metropoles.com

Varíola de macaco: pesquisador da Fiocruz diz que momento é de cautela

Infectologista diz que, no momento, há mais incertezas do que certezas sobre o surto da doença, mas que não é preciso entrar em pânico

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Melina Mara/The Washington Post via Getty Images
Criança fazendo testagem para identificar motivo de algo que está na pele - Metrópoles
1 de 1 Criança fazendo testagem para identificar motivo de algo que está na pele - Metrópoles - Foto: Melina Mara/The Washington Post via Getty Images

Nas últimas semanas, o aumento de casos de pessoas diagnosticadas com varíola de macaco (Monkeypox, em inglês) vem aumentando no mundo inteiro.

A doença, que é endêmica em partes do continente africano, já está em pelo menos dez países, incluindo Estados Unidos, Portugal, Espanha, Reino Unido, Alemanha e Austrália, e o planeta, ainda se recuperando da pandemia de Covid-19, observa preocupado o crescimento de casos.

O infectologista Rivaldo Venâncio, pesquisador da Fiocruz e coordenador de Vigilância em Saúde da instituição, explica que a varíola é uma família extensa de vírus, e a variante originária dos macacos é “prima-irmã” do patógeno clássico da varíola, uma doença considerada erradicada em todo o mundo desde 1979.

Os vírus da varíola são considerados estáveis, e não sofrem mutações rápidas como outros patógenos respiratórios.

“No caso da varíola de macaco, ela tem uma apresentação muito parecida com a varíola humana, mas o vírus não é o mesmo. Do ponto de vista genético, eles são parecidos, mas possuem uma composição diferente”, ensina o médico.

O especialista conta que as formas de transmissão da doença mais comum entre humanos são por contato com a secreção que sai das bolhas características da doença e por via respiratória — porém, é preciso contato muito próximo, e ela não se espalha com a mesma facilidade que outros vírus respiratórios, como o coronavírus, por exemplo.

“Existe também um debate sobre se há transmissão sexual, mas ainda está em curso. Não se sabe se seriam pelas secreções sexuais, ou pelo contato com as lesões infectadas, ainda precisamos entender melhor”, explica.

Como os vírus são muito parecidos, a vacina da varíola seria capaz de oferecer uma proteção cruzada ao paciente, diminuindo a chance de complicações e óbito.

Porém, Venâncio conta que um dos fatos que aumenta a preocupação sobre o surto é que, pelo menos no Brasil, o imunizante parou de ser aplicado em meados dos anos 1970, depois que a condição foi considerada erradicada. “Hoje, há uma geração razoável no mundo que nunca tomou a vacina da varíola na vida”, diz.

A varíola de macaco pode causar uma nova pandemia?

Depois da Covid-19, o mundo está atento a qualquer novo patógeno que cause surto. Venâncio diz que ainda é cedo para avaliar se a varíola de macaco pode ser responsável por uma epidemia, e que o cenário é complexo.

“Estamos aprendendo muito nos últimos anos, muitas afirmações que fizemos em um passado relativamente recente sobre a dinâmica de transmissão caíram por terra na Covid-19. Temos que ter cautela para não criar pânico, mas também não dá para dizer que não há risco. Temos mais incertezas que certezas no momento”, afirma o infectologista.

9 imagens
A doença foi diagnosticada pela primeira vez nos seres humanos em 1970. De acordo com o perfil dos pacientes infectados atualmente, maioria homossexual ou homens que fazem sexo com homens (HSH), especialistas desconfiam de uma possível contaminação por via sexual, além de pelo contato com lesões em pessoas doentes ou gotículas liberadas durante a respiração
Segundo o Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC),  "qualquer pessoa, independentemente da orientação sexual, pode espalhar a varíola de macacos por contato com fluidos corporais ou itens compartilhados (como roupas e roupas de cama) contaminados"
Inicialmente, a varíola de macacos é transmitida por contato com macacos infectados ou roedores, e é mais comum em países africanos. Antes do surto atual, somente quatro países fora do continente tinham identificado casos na história
Entre os sintomas da condição estão: febre, dor de cabeça, dor no corpo e nas costas, inchaço nos linfonodos, exaustão e calafrios. Também há bolinhas que aparecem no corpo inteiro (principalmente rosto, mãos e pés) e evoluem, formando crostas, que mais tarde caem
O período de incubação do vírus varia de sete a 21 dias, mas os sintomas, que podem ser muito pruriginosos ou dolorosos, geralmente aparecem após 10 dias
1 de 9

