um estudo de caso que deve ser publicado em breve no Indian Journal of Dermatology, os médicos brasileiros conseguiram remover nódulos inflamados de uma paciente em São Paulo com a substância.

A mulher de 59 anos, que não foi identificada, teve sarcoidose (formação de células inflamatórias anormais no corpo) por conta da aplicação de PMMA. O produto foi injetado no nariz da paciente e a inflamação acabou se espalhando para os pulmões.

O tratamento, que está sendo feito desde fevereiro de 2023, já mostrou resultados animadores, mas não foi pensado para retirar o produto e, sim, para reduzir a inflamação dos tecidos. “Não existem tratamentos confirmados ainda sobre a retirada do PMMA sem cirurgia. O que sabemos é que é possível controlar a inflamação usando corticoides, mas tudo ainda está em estado inicial”, explica Mayra.

Laser contra PMMA

Outra terapia experimental com resultados promissores é a remoção do produto com um laser especial. A alta temperatura de alguns laseres específicos, como o Endolaser, parece ser capaz de tornar o PMMA líquido e maleável, permitindo a retirada de pequenas quantidades que seriam aspiradas ou retiradas com seringa.

A técnica foi criada em 2009 pelo cirurgião italiano Daniel Cassuto para retirar nódulos aparentes do PMMA quando não há inflamações. Porém, o equilíbrio é arriscado: a remoção com laser é complicada e tem várias dificuldades.

É preciso evitar queimar a pele do paciente e aspirar o produto rapidamente para evitar que ele se desloque, se inflame e gere ainda mais complicações.

O trabalho delicado tem sido feito experimentalmente no Brasil pela cirurgiã-dentista Layla Dias, que atua com 20 pacientes voluntárias do grupo Vítimas da Bioplastia para tentar minimizar as deformações.

“O laser consegue elevar a temperatura do plástico tornando-o passível de aspiração, mas é um tratamento feito a longo prazo. Conseguimos retirar pequenas quantidades do produto, mas precisamos atuar com cuidado para não machucar a pele. O PMMA é uma bomba-relógio e, sem conhecimento, aplicar laser pode piorar o cenário. Por isso, o procedimento é feito com um protocolo e profissionais treinados”, explica Layla.

Segundo a especialista, não é possível determinar qual porcentagem do produto é retirada durante as sessões de laser, já que tampouco se sabe quanto preenchedor foi injetado inicialmente. Mas ela observa melhora na aparência física e também na autoestima das pacientes que estão passando pelo tratamento experimental.

“Sabemos que o laser não vai remover tudo, mas conseguimos amenizar muito os nódulos e temos conseguido devolver a autoestima a elas”, afirma.

Uma das pacientes tratadas pela profissional é Jaqueline Chaves, de 48 anos. Ela entrou em depressão profunda pelas deformações que o PMMA causou em seu rosto e evitava sair de casa com medo dos julgamentos que sofreria por sua aparência.

Ela faz drenagens do produto há um ano, mas o tratamento ainda deve seguir devido às grandes quantidades de PMMA que foram usadas em seu rosto. O plástico aderiu e substituiu totalmente a cartilagem do nariz.

“Sei que o tratamento é de longo prazo, mas percebo a melhora. Tenho conseguido recuperar parte de minha autoestima e me sinto muito confiante nos resultados”, explica.

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