“UE é epicentro da varíola dos macacos”, diz autoridade de saúde
Comissária da União Europeia pede esforço coordenado contra a doença. OMS recomenda redução de contatos sexuais entre homens
atualizado
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Em carta enviada nesta quarta-feira (27/7) aos 27 ministros da Saúde dos países da UE, Kyriakides pediu uma ação reforçada, concertada e coordenada. “Não há tempo para complacência, e precisamos continuar trabalhando juntos para controlar o surto”, afirmou a comissária.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 18 mil casos da doença foram registrados em 78 países, dos quais 70% estão na Europa e 25% nas Américas. Cinco mortes foram registradas desde maio, e cerca de 10% dos infectados precisam ser internados.
Na última semana, a OMS declarou que o surto de varíola dos macacos era uma emergência global. É o mais alto nível de alerta da organização, mas não significa necessariamente que uma doença seja particularmente transmissível ou letal.
Declarações semelhantes foram feitas para o surto de ebola em 2014 na África Ocidental, o vírus zika em 2016 na América Latina e o esforço contínuo para erradicar a pólio, além da pandemia de Covid-19.
Embora a varíola dos macacos esteja estabelecida por décadas em partes da África, até maio não se imaginava que ela se espalharia com velocidade ou que provocaria grandes surtos fora do continente. Nesse período, as autoridades detectaram dezenas de surtos na Europa, América do Norte e em outros lugares.
Vacinação
Kyriakides afirmou que as prioridades da UE nesta fase devem incluir um reforço na identificação e notificação de casos e na prevenção da propagação da infecção.
A Comissão Europeia, braço executivo do bloco, assegurou a compra de 160 mil doses de vacinas para a doença, e Kyriakides afirmou que dois procedimentos de aquisição conjunta estão em andamento para a compra de mais doses e do medicamento antiviral Tecovirimat, um dos remédios testados contra a doença.
A OMS recomenda uma vacinação focalizada das pessoas expostas a infectados ou com alto risco de exposição, como trabalhadores do setor da saúde e pessoas com múltiplos parceiros sexuais.
“No momento, não recomendamos vacinação em massa contra varíola dos macacos”, disse o chefe da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em audiência.
As vacinas, inicialmente desenvolvidas contra a varíola comum, que já foi erradicada há mais de 40 anos, são também efetivas para proteger contra a varíola dos macacos, mas há escassez de doses.
O principal imunizante disponível contra a doença é o Imvanex, produzido pela Bavarian Nordic, uma empresa de biotecnologia da Dinamarca. É a única vacina aprovada para uso contra varíola dos macacos nos Estados Unidos e na UE.
Segundo Tedros, há cerca de 16 milhões de doses da vacina Imvanex em estoque, mas a maior parte delas ainda não foi envasada. “Eles levarão alguns meses para encher os frascos e finalizá-los”, disse. Ele pediu que os países que já garantiram doses as compartilhem.
A Bavarian Nordic informou que está negociando uma ampliação de sua capacidade de produção, devido ao aumento da demanda mundial pela vacina. O valor das ações da empresa subiu 122% nos últimos três meses.
OMS sugere reduzir contato sexuais entre homens
O maior grupo de risco para varíola dos macacos são os homens que fazem sexo com homens. Cerca de 99% dos casos da doença fora da África foram registrados em homens, dos quais 98% envolviam homens que faziam sexo com homens, segundo a especialista da OMS sobre a doença, Rosamund Lewis.
Tedros afirmou, na última quarta-feira, que a melhor forma de proteção contra a doença seria reduzir o risco de exposição.
“Para homens que fazem sexo com homens, isso inclui, no momento, reduzir o número de parceiros sexuais, repensar fazer sexo com novos parceiros e trocar dados de contato com qualquer novo parceiro para permitir comunicações se necessário”, afirmou.
Especialistas ressaltam que a transmissão da doença ocorre por meio do contato físico próximo entre peles, como abraços e beijos, mas pode ocorrer também por meio de gotículas ou do contato com roupas de cama ou toalhas contaminadas.
A OMS tem alertado contra a estigmatização da doença, que poderia levar os infectados a evitar buscar tratamento. “Estigma e discriminação podem ser tão perigosos quanto qualquer vírus, e podem alimentar o surto”, afirmou Tedros.
Andy Sealle, que trabalha no programa da OMS para doenças sexualmente transmissíveis, disse que a comunicação para homens gays e bissexuais reduzirem o número de parceiros sexuais “estava vindo dessas próprias comunidades”.
Kyriakides, comissária da UE para Saúde, encorajou os ministros de países do bloco a intensificarem sua comunicação pública com os grupos de risco, e ressaltou que homens que fazem sexo com homens não devem ser atacados, vitimizados ou marginalizados por causa do surto.
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