Primeiro teste de sangue para endometriose pode acelerar diagnóstico
O teste, chamado de PromarkerEndo, foi desenvolvido da Austrália e deve estar disponível no segundo trimestre deste ano
atualizado
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Um exame de sangue capaz de diagnosticar endometriose, doença que afeta milhões de mulheres no mundo, está mais próximo de se tornar realidade. Chamado de PromarkerEndo, o teste foi desenvolvido por uma empresa australiana e deve estar disponível no país já no segundo trimestre deste ano.
De acordo com um estudo publicado na revista Human Reproduction, o PromarkerEndo apresentou 99,7% de precisão para diferenciar casos graves de endometriose de pacientes sem a doença, mas com sintomas semelhantes. Nos estágios iniciais, a precisão foi superior a 85%.
“O avanço marca um passo significativo em direção ao diagnóstico não invasivo e personalizado para uma condição que há muito tempo carece de soluções médicas adequadas”, destacou Richard Lipscombe, diretor da Proteomics International, empresa por trás da patente.
A endometriose é caracterizada pelo crescimento de tecido semelhante ao endométrio – que reveste o útero – em outras partes do corpo, como ovários e intestino, formando lesões. A condição pode causar dores intensas, infertilidade e outros problemas graves. Hoje, o diagnóstico definitivo só é possível por meio de laparoscopia.
Teste de sangue para endometriose
A pesquisa que deu origem ao PromarkerEndo foi realizada em colaboração com a Universidade de Melbourne, na Austrália, e o Royal Women’s Hospital.
No estudo, exames de sangue de 749 mulheres, a maioria de origem europeia, foram analisados. Todas as participantes haviam se submetido à laparoscopia, permitindo que os pesquisadores comparassem os casos confirmados de endometriose com aqueles que tinham sintomas semelhantes, mas sem a doença.
Os cientistas usaram algoritmos para identificar quais proteínas no sangue poderiam prever a presença da endometriose. Um painel de 10 proteínas mostrou uma “associação clara” com a doença. Os biomarcadores da PromarkerEndo podem diferenciar entre pacientes com e sem endometriose, mesmo em estágios iniciais.
O ginecologista Peter Rogers, da Universidade de Melbourne, classificou os resultados como um “passo significativo” para atender a necessidade de um teste não invasivo e preciso para a endometriose. No entanto, ele alertou que ainda há refinamentos a serem feitos, principalmente em relação à variabilidade dos resultados e à possibilidade de casos positivos não diagnosticados estarem no grupo de controle.
O impacto para as pacientes
De acordo com a ginecologista Bárbara Freyre, que não participou do estudo, a vantagem do teste será a redução do tempo médio até o diagnóstico. Hoje, mulheres com endometriose levam cerca de sete anos desde o início dos sintomas até a confirmação da doença.
“Nesse período, as pacientes sofrem não apenas com as dores físicas, mas também com o impacto psicológico de não terem seu sofrimento validado pela falta de diagnóstico. O exame pode mudar isso ao possibilitar o diagnóstico precoce e o tratamento nos estágios iniciais, reduzindo complicações como dores crônicas e infertilidade”, explica a médica.
Além disso, o PromarkerEndo pode transformar a abordagem médica para a doença, já que os sintomas da endometriose são muito variados – vão de cólicas menstruais a alterações intestinais e dor durante relações sexuais –, o que dificulta o reconhecimento precoce pelos profissionais de saúde.
Apesar dos resultados promissores, a ginecologista ressalta que ainda há desafios para a implementação do teste em ambiente clínico. Entre eles estão a necessidade de mais evidências científicas robustas, questões de acessibilidade e custo do exame, além de possíveis limitações na sensibilidade e especificidade.
“Um teste pode apresentar falso positivo – indicando a doença em uma paciente que não a tem – ou falso negativo, deixando de diagnosticar alguém com endometriose”, alerta Bárbara.
Caso seja aprovado pelas autoridades regulatórias australianas, o teste promete ser um grande aliado no diagnóstico da endometriose, mas não substituirá totalmente a laparoscopia. Isso porque, embora o exame de sangue ofereça uma alternativa menos invasiva para a detecção da doença, o procedimento continua sendo essencial para o tratamento, já que permite a retirada das lesões, aliviando os sintomas das pacientes.
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