Terapia alvo amplia vida de pacientes com câncer de pulmão
Exames com biomarcadores conseguem direcionar o tratamento de maneira mais eficiente. Desafio é torná-los mais acessíveis à população
atualizado
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BOGOTÁ – O câncer de pulmão é um dos mais complicados tipos da neoplasia maligna. Sem protocolo para detectar o desenvolvimento anormal de células no grupo de risco (como se faz com o câncer de mama, por exemplo, com mamografias anuais a partir dos 50 anos), e sintomas genéricos (tosse, dor no tórax e perda de peso são alguns deles), o paciente é normalmente diagnosticado já em estágio avançado da doença. Com o tratamento padrão de quimioterapia, a expectativa é que esta pessoa sobreviva mais oito meses — 18,4% de todas as mortes por câncer do mundo são causadas pela variedade específica do pulmão, segundo o levantamento Globocan 2018.
Porém, segundo o oncologista argentino Claudio Martin, chefe de oncologia do Instituto Alexander Fleming, este cenário está mudando e, em alguns anos, o paciente pode nem ter data definida para o fim da vida e ir manejando o câncer. “Creio que estamos iniciando o caminho da cronificação. Cada vez mais pacientes usando imunoterapia e terapia alvo têm conseguido controlar a doença por um tempo prolongado. Isso, há pouco tempo, era impensável. É uma realidade que vai se tornar mais popular. Vamos descobrindo mais biomarcadores e estão surgindo novos medicamentos específicos. Acredito que chegaremos lá”, afirma.
Durante o Seminário de Câncer de Pulmão para Jornalistas, que aconteceu na quarta-feira (13/11/2019), na Colômbia, e foi organizado pela Pfizer, o médico explicou que o caminho para esta mudança pode ser definida em apenas uma palavra: biomarcadores. A pesquisa no organismo por sinais específicos sobre o tipo do câncer direciona o tratamento e o torna mais eficaz.
O paciente com câncer que faz um sequenciamento genético para descobrir qual é a mutação (biomarcador) específica do seu tumor pode se beneficiar do tratamento com terapias direcionadas (terapia alvo) e viver muito além dos oito meses ganhos com a quimioterapia. De acordo com o especialista, a expectativa de vida para quem fez o exame de biomarcadores aumenta, em média, para 30 meses de vida (dois anos e meio).
Em um estudo francês de 2017, por exemplo, que acompanha pacientes se tratando com terapia alvo, cerca da metade dos participantes continua viva depois de 89 meses (sete anos) do início do tratamento.
Mas ainda há muitos desafios a serem ultrapassados até que essa seja uma realidade palpável para a população da América Latina. Para começar, apenas 38% dos pacientes passa, de fato, pelo teste para detectar os biomarcadores e definir as mutações para a escolha de um medicamento que funcione melhor para a doença específica de cada um. Outro problema é que a maioria destes testes são feitos pela indústria farmacêutica — no Brasil, há uma união de três empresas para oferecer esse tipo de exame –, a não-distribuição pelo sistema público dificulta o acesso.
O terceiro ponto é que ainda é preciso extrair muitas amostras do tumor para fazer os testes. Além de extremamente invasivo para o paciente, é caro: por isso, as novas apostas do segmento são a biópsia líquida, que procura o DNA do câncer que circula na corrente sanguínea, e na tecnologia que faz sequenciamento genético de forma mais abrangente.
E tudo isso precisa chegar ao sistema público de saúde. As diretrizes de tratamento para câncer de pulmão na rede pública previstas na portaria 956 de 2014 são de cirurgia (nos casos onde o tumor é operável), quimioterapia e radioterapia. O tratamento com terapia alvo, considerado o ideal para direcionamento específico de cada caso, tem alguns medicamentos aprovados no país, mas ainda são muito caros e não foram incorporados pelo SUS.
“A questão do preço é uma discussão de cada governo, mas da forma que está, não creio que seja uma situação que se sustente. É preciso baratear para o futuro. Ainda é muito difícil tê-los no sistema de saúde, nossos países obviamente têm muitas outras necessidades urgentes. É um assunto complicado, mas que deve ser discutido para o bem dos pacientes e até da própria indústria”, diz Claudio.
Tabagismo
O câncer de pulmão, especificamente, tem pouca relação com a genética: a maior parte dos casos está ligada ao consumo de cigarro. O tabaco e as outras substâncias presentes no produto, quando queimadas e inaladas, favorecem o surgimento da doença e são o maior fator de risco para desenvolver a neoplasia. Outros fatores de risco são a exposição à radiação, fumaça de lenha queimada e inalações de produtos químicos.
A repórter viajou a convite da Pfizer.