Vacinas e gestação? Campanha incentiva a imunização de grávidas
Ação de entidades médicas e do Ministério da Saúde lançada nesta quinta (8/3) chama atenção para lacunas na vacinação de mães
atualizado
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Rio de Janeiro – Futuras mães não se protegem tanto quanto deveriam no Brasil. Baseada em números de cobertura vacinal de gestantes no país, a Sociedade Brasileira de Imunizações, com o apoio de outras entidades médicas e do Ministério da Saúde, lançou nesta quinta-feira (8/3) uma campanha de conscientização das vacinas indispensáveis à saúde da gestante e do bebê.
“Além dos testes de eficácia das vacinas, no caso das gestantes, são levados em conta também os de segurança”, diz Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde. “As mulheres podem ficar tranquilas com relação a se vacinarem nesse período. A gente espera que o sucesso e a adesão que o PNI tem na infância chegue também à adolescência, aos adultos e às grávidas”, pontuou.Segundo números do ministério, entre 2016 e 2017, a adesão à vacina tríplice bacteriana (que protege contra difteria, tétano e coqueluche) ficou nos 34,02%. Ainda pelas contas da pasta, a maior parte dos casos de coqueluche registrados no Brasil em 2015 – 1.850 dos 2.955 – aconteceram em bebês com menos de 1 ano.
Das 35 mortes pela doença, 30 foram em menores de 3 meses. Além de proteger a mãe, os especialistas reforçam que os anticorpos adquiridos pela imunização são passados ao bebê pela placenta e, depois, pelo leite materno.
Indicação médica
Na avaliação da presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabella Ballalai, existe um certo receio por parte de mães e médicos quanto à segurança da imunização para grávidas – o que ajuda, em parte, a explicar as baixas coberturas vacinais. “Os médicos que atendem as gestantes – ginecologistas e obstetras – estão longe de saber orientá-las”, opinou a especialista.
Hoje sabemos que 82% das pessoas que se vacinam o fazem por indicação do médico. Ele é a figura mais importante nesse cenário.
Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
No ano passado, o tétano neonatal, com letalidade próxima dos 100%, foi considerado erradicado das Américas, na avaliação dos médicos, graças à vacinação das mães. Com o certificado da Organização Mundial da Saúde, o Brasil se junta à maioria dos países. Hoje, só 15 ainda enfrentam a doença.
Em relação à coqueluche, com a qual a difteria compartilha a dose na vacina tripla bacteriana, no caso de bebês infectados, a doença foi transmitida pela mãe em 35% dos casos. O restante é dividido entre pai, irmãos, avós e fatores externos. “Quem passa a doença para o bebê é o adulto”, ressalta a presidente da regional RJ da SBIm, Flávia Bravo.
Febre amarela
Além das vacinas recomendadas rotineiramente, como as de hepatite B e as antibacterianas, os especialistas lembraram ainda das de recomendação relativa, como as feitas de vírus vivo, é o caso da febre amarela, por exemplo.
Em geral, a imunização não é indicada a grávidas, mas em situações de risco iminente, como é o caso atualmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, os benefícios devem ser pesados contra os riscos de efeitos adversos. “A febre amarela não tem risco aumentado para gestantes, mas hoje tem risco aumentado para todo mundo”, ponderou Flávia.
“Quando se diz que uma vacina ‘não é recomendada para gestante’, já saem falando por aí: ‘Então é porque tem perigo’. Não. É porque a gente não faz nada à toa em uma gestante. Se está dizendo no calendário que a vacina é recomendada, é porque há risco daquela doença para a mãe e há risco para o bebê”, completou Isabella Ballalai, presidente da SBIm.
Estudos sobre a eficácia e os efeitos da imunização contra a arbovirose em grávidas mostraram que 98,2% delas produziram anticorpos para a doença – proporção similar à do restante da população. Sobre efeitos adversos, 2,3% tiveram bebês com malformações, 2,5% aborto espontâneo, casos de natimortos foram de 0,7% e de prematuros, 7,8%.
Em áreas de circulação do vírus (da febre amarela), a gente vacina gestante porque o risco teórico da vacina é muitíssimo inferior que o da letalidade da doença.
Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)
Além da febre amarela, fazem parte das vacinas de recomendação relativa as de hepatite A e de doença pneumocócica – que apresenta risco maior em gestantes com diabetes, por exemplo.
A expectativa é de que a campanha, batizada de “Calendário de vacinação da gestante: Um sucesso de proteção para mãe e filho” alcance 19 milhões de visualizações. As informações serão espalhadas em folhetos e cartazes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e consultórios médicos. O calendário da gestante ficará disponível também em um site e uma página no Facebook.
Vacinas recomendadas a gestantes:
O mais cedo possível
Gripe: uma dose única em cada gestação, em qualquer fase.
Em qualquer momento da gestação
Hepatite B: para mulheres não vacinadas, iniciar ou completar o esquema de três doses. A segunda deve ser aplicada um mês após a primeira. A terceira, seis meses após a inicial. Se não for possível completar o esquema durante a gravidez, ele poderá ser concluído após o parto.
Dupla do tipo adulto (dT ): a vacina, que protege contra difteria e tétano, pode ser aplicada em uma ou duas doses em qualquer período da gestação para futuras mães com vacinação incompleta.
A partir da 20ª semana (5º mês)
Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa): o imunobiológico protege contra difteria, tétano e coqueluche e deve ser repetido em todas as gestações.