Unaids aponta falta de informação sobre Covid-19 para pacientes com HIV
Pesquisa do escritório da ONU para assuntos ligados a HIV no Brasil ouviu 3 mil pessoas para saber como elas estão lidando com a pandemia
atualizado
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O escritório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids Brasil) divulgou nesta sexta-feira (08/05) um estudo inédito sobre as necessidades de pessoas vivendo com o HIV em tempos de coronavírus. Temas como assistência social, saúde mental e informação foram abordados na pesquisa, que ouviu cerca de 3 mil pessoas, em cinco dias de coleta de dados. Ao todo, 46% dos entrevistados disseram que consideram insuficiente a quantidade de informações sobre a relação Covid-19 e o vírus da Aids.
A pesquisa abordou, também, a recomendação de agências internacionais para o isolamento social, como medida de prevenção à disseminação do coronavírus. Aproximadamente 13% das pessoas que responderam ao questionário elaborado pelo escritório da Organização das Nações Unidas (ONU) para assuntos ligados ao HIV disseram que não estão ficando em casa durante a pandemia. Desses, 48,6% declararam que precisam trabalhar fora de casa, sem opção de home office, e mais de um terço (34,7%) dos respondentes disseram que optaram por não revelar aos gestores que vivem com HIV por medo de sofrerem preconceito.
A pesquisa se inspirou em uma iniciativa do Unaids na China, o primeiro epicentro da pandemia de Covid-19 e foi adaptada para o contexto brasileiro, incluindo também questões relevantes, como a situação da saúde mental das pessoas respondentes. A Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e AIDS (RNP+) e o Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP) apoiaram o Unaids na revisão do questionário e na divulgação dos resultados.
“Os resultados deste questionário nos ajudaram a enxergar quais as principais demandas e carências entre as pessoas vivendo com HIV e com AIDS, num momento delicado como este de pandemia da COVID-19. Já sabíamos que, no Brasil, a epidemia do HIV tem afetado desproporcionalmente alguns grupos populacionais mais vulneráveis, principalmente as populações-chave”, explica Cleiton Euzébio de Lima, diretor interino do Unaids no Brasil.
No contexto nacional, o levantamento coletou 2.893 respostas, sendo que 82,6% delas vieram de pessoas pertencentes a populações-chave: gays e outros homens que fazem sexo com homens (79,6%), pessoas trans (2,1%), trabalhadores do sexo (0,6%) e pessoas que usam drogas (0,4%). Dentre o total de respondentes, 51,3% são negros (36,2% se declararam pardos e 15,1% pretos), sendo 45,5% brancos. A maioria (64%) têm entre 20 e 34 anos e quase 10% está acima dos 50 anos. Ainda sobre o perfil das pessoas respondentes, pouco mais da metade (52%) vive no Sudeste e quase um quarto (23%) na região Nordeste; as demais vivem no Sul (11%), Centro-Oeste (8%) e Norte (6%).
O questionário perguntou, também, que tipo de informação os entrevistados gostariam de receber com mais frequência. Mais de 60% delas responderam “dicas e cuidados específicos para pessoas vivendo com HIV e AIDS”. Cleiton Euzébio explica que “como é uma pandemia muito nova, ainda não há informações conclusivas sobre impactos diferenciados da Covid-19 em pessoas vivendo com HIV”.
Uma preocupação é a disseminação de fake news e, por isso, o diretor do Unaids afirma que há um esforço para a produção desse tipo de conteúdo.
“Temos nos esforçado para traduzir materiais produzidos em outros idiomas, repercutir informações oficiais da OMS e mobilizar parceiros e influenciadores para que levem estas informações ao maior número possível de pessoas”, detalha.
Entre as pessoas que responderam ao questionário, 40% disseram obter informações pela televisão, enquanto 24% disseram se informar por sites e redes do Ministério da Saúde, 11% via serviços e profissionais de saúde e uma pequena parcela disse se informar pelo WhatsApp (7%) e com amigos e familiares (6%).
Dados compilados do Índice de Estigma Brasil 2019, divulgado no ano passado, mostram que muitas pessoas vivendo com HIV e aids no Brasil estão em situação de pobreza. Essa é, sem dúvida, uma questão preocupante, uma vez que a prevenção ao coronavírus advém de higiene pessoal, com utilização de álcool gel, e uma parcela da sociedade não tem acesso à condições de saneamento básico adequados.
No momento da pesquisa, 5,9% não tinham acesso à água – duas vezes mais que entre gays e HSH; 58,8% não tinham acesso a álcool em gel – cinco vezes mais na comparação com gays e HSH; e 23,5% não tinham acesso a sabão – sete vezes na mesma comparação. “Assim, a resposta à pandemia deve incluir estratégias que respondam às necessidades diferenciadas de cada grupo, especialmente os mais vulneráveis”, finaliza o diretor da organização.