Tudo sobre Annita (nitazoxanida): nova promessa contra Covid-19
Em laboratório, remédio conseguiu ser eficiente contra coronavírus, mas até virar um medicamento seguro para a infecção há um longo caminho
atualizado
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Depois da cloroquina e da ivermectina, a nitazoxanida entrou no radar da população brasileira por conta de um anúncio feito na última quarta-feira (15/03) pelo ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes. Sem revelar o nome para não estimular uma corrida às farmácias, ele afirmou que testes do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) tinham encontrado um medicamento já comercializado que apresentou 94% de eficácia em ensaios de laboratório contra o Sars-CoV-2.
Venda controlada
No dia seguinte, pipocaram especulações sobre qual seria o medicamento e seu princípio ativo. A charada foi resolvida pela própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que mudou as regras de comercialização do Annita (nitazoxanida) – um vermífugo bastante popular.
O remédio é usado para infecções do aparelho gastrointestinal provocadas por vírus, como o rotavírus, ou bactérias, como a ameba. O medicamento, em seu uso correto, tem contraindicações para pessoas com problemas no fígado ou nos rins.
Corrida frenética
No caso do Sars-CoV-2, a comunidade científica está em uma corrida frenética para encontrar tratamentos e vacinas. Quando aparece uma nova doença, é comum que os estudos comecem por medicamentos que já existem no mercado, testando por “aproximação” a efetividade deles para o problema a ser enfrentado.
A primeira etapa do trabalho são os testes na bancada do laboratório, que avaliam se o princípio ativo do medicamento consegue combater o vírus in vitro. O medicamento citado por Pontes está, justamente, nessa etapa. “Da chamada fase zero até a comercialização, o comum é que se leve, pelo menos, 10 anos”, explica a especialista em virologia e professora do Centro Universitário Saúde ABC, Flávia Gerhke.
Depois de encontrar a molécula correta capaz de reagir ao vírus, os pesquisadores precisam avaliar a toxidade da substância para, só então, passarem aos testes com pacientes em protocolos médicos. “Na bancada do laboratório, é possível conseguir muita coisa contra um vírus, mas, até que a efetividade e a segurança sejam comprovadas, é um longo caminho a ser percorrido”, pondera.
Ainda sem tratamento
Mesmo neste quadro de urgência mundial, a pesquisadora estima que pelo menos cinco anos sejam necessários entre os primeiros testes laboratoriais e a inclusão do medicamento em protocolos gerais de tratamento.
Desde que a pandemia alcançou o Brasil, 76 estudos sobre o coronavírus foram aprovados na Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep) do Conselho Nacional de Saúde, ligada ao Ministério da Saúde. Desses, 21 são protocolos de tratamento que envolvem ensaios clínicos.
Em pesquisa realizada na China, a nitazoxanida foi reprovada em uma fase anterior ao uso em humanos, na bancada do laboratório mesmo, pois a quantidade necessária da substância para matar o novo coronavírus se mostrou tóxica para o desenvolvimento de um fármaco.
Divulgado nesta semana, um estudo encomendado pela Associação Médica Americana (AMA), avaliou 109 artigos científicos sobre tratamentos clínicos – testes com medicamentos em pacientes – relacionados ao novo coronavírus. O resultado, entretanto, foi decepcionante. De acordo com a revisão, nenhum dos artigos conseguiu comprovar a eficácia dos tratamentos que vêm sendo aplicados.