Varíola de macaco: pesquisador da Fiocruz diz que momento é de cautela
Infectologista diz que, no momento, há mais incertezas do que certezas sobre o surto da doença, mas que não é preciso entrar em pânico
atualizado
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Nas últimas semanas, o aumento de casos de pessoas diagnosticadas com varíola de macaco (Monkeypox, em inglês) vem aumentando no mundo inteiro.
A doença, que é endêmica em partes do continente africano, já está em pelo menos dez países, incluindo Estados Unidos, Portugal, Espanha, Reino Unido, Alemanha e Austrália, e o planeta, ainda se recuperando da pandemia de Covid-19, observa preocupado o crescimento de casos.
O infectologista Rivaldo Venâncio, pesquisador da Fiocruz e coordenador de Vigilância em Saúde da instituição, explica que a varíola é uma família extensa de vírus, e a variante originária dos macacos é “prima-irmã” do patógeno clássico da varíola, uma doença considerada erradicada em todo o mundo desde 1979.
Os vírus da varíola são considerados estáveis, e não sofrem mutações rápidas como outros patógenos respiratórios.
“No caso da varíola de macaco, ela tem uma apresentação muito parecida com a varíola humana, mas o vírus não é o mesmo. Do ponto de vista genético, eles são parecidos, mas possuem uma composição diferente”, ensina o médico.
O especialista conta que as formas de transmissão da doença mais comum entre humanos são por contato com a secreção que sai das bolhas características da doença e por via respiratória — porém, é preciso contato muito próximo, e ela não se espalha com a mesma facilidade que outros vírus respiratórios, como o coronavírus, por exemplo.
“Existe também um debate sobre se há transmissão sexual, mas ainda está em curso. Não se sabe se seriam pelas secreções sexuais, ou pelo contato com as lesões infectadas, ainda precisamos entender melhor”, explica.
Como os vírus são muito parecidos, a vacina da varíola seria capaz de oferecer uma proteção cruzada ao paciente, diminuindo a chance de complicações e óbito.
Porém, Venâncio conta que um dos fatos que aumenta a preocupação sobre o surto é que, pelo menos no Brasil, o imunizante parou de ser aplicado em meados dos anos 1970, depois que a condição foi considerada erradicada. “Hoje, há uma geração razoável no mundo que nunca tomou a vacina da varíola na vida”, diz.
A varíola de macaco pode causar uma nova pandemia?
Depois da Covid-19, o mundo está atento a qualquer novo patógeno que cause surto. Venâncio diz que ainda é cedo para avaliar se a varíola de macaco pode ser responsável por uma epidemia, e que o cenário é complexo.
“Estamos aprendendo muito nos últimos anos, muitas afirmações que fizemos em um passado relativamente recente sobre a dinâmica de transmissão caíram por terra na Covid-19. Temos que ter cautela para não criar pânico, mas também não dá para dizer que não há risco. Temos mais incertezas que certezas no momento”, afirma o infectologista.
Ele lembra que hoje o transporte aéreo é muito utilizado, e uma pessoa pode, em uma noite, sair de um país com surto e chegar ao Brasil com o vírus. “O ideal é acompanhar o cenário, estabelecendo redes de vigilância para pessoas que estavam viajando e podem estar contaminadas, além de criar uma forma de diagnóstico rápido e preciso. Temos que estar atentos”, diz Venâncio.
Sintomas e diagnóstico
Por enquanto, a única maneira de fechar o diagnóstico é pela análise do líquido que fica dentro da bolha ou da crosta formada quando ela se seca. Além das erupções cutâneas, outros sintomas são febre, coceira e inchaço nos linfonodos, que duram de duas a quatro semanas.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a fatalidade da doença varia entre 3% a 6% dos casos. A entidade afirma que, apesar de semelhante à varíola humana, a variedade de macacos é menos contagiosa e causa quadros menos graves.
Diferente do Sars-CoV-2, que era desconhecido, o vírus de macaco foi identificado pela primeira vez em 1950, e já existem tratamentos eficazes e a vacina contra a varíola provavelmente funciona contra a infecção — por essa junção de fatores, os especialistas internacionais acreditam que o surto não deve evoluir para epidemia ou pandemia.
De olho na progressão dos casos, o Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovações (MCTI) criou um grupo de pesquisadores que deve acompanhar o avanço da doença. Os cientistas irão analisar pesquisas científicas sobre a varíola de macaco para entender exatamente como a infecção funciona e o vírus é transmitido.
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