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Variante Delta: saiba mais sobre a nova cepa que se espalha no Brasil

Especialistas alertam que, sem vigilância genômica, não é possível saber a velocidade de propagação da cepa e vacinação precisa acelerar

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Nas últimas semanas, a variante Delta do coronavírus, que surgiu primeiramente na Índia em outubro de 2020, vem assustando o mundo. Países com grande parte da população vacinada, como Israel e Estados Unidos, estão precisando rever as medidas de distanciamento que foram flexibilizadas para conter novos casos de infecção pela variante.

A cepa já está presente em mais de 96 países, é predominante em alguns deles, e preocupa a Organização Mundial de Saúde (OMS). A estimativa da entidade é que, em alguns meses, a variante seja a predominante no mundo.

No Brasil, alguns casos da Covid-19 causada pela variante já foram identificados em estados como Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiás. Até o momento, foram registrados dois óbitos em pessoas com a cepa: uma gestante de 42 anos no Paraná, e um tripulante de 54 anos de um navio chinês atracado no Maranhão.

Para evitar mais um pico da pandemia no país, algumas unidades federativas pretendem antecipar a segunda dose da vacina — a maioria dos imunizantes se mostrou eficaz contra a variante até o momento, mas funciona melhor após a administração da segunda dose. No Reino Unido, por exemplo, a maior parte dos infectados é composta por jovens que ainda não se vacinaram e pessoas com mais de 50 anos que não receberam a segunda dose.

A Delta é considerada a variante mais transmissível entre as cepas do coronavírus. Por conta de um conjunto de mutações, ela é mais eficaz em invadir as células do corpo e se multiplica em maior quantidade do que as versões prévias do Sars-CoV-2.

A cepa também causa sintomas um pouco diferentes dos já esperados para a infecção por Covid-19: nariz escorrendo, dor de cabeça, febre e dor de garganta. A perda de olfato e paladar, tão frequente em infecções com outras variantes, não acontece mais com tanta frequência.

Situação brasileira

Apesar de alguns casos já estarem confirmados no Brasil, ainda não se sabe se a variante Delta irá se tornar a mais disseminada no país, uma vez que a Gamma, a variante brasileira, domina o território e já apresenta algumas mutações. Mas os especialistas não acreditam que o cenário que aconteceu na Índia, com números altíssimos de óbitos diários por conta da Delta aconteça por aqui.

“Já temos uma parte da população vacinada e, diferente de lá, aqui temos o Sistema Único de Saúde (SUS)”, explica Gulnar Azevedo, epidemiologista e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Porém, ela alerta que a situação do país está muito longe de ser confortável.

Com os níveis de vacinação com duas doses ainda muito baixo (em torno de 18% da população com mais de 18 anos já tomou as duas doses, segundo o Ministério da Saúde), a flexibilização antecipada das medidas de distanciamento social, o relaxamento do uso de máscara e álcool gel e a rede de vigilância genômica ainda muito atrasada, o Brasil pode ter que enfrentar mais uma onda de Covid-19.

“A gente faz muito pouco rastreamento de variantes. A vigilância genômica tem alguma estrutura, mas precisa ter capilaridade nacional para cuidar de todo o país. Precisamos saber quais pessoas estão com a variante, rastrear os contatos e isolá-los. Se conseguirmos fazer tudo isso, podemos conter a transmissão”, afirma Gulnar. Sem saber onde estão os casos, é difícil controlar a Delta.

Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), não descarta que a Delta se torne a principal cepa em circulação no Brasil, e diz que não há como estimar a velocidade de propagação da variante, “já que não se realiza sequenciamento genético em todos os casos de Covid-19”.

Os dois especialistas concordam que a principal maneira de evitar mais um pico da epidemia no Brasil é acelerar a vacinação. Gulnar acredita que a tática de antecipar a segunda dose pode ser interessante, mas não se significar falta de imunizante para quem ainda não recebeu a injeção.

“É uma medida que precisa ser pensada e estruturada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), olhando o país como um todo”, explica. A presidente da Abrasco lembra que as pessoas estão circulando, e o que acontece em um estado pode passar para o outro rapidamente. “Quanto mais rapidamente o país vacinar o maior número de pessoas com duas doses, antes evitaremos novas hospitalizações e mortes pela variante Delta”, completa Weissmann.

Outro ponto importante é reforçar os mesmos cuidados que estão sendo aconselhados desde o início da pandemia, que evitam a infecção com qualquer variante: uso de máscaras de qualidade, higienização das mãos, distanciamento social, evitar aglomerações e manter os ambientes bem ventilados.

“Precisamos também de controles em portos e aeroportos. São várias medidas que estamos falando há muito tempo, mas que o Brasil nunca conseguiu fazer, até por falta de liderança do Ministério da Saúde. O coronavírus chegou ao país em um momento ruim do SUS, com desfinanciamento, desmonte da política de atenção primária e muita gente sendo demitida. São coisas que vão se acumulando e levando a esse enfrentamento errático. Com coordenação, podemos ter uma perspectiva melhor do que tivemos até o momento”, conclui.

Entenda, na galeria, como funcionam as variantes:

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