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Vacinas: especialistas apontam o que mudar para recuperar a adesão

Próximo governo tem o desafio de reconquistar a confiança da população nas vacinas

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Na imagem colorida, uma criança está sentada enquanto alguém aplica uma vacina no braço dela
1 de 1 Na imagem colorida, uma criança está sentada enquanto alguém aplica uma vacina no braço dela - Foto: baona/Getty Images

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) completa 50 anos de existência em 2023. Por muito tempo, ele foi considerado um exemplo para o mundo devido à sua alta taxa de adesão e sucesso em conseguir controlar a circulação de vírus de alta relevância para a saúde pública, mas este cenário mudou.

Desde 2019, o país não consegue atingir as metas de cobertura de 15 dos 16 imunizantes indicados na carteirinha de vacinação dos bebês menores de 1 ano e com 1 ano de idade, segundo mostram dados disponibilizados pelo Departamento de Informática do SUS (DataSUS).

Informações preliminares sobre a situação de 2022 mostram que apenas a BCG atingiu a meta esperada para este ano, imunizando 90% de todos os bebês com menos de 1 ano.

O Observa Infância, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Unifase revelou que as coberturas das vacinas tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola), tetraviral (que inclui a primeira dose da varicela, além de sarampo, caxumba e rubéola) e hepatite A, aplicadas após o aniversário de 1 ano, são de menos de 50% da população-alvo. Duas em cada três crianças no Brasil não completaram a imunização com a tríplice viral ao longo do segundo ano de vida.

As coberturas contra a DTP (difteria, tétano e coqueluche), poliomielite, PCV (pneumocócica), MenC (meningite C), hepatite B e Hib (Haemophilus influenzae tipo B) ultrapassaram os 70%, mas ainda estão bem longe da meta de 95%.

Quedas na cobertura

O presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha, recorda que, desde 2015, temos uma queda das coberturas que se manteve durante os anos seguintes e passou a aumentar em 2020.

“Em 2021, se imaginava que, com a vacinação contra a Covid-19, teríamos uma melhoria das outras vacinas, como aconteceu em outros países que tiveram queda das coberturas vacinais durante a pandemia, mas o que vimos foi a baixa cobertura vacinal para todas elas”, explica Juarez.

Entre os adolescentes houve queda das coberturas das vacinas contra o papilomavírus humano (HPV), meningite ACWY e outros imunizantes. Nenhum dos grupos prioritários conseguiu alcançar a meta na campanha de imunização contra a gripe.

Estes indicadores colocam o país em uma situação delicada, com risco da entrada de doenças, alerta o vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Cláudio Maierovitch, ex-presidente da Anvisa e médico sanitarista ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “Estamos com risco de reintrodução de doenças eliminadas, como aconteceu com o sarampo. Um dos grandes perigos é a poliomielite”, afirma.

Especialistas ouvidos pelo Metrópoles apontam o que o próximo governo, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deve fazer para que o Brasil recupere as altas taxas de vacinação.

Informação correta

Com a chegada das vacinas contra a Covid-19, houve uma adesão importante da população para vacinar idosos, pessoas com comorbidades e profissionais de saúde, mas o mesmo não foi visto entre os adolescentes e crianças. O presidente da SBIm atribui o problema à dificuldade em levar informação correta para a população, inclusive pelo próprio Ministério da Saúde, e ao início de uma discussão política e ideológica que abalou a confiança nas vacinas.

“As coberturas vacinais contra a Covid-19 são muito baixas na infância. A pandemia não acabou. O público infantil está sofrendo muito mais comparado ao início da pandemia por ser uma parcela ainda não protegida. Estamos em um momento de aumento de casos, hospitalizações e óbitos entre crianças e adolescentes. Isso poderia ser evitado porque as vacinas protegem contra as formas mais graves”, avalia Cunha.

