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Três anos de pandemia: quais são os desafios da Covid para 2023

Há exatos três anos, a OMS declarava emergência de saúde pública internacional, o nível de alarme mais importante previsto pela entidade

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Ilustração colorida mostra pessoas conversando e balões de fala com imagens de coronavírus - Metrópoles
1 de 1 Ilustração colorida mostra pessoas conversando e balões de fala com imagens de coronavírus - Metrópoles - Foto: GettyImages

Há exatos três anos, em 30 de janeiro de 2020, observando a disseminação rápida do coronavírus, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decidiu soar o alarme mais forte previsto pela entidade. Decretou estado de emergência em saúde pública de preocupação internacional.

Em situações assim, o objetivo é alertar a comunidade internacional sobre “um evento extraordinário no qual há um risco de saúde pública para além das fronteiras dos países, e que requer uma resposta internacional coordenada”.

De lá para cá, 6,8 milhões de mortes ao redor do mundo e mais de 670 milhões de diagnósticos, de acordo com o site Our World in Data. Nesse período, a comunidade científica se uniu, conseguiu desenvolver medicamentos que funcionam contra o coronavírus, e vacinas inovadoras, eficazes e seguras.

A pandemia se desacelerou, e o mundo saiu do isolamento compulsório para uma vida quase “normal”, com recomendação de uso de máscara apenas em situações específicas. Medidas que restringiam a circulação das pessoas foram revogadas.

Ainda assim, a OMS não declarou o final do estado de emergência global. Há semanas, o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, garante que estamos “quase lá”.

“Enquanto estamos claramente em uma situação melhor do que estávamos há três anos, quando a pandemia começou, a resposta global coletiva está mais uma vez sob tensão. Sistemas frágeis estão com dificuldade de lidar com o fardo da Covid-19 enquanto enfrentam outras doenças, incluindo a influenza e VSR. Vigilância e sequenciamento genético caíram dramaticamente, dificultando o acompanhamento das variantes e detecção de novas cepas”, alertou o diretor-geral em coletiva de imprensa concedida na última terça (24/1).

Ghebreyesus alerta que o volume de fake news e pseudo-ciência sobre a Covid-19 tem aumentado, minando a confiança da população em ferramentas seguras e eficazes contra a doença. “Minha mensagem é clara: não subestimem este vírus, ele já nos surpreendeu e continuará assim. Ele vai continuar matando pessoas, a não ser que façamos mais para garantir o acesso de ferramentas de saúde a quem precisa”, afirmou o chefe da OMS.

Equilíbrio na vigilância

A diretora técnica da OMS, Maria Van Kerkhove, destacou que é importante encontrar um equilíbrio na vigilância epidemiológica e no sequenciamento genético. Se, por um lado, é impossível manter os mesmos níveis de rastreamento registrados durante os picos de casos, ou após a identificação das novas variantes, por outro, não se pode parar de investigar o vírus.

“É preciso testar para garantir que os pacientes recebam o tratamento adequado o mais rápido possível e possam se isolar, evitando contaminar outras pessoas, e para que os governos possam calibrar a resposta do sistema de saúde”, afirmou durante a coletiva de imprensa.

Outro ponto importante é que a vigilância permite aos cientistas acompanhar o coronavírus de perto para perceber com antecedência se ele começar a agir de forma diferente em grupos de risco. “Não esperamos que se mantenha o mesmo nível, mas precisamos testar com propósito”, destacou a diretora da OMS.

O epidemiologista e professor da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB), Jonas Brant, conta que, no Brasil, o ideal seria começar pelo fortalecimento da vigilância sentinela, um sistema que já funciona monitorando algumas unidades de saúde para ter noção do que está acontecendo em uma área determinada. “Fortalecendo essa vigilância, evitaríamos sobrecarregar a rede laboratorial com testes de diagnóstico e poderíamos tomar medidas antecipadas para garantir a saúde da população”, ensina.

Por aqui, outros desafios são garantir o acesso ao teste em regiões mais distantes e aumentar a velocidade dos resultados. “Precisamos que uma pessoa que tenha suspeita da doença em uma cidade pequena consiga ser rapidamente testada. Por enquanto, temos só discussões sobre se o melhor seria descentralizar a capacidade de testagem ou melhorar a logística”, afirma.

Definição do calendário vacinal para a Covid-19

Um dos pontos principais para garantir o fim da pandemia é que a população esteja vacinada. Porém, ainda não se sabe exatamente qual a frequência de reforço e quais populações deveriam recebê-lo.

Nas últimas semanas, o CDC, órgão americano equivalente ao Ministério da Saúde, afirmou que, com as evidências disponíveis até agora, se sabe que há necessidade de reforço para os grupos de risco — mas ainda não há certezas sobre a necessidade de vacinação universal, para todas as faixas etárias.

“Não temos padrão definido de sazonalidade do vírus e nem recomendação de revacinação para jovens ainda — com o que sabemos, não há evidência de que pessoas com menos de 50 anos, vacinadas e sem fatores de risco, desenvolvam quadros graves de Covid-19 que justifiquem o reforço”, explica o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri.

Segundo o infectologista, ainda é cedo para a determinação de um padrão de revacinação — e se algum país já decidiu, o fez equivocadamente. Com as informações disponíveis até o momento, o importante é continuar protegendo os grupos de risco. “Até porque é algo muito dinâmico, daqui a pouco surge uma nova variante e muda tudo. À luz das evidências que temos hoje, o ideal por enquanto é seguir como estamos”, afirma.

População também tem seu papel

Jonas Brant, da UnB, lembra que, a essa altura da pandemia, a população precisa se manter consciente sobre o que fazer para evitar a contaminação e propagação do vírus. Segundo ele, as pessoas precisam ser capazes de identificar riscos. “É a probabilidade de alguém se expor ao vírus. No momento em que há um número pequeno de casos na minha comunidade, posso abandonar algumas medidas de biossegurança. Ao mesmo tempo, quando os casos estão altíssimos, preciso estar muito mais atento ao risco de infecção e usar todas as medidas possíveis”, aponta.

Alguns exemplos já clássicos de cuidado são usar máscaras, lavar as mãos e manter o distanciamento. Coletivamente, é necessário garantir a ventilação dos ambientes e diminuir a densidade de pessoas em grandes eventos e meios de transporte.

Outra medida fundamental é garantir que a vacinação esteja em dia — já se sabe que os imunizantes são capazes de prevenir casos graves, e que as mutações do coronavírus seguem acontecendo, o que torna a aplicação das fórmulas ainda mais importante.

“Ainda é cedo para dizer que a pandemia terminou. Ainda temos alguns aprendizados a serem incorporados, mas se adotarmos as medidas de acesso à vacinação, testagem, vigilância e orientação da comunidade, podemos minimizar e muito o impacto da Covid-19, chegando até a níveis aceitáveis de casos ou quantidades ‘normais’ de óbitos por doenças respiratórias”, conclui o professor.

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