Saiba o que é preciso conferir quando receber a vacina contra Covid-19
Enfermeiro ensina como garantir que a imunização ocorra corretamente. Profissionais de saúde podem ser punidos caso falsifiquem vacinação
atualizado
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Os recentes casos de enfermeiros e técnicos de enfermagem suspeitos de simular a aplicação da vacina contra a Covid-19 têm suscitado preocupação. De acordo com o enfermeiro Walkírio Almeida, integrante do Comitê Gestor de Crise e chefe do Departamento de Gestão do Exercício Profissional do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), apesar de a maioria dos enfermeiros e técnicos de enfermagem zelarem pelo cumprimento à risca dos protocolos de vacinação, é preciso tomar cuidado para evitar cair em golpes de profissionais mal intencionados.
Walkírio Almeida explica que, no Brasil, não está sendo adotado o sistema de monodoses, em que as seringas já vêm de fábrica com as doses que serão aplicadas. As vacinas contra o coronavírus utilizadas no país têm sido envasadas em frascos de 5 ml. A quantidade é suficiente para imunizar 10 pessoas, uma vez que cada dose é de 0,5 ml.
Antes de receber a vacina, a primeira providência sugerida pelo enfermeiro é se certificar de que o líquido seja aspirado na seringa no momento da injeção. “O profissional deve permitir que a pessoa veja o líquido que ele está aspirando e que esse medicamento está preenchendo a seringa na quantidade adequada”, complementa.
Outro cuidado importante é, após a aplicação do imunizante, conferir se a seringa está, de fato, vazia. “Apesar de serem casos isolados e por razões que não conseguimos saber, o Cofen tem recomendado que os profissionais de enfermagem se certifiquem que a pessoa tenha certeza de que recebeu a dose que deveria”, reforça Walkírio.
É possível, ainda, fotografar ou filmar a vacinação, desde que a imagem do profissional de saúde que está aplicando o imunizante seja preservada. “Em um esquema de drive thru [em que o indivíduo não precisa sair do carro para receber a vacina], pode ser que a pessoa tenha uma redução do campo visual, mas em postos de vacinação tradicionais o registro é possível e recomendado”, explica o enfermeiro.
Após a aplicação da vacina, os profissionais de saúde fornecem um comprovante, chamado carteira de vacinação, com a data, o imunizante aplicado e o lote do medicamento. No documento, também estará registrada a assinatura e identificação do profissional que realizou a aplicação.
O registro de quem já foi vacinado vai para o sistema e-SUS, mas é preciso que o usuário faça seu cadastro previamente. A recomendação do governo é que todo cidadão preencha o formulário do cadastro, mesmo que tenha plano de saúde. Isso porque é com base na quantidade de registros que o Ministério da Saúde calcula o repasse de verbas que será destinado a cada cidade.
Funcionários podem ser punidos
Segundo Walkírio Almeida, os conselhos de enfermagem do Brasil inteiro estão de olho em acusações de falsas imunizações. “Estes profissionais terão de esclarecer e comparecer aos conselhos para explicar as razões pelas quais eles tiveram essas condutas. Eles também estão sujeitos a sofrer penalidades.”
A punição mais branda, segundo Almeida, é a advertência verbal. O profissional também pode receber uma censura, que é uma advertência por escrito, em que ele recebe um documento com um texto que o repreende pela conduta inadequada.
Também está previsto para casos mais graves o pagamento de multa, que pode variar de uma a 10 anuidades. “Cada estado tem seus valores de anuidade, mas, de forma geral, cada uma custa de R$ 300 a R$ 350”, estima Walkírio Almeida. Para técnicos de enfermagem, o valor unitário é de R$ 200 a R$ 300.
O profissional de saúde pode, ainda, ter seu direito de exercício profissional suspenso por até 90 dias. O salário pode ser cortado durante o período, a depender da decisão do empregador. A pena mais severa é a cassação do exercício profissional por até 30 anos. Esta última punição é a única que não é aplicada por conselhos regionais de enfermagem, mas sim pelos conselhos federais da profissão.
Nesta segunda-feira (22/2), a técnica de enfermagem Rozemary Gomes Pita foi indiciada pela polícia por peculato e crime contra a saúde pública. A profissional é acusada por fingir aplicar a vacina contra o novo coronavírus em um idoso, morador de Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O Ministério Público do estado a denunciou à Justiça e pediu a prisão preventiva dela.