Traumas deixados pelo coronavírus são desafio para a saúde mental
Chineses estão traumatizados e com medo após enfrentar a Covid-19. Universidade abriu uma linha direta para conversar com a população
atualizado
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Após uma intensa batalha contra o novo coronavírus, a China, primeiro país a ser epicentro da pandemia de Covid-19, agora precisa lidar com as consequências deixadas na saúde mental da população. O país oriental passou pela fase mais difícil e retoma gradualmente o trabalho e a normalidade, mas as pessoas estão enfrentando traumas deixados pelo pânico que passam desde o início do ano.
A Universidade Normal de Pequim, afirma que muitos chineses estão voltando às suas atividades, mas boa parte vem pedindo ajuda profissional para superar. O setor de psicologia da instituição abriu uma linha direta para eles e revela que a procura tem sido frequente.
O medo de ser contaminado agora ou de ter contraído a doença durante a epidemia no país são os principais problemas apontados, além de distúrbios de somatização, como dores de cabeça ou insônia. Ganho de peso, depressão, medo, culpa e ansiedade também são sintomas comuns relatados por eles. Em casos mais graves, há os que sofrem com ataques de pânico e Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Policiais, equipes médicas e assistentes sociais são os mais vulneráveis e os mais resistentes a mostrar seus sentimentos. Estudantes, segundo a Universidade Normal de Pequim, também estão propensos aos pensamentos negativos, principalmente por serem os mais isolados e por resistirem a estabelecer relações sociais.
O Centro de Psicologia da instituição explica que após o contato, a gravação das conversas são excluídas depois de três dias. Caso os conselheiros detectem sinais de tentativa de suicídio, eles entram em contato com autoridades locais para tomar as medidas necessárias e o número destas pessoas são guardados para serem contactados no futuro.
Mais de 600 especialistas em aconselhamento, entre professores e estudantes de pós-graduação, estão participando do programa. Na Universidade Normal de Pequim, os voluntários têm uma média de 100 horas de aconselhamento.
O líder e supervisor do projeto, professor Wang Jianping, está preparando a equipe para a próxima etapa do trabalho: aconselhamento sobre luto. Os conselheiros esperam mais ligações nos próximos meses, pois as pessoas que perderam alguém durante a epidemia devem precisar de tempo para se curar e ajudar a superar sua dor.
Preocupação no Brasil
A forma como o coronavírus vai impactar as nações daqui por diante são vistas com preocupação não só na China. O sinal de alerta está aceso entre especialistas e grupos voluntários no Brasil, que temem que a preocupação com a saúde mental seja colocada de lado e se torne algo mais grave no futuro.
Um grupo do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas e do Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) revisou as implicações para a saúde mental em epidemias como a do ebola e do zika vírus, que podem servir como parâmetro para o pós-coronavírus. O artigo foi publicado este mês na Revista Brasileira de Psiquiatria.
O texto ressalta que a adoção de medidas que preservem a saúde mental das pessoas ajudam a amenizar a crise que os serviços de saúde enfrentam contra as próprias doenças.
Os cuidados devem ser a curto, médio e longo prazo, e precisam atingir todas as pessoas: as que passam pelo isolamento social e enfrentam diversos medos – seja da doença, da morte, do desemprego -; as que enfrentam o luto pela perda dos parentes; e os profissionais que estão na linha de frente de combate, como os de saúde, resgate e de serviços policiais.
Atitudes simples ajudam
A Universidade Normal de Pequim sugere que todas as pessoas que estão enfrentando traumas por conta da pandemia podem ter atitudes simples que podem ajudar a evitar os pensamentos negativos. Veja algumas delas:
– Diminua ou corte a leitura de fontes de informação negativa nas redes sociais;
– Desenvolva vários hobbies: exercícios, leitura e até culinária ajudam a aliviar o estresse;
-Não tente “carregar” tudo sozinho. É importante conversar sempre com amigos e familiares;