Recentemente, diversos países têm registrado casos de pacientes diagnosticados com varíola de macaco, doença rara causada pelo vírus da varíola símia. Segundo a OMS, a condição não é considerada grave: a taxa de mortalidade é de 1 caso a cada 100. Porém, é a primeira vez que se tornou identificada em grande escala fora do continente africano

Getty Images
2 de 9

A doença foi diagnosticada pela primeira vez nos seres humanos em 1970. De acordo com o perfil dos pacientes infectados atualmente, maioria homossexual ou homens que fazem sexo com homens (HSH), especialistas desconfiam de uma possível contaminação por via sexual, além de pelo contato com lesões em pessoas doentes ou gotículas liberadas durante a respiração

Lucas Ninno/ Getty Images
3 de 9

Segundo o Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), "qualquer pessoa, independentemente da orientação sexual, pode espalhar a varíola de macacos por contato com fluidos corporais ou itens compartilhados (como roupas e roupas de cama) contaminados"

Roos Koole/ Getty Images
4 de 9

Inicialmente, a varíola de macacos é transmitida por contato com macacos infectados ou roedores, e é mais comum em países africanos. Antes do surto atual, somente quatro países fora do continente tinham identificado casos na história

seng chye teo/ Getty Images
5 de 9

Entre os sintomas da condição estão: febre, dor de cabeça, dor no corpo e nas costas, inchaço nos linfonodos, exaustão e calafrios. Também há bolinhas que aparecem no corpo inteiro (principalmente rosto, mãos e pés) e evoluem, formando crostas, que mais tarde caem

Wong Yu Liang / EyeEm/ Getty Images
6 de 9

O período de incubação do vírus varia de sete a 21 dias, mas os sintomas, que podem ser muito pruriginosos ou dolorosos, geralmente aparecem após 10 dias

Melina Mara/The Washington Post via Getty Images
7 de 9

Por ser uma doença muito parecida com a varíola, a vacina contra a condição também serve para evitar a contaminação

Natalia Gdovskaia/ Getty Images
8 de 9

Apesar de relativamente rara e transmissível, os especialistas europeus afirmam que o risco de um grande surto é baixo

ROGER HARRIS/SCIENCE PHOTO LIBRARY/ Getty Images
9 de 9

Em casos severos, o tratamento inclui antivirais e o uso de plasma sanguíneo de indivíduos imunizados

mmpile/ Getty Images

Ele lembra que hoje o transporte aéreo é muito utilizado, e uma pessoa pode, em uma noite, sair de um país com surto e chegar ao Brasil com o vírus. “O ideal é acompanhar o cenário, estabelecendo redes de vigilância para pessoas que estavam viajando e podem estar contaminadas, além de criar uma forma de diagnóstico rápido e preciso. Temos que estar atentos”, diz Venâncio.

Sintomas e diagnóstico

Por enquanto, a única maneira de fechar o diagnóstico é pela análise do líquido que fica dentro da bolha ou da crosta formada quando ela se seca. Além das erupções cutâneas, outros sintomas são febre, coceira e inchaço nos linfonodos, que duram de duas a quatro semanas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a fatalidade da doença varia entre 3% a 6% dos casos. A entidade afirma que, apesar de semelhante à varíola humana, a variedade de macacos é menos contagiosa e causa quadros menos graves.

Diferente do Sars-CoV-2, que era desconhecido, o vírus de macaco foi identificado pela primeira vez em 1950, e já existem tratamentos eficazes e a vacina contra a varíola provavelmente funciona contra a infecção — por essa junção de fatores, os especialistas internacionais acreditam que o surto não deve evoluir para epidemia ou pandemia.

De olho na progressão dos casos, o Ministério de Ciência e Tecnologia e Inovações (MCTI) criou um grupo de pesquisadores que deve acompanhar o avanço da doença. Os cientistas irão analisar pesquisas científicas sobre a varíola de macaco para entender exatamente como a infecção funciona e o vírus é transmitido.

Receba notícias do Metrópoles no seu Telegram e fique por dentro de tudo! Basta acessar o canal: https://t.me/metropolesurgente.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSaúde

Você quer ficar por dentro das notícias de saúde mais importantes e receber notificações em tempo real?