“Variante indiana já chegou e vai se disseminar”, diz sanitarista Gonzalo Vecina
Em entrevista ao Metrópoles, o professor da USP e ex-presidente da Anvisa afirma que a crise sanitária ainda está longe de ser controlada
atualizado
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O médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, fundador e ex-presidente da Anvisa, afirma que o Brasil pode entrar em um quadro semelhante ao que a Índia está enfrentando se não tomar providências assertivas e imediatas para conter a variante B.1.617, encontrada pela primeira vez no país asiático.
“Dada a nossa incompetência em diminuir a probabilidade da chegada dela, ou pelo menos retardar, ela chegou. Está se espalhando e mostrou na Índia que tem uma transmissão rápida”, alerta.
Em entrevista ao Metrópoles, o sanitarista fala sobre a variante indiana, a possibilidade de uma terceira onda de Covid-19 no país, a lentidão da vacinação e a segurança da vacina Oxford/AstraZeneca que vem sendo questionada devido à possibilidade de formação de coágulos sanguíneos.
Variante indiana se espalhou pelo mundo
A B.1.617 é um dos fatores relacionados ao aumento expressivo de novas infecções na Índia desde o início de abril, levando o sistema de saúde do país ao colapso.
Ela já está em circulação em 53 países, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) publicado na quarta-feira (26/5). No Brasil, há oito casos confirmados, sendo seis em São Luís, no Maranhão, e os outros dois em Juiz de Fora, Minas Gerais, além de um em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro.
Como conter a transmissão?
No início da pandemia, as características de transmissão e letalidade do coronavírus eram desconhecidas, e nações de todo o mundo tiveram de aprender na prática as melhores estratégias para minimizar as infecções, como fazer uso da máscara, do álcool em gel e manter o distanciamento social para evitar aglomerações.
Mas o ritmo de transmissão do vírus ganhou um novo fôlego neste ano. De acordo com Vecina, o surgimento das variantes causa preocupação, em especial a P.1, de Manaus, e sua rápida disseminação coloca o país na terceira onda antes mesmo que a segunda tivesse passado.
“Nós relaxamos muito o isolamento social e já estamos vivendo um recrudescimento dessa segunda onda, que nem tinha acabado ainda. A variante indiana tem grande possibilidade de se somar ao que está acontecendo. O que vai ser muito ruim”, afirma.
Para Vecina, é crucial que os brasileiros entendam a importância do lockdown a fim de conter a disseminação da variante indiana. “O lockdown é a única alternativa que nós temos”, afirma. “Não existe maneira de diminuir a circulação do vírus sem ficar em casa, infelizmente.”
Crise sanitária
O ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – no cargo entre 1999 e 2003 – avalia que, agora, é muito difícil conter a circulação da variante indiana no Brasil. No entanto, algumas estratégias, como bloquear aeroportos e colocar os passageiros vindos da Índia em quarentena, poderiam ter sido adotadas antes para essa finalidade.
“Seria muito difícil bloquear, mas cada dia que nós ganhássemos, teríamos mortes a menos. Ela chegou, vai se disseminar; nós já estamos com crescimento de número de casos por causa da P.1 e agora vamos ter um crescimento de número de casos por causa da variante indiana”, prevê.
Vida sem máscara
Países que se destacam no programa de vacinação, como Estados Unidos e Israel, vivem um novo momento da pandemia. Pessoas completamente vacinadas foram autorizadas a circular nas ruas sem máscaras e a participar de eventos sociais. Os EUA se preparam para um segundo semestre com grandes flexibilizações, enquanto artistas anunciam seus calendários de shows.
No entendimento do médico sanitarista, a decisão dessas nações foi prematura. Até que toda a população esteja vacinada, há a possibilidade de o vírus sofrer mutações e provocar novas infecções. “Não é hora de permitir que as pessoas andem sem máscara. Ainda temos a possibilidade da ocorrência de novas variantes e até o risco de elas terem resistência às vacinas”, aponta.
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