Teste de alergia em farmácias: entenda os riscos do autodiagnóstico
Médicos temem que a facilidade de acesso aos testes de alergia nas farmácias leve os pacientes a interpretar erroneamente os resultados
atualizado
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Apesar de aumentar o acesso da população a exames e diagnósticos, a ampliação do número de testes possíveis de serem realizados em farmácias não foi recebida como consenso na comunidade médica.
A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) alerta para a possibilidade de os testes rápidos relacionados às alergias alimentares gerarem confusão entre os pacientes, levando-os a restringirem alimentos importantes sem necessidade.
“A nossa questão não é com a técnica ou o exame realizado em farmácia, mas com a indicação do exame e sua posterior interpretação. Muitas pessoas acham que têm alergias alimentares e, quando investigam a fundo, isso não se confirma”, aponta a médica Lucila Camargo, coordenadora do Departamento Científico de Alergia Alimentar da ASBAI.
A especialista destaca a necessidade de que os exames sejam interpretados de maneira fundamentada, resultando em uma orientação adequada para o quadro. “Um leigo não têm a expertise necessária para a interpretação do resultado. O paciente pode ser vítima de uma interpretação errônea ou de um autodiagnóstico, que comprometa sua saúde”, afirma a médica.
De acordo com a resolução da Anvisa, os exames realizados em farmácias têm apenas a função de triagem. Ou seja, não há garantias de que o paciente buscará a devida orientação após o resultado.
Alergias e testes
As alergias são reações adversas às proteínas presentes em alimentos. Também podem ser desencadeadas por alérgenos encontrados na poeira doméstica, nas plantas, no veneno de insetos e na formulação de medicamentos. Estima-se que entre 10% a 12% da população sofra de alguma manifestação alérgica.
Atualmente existem diferentes testes que auxiliam no diagnóstico. O exame de sangue que detecta a presença da imunoglobulina E (IgE) – uma classe de anticorpos produzida pelo organismo para combater substâncias inofensivas geralmente associadas a alergias – e os de IgG e IgG4 específicas, que são utilizados para a avaliação de alergias alimentares.
Segundo Lucila Carmargo, a presença isolada de IgE específica em testes de farmácia ou de laboratório não diagnostica alergia. O resultado positivo constata apenas sensibilização alérgica, um estado anterior ao problema de saúde.
Os testes de IgG e IgG4 específicas também não têm valor de diagnóstico isoladamente. “Os resultados são apenas uma peça do quebra-cabeça. Não confirmam o diagnóstico de alergia. Para isso, é preciso juntar mais peças e isso apenas o médico especialista vai saber fazer”, explica Lucila.
Riscos do autodiagnóstico
No contexto das alergias alimentares, a especialista afirma que são frequentes superdiagnósticos baseados apenas nas dosagens de anticorpos IgE específicos positivos, principalmente em indivíduos com dermatite atópica.
Ao abrir e tentar interpretar o resultado por conta própria, o paciente acaba caindo no erro de cortar alimentos da dieta antes de ter a confirmação médica. De acordo com Lucila, é frequente o especialista receber pacientes com dietas muito restritivas que são desnecessárias.
Orientação médica
De acordo com a Anvisa, os exames de triagem não precisam de prescrição médica. A agência entende que o farmacêutico é um profissional de saúde habilitado para interpretar o resultado, bem como fazer orientação ao usuário.
“Do ponto de vista sanitário, os exames que venham a ser realizados em farmácias, que são exames de triagem, não precisam de prescrição médica para a realização. É um serviço que a farmácia pode oferecer, cumprindo-se para isso todas as exigências e limitações previstas nas normas, aponta a Anvisa em nota enviada ao Metrópoles.
Segundo Lucila, o ideal é que o paciente realize os testes com orientação de um médico alergista e volte para uma consulta de análise dos resultados para evitar interpretações equivocadas.
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