metropoles.com

Todo ultraprocessado faz mal? Veja o que está incluso na classificação

Conhecida por causar problemas à saúde a longo prazo, a categoria dos ultraprocessados é bastante ampla e inclui vários tipos de alimentos

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Drazen Zigic/Getty Images
Foto colorida de mulher parda, com cabelo preso. Ela está com dois casacos. Ela está próxima de um freezer e segura um produto enquanto segura uma cesta de supermercado - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida de mulher parda, com cabelo preso. Ela está com dois casacos. Ela está próxima de um freezer e segura um produto enquanto segura uma cesta de supermercado - Metrópoles - Foto: Drazen Zigic/Getty Images

Todo mundo sabe: alimentos ultraprocessados são ricos em sódio, açúcares e conservantes e trazem vários malefícios à saúde. O consumo excessivo está ligado ao desenvolvimento de obesidade, pressão alta, diabetes, alguns tipos de câncer e até problemas de saúde mental. Porém, o conceito é muito amplo e entram na mesma categoria salsichas, congelados, fórmula para recém-nascidos e pão de forma, por exemplo.

Existem vários tipos de classificação de alimentos, mas a que inaugurou o conceito de ultraprocessados e é usada em vários países é brasileiríssima. A Nova, criada na Universidade de São Paulo (USP), divide as comidas em quatro categorias e reconhece que muitos tipos de processamento industrial de alimentos são inofensivos, benéficos ou mesmo essenciais.

O grupo considerado prejudicial à saúde é o de ultraprocessados. “De uma forma geral, as evidências são consistentes e na sua maioria mostram que um padrão alimentar baseado em alimentos ultraprocessados está associado com desfechos negativos de saúde”, explica a pesquisadora Fernanda Rauber, que estuda o consumo de alimentos ultraprocessados e seus efeitos no Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, da Universidade de São Paulo (Nupens/USP).

Ela conta que o problema não é comer ultraprocessados de vez em quando, é basear a alimentação nesses produtos. As pessoas tendem a comer um combo: refrigerante e salgadinho de pacote, por exemplo, andam quase sempre juntos. Fernanda diz que é difícil avaliar o efeito do consumo de um único alimento ou subgrupo porque é preciso fazer uma comparação com uma comida saudável que é substituída por ele. “Por isso, faz mais sentido estudar os padrões alimentares”, afirma.

Alimentos ultraprocessados são considerados os vilões da saúde
Alimentos ultraprocessados são considerados os vilões da saúde

O que são alimentos ultraprocessados?

“São produtos alimentícios que passaram por diversos processos industriais e que contêm na sua formulação aromatizantes, corantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos para dotar os produtos de propriedades sensoriais atraentes. Sua elaboração envolve diversas etapas de processamento e muitos ingredientes, incluindo sal, açúcar, óleos e gorduras”, explica a nutricionista Monize Cocetti, professora doutora da PUC Campinas, em São Paulo.

Os alimentos ultraprocessados normalmente têm pouco ou nenhum alimento inteiro na sua composição, são ricos em açúcares e gorduras não saudáveis e carentes de fibras, vitaminas e demais micronutrientes.

Fernanda, do Nupens, explica que a melhor forma de identificar esse tipo de produto é verificando a lista de ingredientes. “Se tiver pelo menos uma substância alimentar nunca ou pouco utilizada nas cozinhas das nossas casas ou de restaurantes, como os corantes, aromatizantes e emulsificantes, então ele será considerado um alimento ultraprocessado”, ensina.

Para ajudar no reconhecimento dos alimentos ultraprocessados na hora de fazer compras, em outubro de 2022, a Anvisa aprovou uma nova regra sobre a rotulagem de alimentos embalados. Agora, a tabela nutricional deve ser maior, para facilitar a visualização, e a quantidade de açúcares totais e adicionados será apresentada. Além disso, na frente da embalagem, aparece uma lupa que indica alto teor em algum ingrediente específico, como sódio, açúcar ou gorduras.

“A ideia é esclarecer o consumidor, de forma clara e simples, sobre a quantidade elevada de algum item que ofereça impactos negativos para a saúde”, aponta o site do Ministério da Saúde.

Fernanda afirma que, apesar de vários estudos publicados usarem a classificação Nova, ainda são necessárias mais pesquisas para entender como os subgrupos de alimentos ultraprocessados estão associados a diferentes doenças.

