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Butantan estuda veneno de cascavel no tratamento da esclerose múltipla

Toxina presente no veneno da cobra cascavel evitou a doença em 40% das amostras animais, além de reduzir a dor e prevenir a atrofia

atualizado

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Pesquisadores do Instituto Butantan identificaram um novo alvo para o tratamento da esclerose múltipla (EM) com o uso de uma proteína do veneno da cobra cascavel.

A esclerose múltipla é uma doença autoimune neurológica crônica que ocorre quando o sistema imune ataca o cérebro e a medula espinhal. Aproximadamente 2 milhões de pessoas no mundo são acometidas pela condição, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Veneno de cascavel no tratamento da esclerose múltipla

Em um estudo preliminar, feito com modelos animais, os cientistas observaram que a proteína crotoxina evitou o desenvolvimento da doença em 40% das amostras tratadas. A descoberta foi publicada na revista científica Brain, Behavior, and Immunity em 2020, mas divulgado apenas nessa segunda (27/5).

De acordo com os pesquisadores, isso aconteceu porque a crotoxina atuou diretamente na acetilcolina, um neuromodulador do sistema nervoso central.

O estudo mostrou que alguns genes para receptores onde a acetilcolina atua estavam diminuídos nos modelos animais com esclerose múltipla e aumentados naqueles tratados com crotoxina. Isso significa que a regulação da via da acetilcolina pode ser uma estratégia eficiente no controle da doença.

“Dados da literatura já mostravam uma diminuição de acetilcolina em pacientes com esclerose múltipla”, explica a diretora do Laboratório de Dor e Sinalização do Butantan, Gisele Picolo, responsável pela pesquisa, em comunicado.

A crotoxina é estudada pelo Butantan há mais de 20 anos. Testes em modelos animais já haviam demonstrado diversos benefícios da substância, como reduzir a inflamação de sepse, inibir a proliferação de células tumorais e aumentar a resposta do sistema imune ao câncer.

Em outra fase do estudo, os pesquisadores testaram um medicamento para Alzheimer que também atua inibindo a degradação da acetilcolina, uma vez que a proteína do veneno da cascavel é neurotóxica e não pode ser usada em humanos. O remédio também se mostrou eficaz para tratar modelos animais de esclerose múltipla, aumentando o tempo de ação da acetilcolina e ampliando sua atuação no sistema nervoso central.

Segundo Gisele, ao atuar em vias semelhantes às reguladas pela crotoxina, a substância melhorou parâmetros como dor, comprometimento motor e neuroinflamação.

No comunicado publicado pelo Instituto Butantan, os pesquisadores ponderam que a pesquisa encontra-se em estágio inicial, sem previsão de se tornar um produto para o tratamento de pacientes.

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