Cientistas descobrem vírus que mata lagartas macho e fortalece fêmeas
Descoberta de novo vírus pode ser útil no futuro para controle de pragas e até de mosquitos vetores de doenças, como o Aedes Aegypti
atualizado
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Pesquisadores japoneses descobriram — meio sem querer — um novo vírus que mata apenas lagartas macho, enquanto garante que as fêmeas sobrevivam saudáveis. O achado foi registrado em artigo publicado na segunda-feira (6/11) na revista científica The Proceedings of the National Academies of Sciences.
O estudo comprova que alguns vírus evoluiram para matar apenas indivíduos de um sexo, e pode ser usado no futuro para controlar pragas ou insetos vetores de doenças — como o Aedes Aegypti, por exemplo.
O vírus foi encontrado por acaso. Cientistas da Universidade Minami Kyushi encontraram lagartas do tabaco (uma praga importante na agricultura asiática) dentro de um laboratório, mas decidiram guardá-las para alimentar outros insetos.
O fisiologista Yoshinori Shintani, um dos autores do estudo, conta que é quase um milagre as bichinhas não terem ido parar no lixo. Ele só se lembrou delas muitos dias depois e, nesse momento, encontrou 50 mariposas adultas. Porém, todas eram fêmeas.
Shintani decidiu cruzá-las com machos que encontrou voando perto das lâmpadas de sua casa. Ele percebeu que, de novo, só nasceram fêmeas: 13 gerações depois, as mariposas tiveram apenas três machos.
Os cientistas japoneses explicam que algumas bactérias são conhecidas por escolher o sexo de seus hospedeiros. Como se instalam no citoplasma gelatinoso das células (que é passado de mãe para filhos), é inútil que existam em machos, que não poderão propagá-lo.
Em alguns casos, elas inclusive matam as larvas macho antes mesmo de eclodirem, diminuindo a competição por fêmeas e promovendo alimento para elas, que comem os ovos ao nascerem. A Wolbachia, usada contra o mosquito da dengue, é um exemplo de patógeno que impede o nascimento de larvas masculinas, evitando a reprodução.
Vírus inédito
Depois de uma análise genética, os pesquisadores identificaram o novo vírus, chamado de SlMKV. Só dois vírus na história foram identificados com a capacidade de matar apenas um dos sexos. Foram feitos outros experimentos para comprovar que ele é um “assassino de machos”, e os cientistas também descobriram que o patógeno é sensível ao calor, sendo neutralizado em temperaturas mais altas.
“Espero que haja muito mais casos descobertos em um futuro próximo”, afirma o pesquisador Daisuke Kageyama, da Organização Nacional de Investigação Agrícola e Alimentar do Japão e um dos autores do estudo, em entrevista ao The New York Times.
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