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De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenos
Apesar de não ser necessária a prescrição médica para vacinação, o governo federal recomenda que os pais procurem um profissional da saúde antes de levar os filhos para tomar a vacina
Segundo a Anvisa a grande maioria dos eventos adversos pós-vacinação é decorrente da administração do produto errado à faixa etária, da dose inadequada e da preparação errônea do produto
A vacina infantil vem em uma embalagem de cor laranja, diferente da versão para maiores de 12 anos, que é roxa. A seringa utilizada é a de 1ml, e o volume aplicado deve ser de 0,2ml
A identificação correta das doses para crianças de 5 a 11 anos é uma obrigação das autoridades públicas, que devem garantir ainda um treinamento eficiente para toda a equipe responsável
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Pais devem ficar atentos para evitar erros na aplicação do imunizante nos pequenos, já que eles têm uma dinâmica própria

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De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenos

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Apesar de não ser necessária a prescrição médica para vacinação, o governo federal recomenda que os pais procurem um profissional da saúde antes de levar os filhos para tomar a vacina

Agência Brasil
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Segundo a Anvisa a grande maioria dos eventos adversos pós-vacinação é decorrente da administração do produto errado à faixa etária, da dose inadequada e da preparação errônea do produto

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A vacina infantil vem em uma embalagem de cor laranja, diferente da versão para maiores de 12 anos, que é roxa. A seringa utilizada é a de 1ml, e o volume aplicado deve ser de 0,2ml

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A identificação correta das doses para crianças de 5 a 11 anos é uma obrigação das autoridades públicas, que devem garantir ainda um treinamento eficiente para toda a equipe responsável

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De acordo com a Pfizer, a quantidade aplicada nas crianças foi cuidadosamente selecionada com base em dados de segurança e imunogenicidade

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Os estudos clínicos da farmacêutica indicaram menor possibilidade de reações adversas no uso de doses menores. As respostas imunológicas também se mostraram mais eficientes porque as crianças, normalmente, têm resposta imune mais robusta

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Segundo dados da Pfizer, cerca de 7% das crianças que receberam uma dose da vacina apresentaram alguma reação, mas em apenas 3,5% os eventos tinham relação com o imunizante. Nenhum deles foi grave

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O especialista avalia que os últimos dois anos foram desafiadores, uma vez que a confiança na segurança e eficácia das vacinas, bem como nos governantes, profissionais de saúde e nas instituições foram abaladas. “Todos precisam passar recados de confiança e vimos exatamente o contrário nos últimos dois anos, o que trouxe impactos”, pontua Cunha.

Políticas públicas

Representantes das principais entidades de saúde do país, incluindo as Sociedades Brasileiras de Pediatria (SBP), Imunizações (SBIm) e Infectologia (SBI), Organização Panamericana da Saúde (OPAS-OMS), Fiocruz – Bio-Manguinhos e Federação Brasileira de Ginecologistas e Obstetras (Febrasgo), enviaram à equipe de transição do governo Lula um documento com propostas para melhorias e avanços para o PNI.

“É muito importante que a gente recupere a efetividade do próprio Programa Nacional de Imunizações. Ele era um programa bem feito e de sucesso, mas ficou delegado a um plano bem inferior”, avalia o presidente da SBIm.

As entidades concordam que a informação sobre as vacinas deve ser transmitida de maneira uniforme, começando nas escolas. Outra estratégia é a volta da condicionalidade para participação da população carente em programas de transferência de renda como o Bolsa Família.

O documento sugere um trabalho de comunicação com o resgate da imagem do Zé Gotinha, símbolo nacional de imunização infantil. Bem como a premiação de iniciativas exitosas de vacinação e a criação de “embaixadores da vacina” para dar o exemplo à sociedade.

Gestão do PNI

Os especialistas sugerem um fortalecimento na gestão do PNI, tornando-o um dos programas prioritários do Governo Federal. As medidas devem incluir tanto um maior aporte orçamentário quanto a reformulação das estruturas de direção e decisão.

Outra medida considerada essencial é o estabelecimento de metas e prazos para o controle, a eliminação e a erradicação de algumas doenças. Os resultados obtidos pelos municípios – ponta do Sistema Único de Saúde (SUS) – devem ser valorizados por meio de prêmios.

As entidades de saúde também pedem a unificação e digitalização dos dados vacinais, com a criação de uma sistema digital de registro de doses e informações sobre a cobertura separadas por municípios. Os dados individuais também precisam estar acessíveis aos usuários de maneira digital, com vistas a incentivar o acompanhamento e controle das próprias pessoas sobre sua situação vacinal.

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