A classificação Nova

A proposta de classificação Nova, criada pelo Nupens, começou quando a equipe percebeu a mudança no padrão de aquisição de alimentos pela população. Entre o final da década de 1980 e o ano de 2009, o brasileiro passou a comprar menos arroz, feijão, farinha, ovos, leites e carnes, óleos vegetais e açúcar, e começou a gastar mais em doces, salgadinhos, biscoitos, refeições prontas e bebidas açucaradas.

Os pesquisadores perceberam que essa mudança estava associada ao aumento da prevalência de excesso de peso e obesidade entre os brasileiros. Em 2009, o Nupens criou a classificação que divide os alimentos com base na natureza, assistência e propósito do processamento industrial.

Os alimentos são divididos em quatro grandes grupos. O primeiro reúne aqueles que são in natura, ou minimamente processados (que não têm adição de elementos que descaracterizem o alimento). Bons exemplos são os grãos de milho que são transformados em farinha, cuscuz e massas; o café, que é torrado e moído; ou as carnes congeladas.

No segundo grupo, estão os ingredientes culinários que são usados para temperar, mas são extraídos de alimentos do primeiro grupo por procedimentos físicos. Por exemplo: a manteiga, que é obtida do leite; o açúcar, que vem da cana; o azeite, que é fabricado a partir das azeitonas; ou o sal, que é extraído da natureza.

Na terceira categoria, estão os alimentos processados. Entram nesse grupo os produtos modificados por processos industriais simples, que podem ser replicados em casa e têm adição de alimentos do segundo grupo para aumentar a duração do alimento. Aqui, são incluídas conservas de legumes, frutas em calda, queijos e pães artesanais. A Nova considera que, em pequenas quantidades, esses produtos podem fazer parte de uma dieta equilibrada e nutricionalmente saudável.

Por último, entram os ultraprocessados, que são formulações obtidas “por meio do fracionamento de alimentos do primeiro grupo” e que têm adição de corantes, aromatizantes, emulsificantes, espessantes e outros aditivos.

“Os três primeiros grupos da classificação nova compõem os padrões alimentares tradicionais e estabelecidos há muito tempo em todo o mundo, incluindo aqueles conhecidos por promover uma vida longa e saudável”, explica Fernanda.

Monize conta que o conceito de ultraprocessados da Nova é amplamente aceito na área da saúde, principalmente por nutricionistas, e que é suficiente para explicar todos os alimentos que estão incluídos na categoria. A professora aponta que é importante entender a diferença entre ultraprocessados e processados para a criação de um cardápio saudável e equilibrado.

Foto colorida de alimentos ultraprocessados, incluindo balinhas, barras de chocolate, copo de refrigerante, donuts, cookies e muffins - Metrópoles
Doces e refrigerantes são alguns exemplos de alimentos ultraprocessados com muito açúcar

Indústria considera classificação equivocada

O presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), João Dornellas, defende que o que define a qualidade de um alimento é sua composição nutricional, não a quantidade de processamentos. “Essa nomenclatura de ultraprocessados, em sua concepção, apresenta o processamento como algo nocivo, que descaracteriza ou desqualifica um alimento, o que não é verdade”, afirma.

Na visão das fabricantes de alimentos, separar “comida de verdade e de mentira” é irresponsável e injusto com a população, visto que a indústria tem investido na modernização do processamento e na melhora da tecnologia de alimentos.

“A indústria trabalha com inovação, o que permite que tenhamos hoje uma grande diversidade de alimentos, com diferentes perfis nutricionais, que possam atender às mais variadas necessidades e preferências das pessoas”, explica Dornellas.

Acesso aos ultraprocessados

Uma pesquisa brasileira, feita pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e publicada na edição de março dos Cadernos de Saúde Pública, mostra que os moradores das periferias brasileiras têm dificuldade para encontrar e comprar alimentos in natura e acabam consumindo mais ultraprocessados.

De acordo com o estudo, os moradores de favelas não têm tempo para cozinhar as refeições todos os dias, mas raramente saem para comer fora de casa. Os ultraprocessados são baratos e práticos para quem passa a maior parte do dia no trabalho ou escola e no deslocamento.

Os autores do trabalho argumentam que o problema não é só a oferta fácil e barata dos ultraprocessados. Os moradores das periferias precisam ter acesso a opções mais saudáveis, e uma opção é apostar em feiras de rua organizadas por órgãos públicos, onde os alimentos saudáveis e sem agrotóxicos podem ser comercializados por um preço mais baixo.

Siga a editoria de Saúde no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comSaúde

Você quer ficar por dentro das notícias de saúde mais importantes e receber notificações em tempo real?