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“Temos que esquecer a politização e focar no controle da pandemia”, diz OMS

Para Tedros Ghebreyesus, Covid-19 escancarou desigualdades mas mostrou importância da ciência

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Tedros Adhanom Ghebreyesus, Director-General of the World Health Organization
1 de 1 Tedros Adhanom Ghebreyesus, Director-General of the World Health Organization - Foto: Photo: Sven Hoppe/dpa (Photo by Sven Hoppe/picture alliance via Getty Images)

A Organização Mundial de Saúde (OMS) realizou, na tarde desta segunda-feira (28/12), a última coletiva de imprensa do ano sobre a pandemia de Covid-19. A teleconferência foi marcada por reflexões acerca dos avanços científicos alcançados no trabalho contra o coronavírus. “Precisamos construir uma rede de solidariedade global para deixar de lado politizações e colocar à frente o que realmente importa: controlar a pandemia”, destacou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Ghebreyesus relembrou as medidas tomadas pela OMS para o controle da pandemia desde o início do ano, quando as notícias sobre a doença começaram a ser conhecidas pela comunidade científica. “Estamos trabalhando com cientistas de todo o mundo para tentar entender as mudanças no vírus e como elas alteram o tratamento e as vacinas”, detalhou. “Cientistas do Reino Unido e da África guiarão nossos próximos passos.”

O diretor-geral da OMS destacou, ainda, que novos desafios — como a nova cepa da doença, descoberta recentemente — serão, provavelmente, uma constante a partir de agora. “Esse é um momento para refletirmos sobre os progressos e lições que aprendemos até agora, bem como o que devemos fazer no ano que vem”, disse.

Uma das principais metas da agência internacional, de acordo com Tedros, é garantir o acesso aos imunizantes para todos os países o mais rápido possível. De acordo com ele, a pandemia “expôs o nível de pobreza, desigualdade e exclusão” no mundo. “Saúde sozinha não será a solução. Temos que enfrentar o real problema da sociedade, que é a inequidade”, analisou. “Isso significa implementar sistemas que se importem com o mundo como um todo, incluindo temas como o aquecimento global.”

Tedros emocionou-se ao mencionar a situação de seu país-natal, a Etiópia. “Se não bastasse a Covid-19, esse ano foi particularmente difícil para mim porque minha nação está em perigo”, desabafou. “Tenho muitos parentes lá, incluindo meu irmão mais novo, que não sei onde está. Não consigo me comunicar com eles. Carregar isso tem sido muito difícil, mas vejo esperança no futuro.”

David Heymann, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, no Reino Unido, afirmou que a troca de informações entre países, pesquisadores, empresários e outros profissionais envolvidos no combate ao coronavírus fez com que a OMS “entendesse rapidamente o vírus, apesar das tensões políticas que possam ter acontecido”.

Segundo o especialista, uma das descobertas mais importantes é a de que o coronavírus tem surtos locais que podem ser contidos. “Se descobrirmos esses surtos mais cedo, poderemos identificar onde a transmissão começou e acabar com ela, evitando lockdowns completos”, detalhou. “A Ásia já nos mostrou que não é necessário fazer lockdowns em comunidades inteiras, somente onde há os surtos. Isso pode fazer com que a economia local não pare.”

Novos testes, mais rápidos e precisos, estão a caminho e são outras estratégias de enfrentamento da doença, de acordo com Heymann. Contudo, o especialista chamou a atenção para a necessidade de manter condutas de prevenção já conhecidas, como o distanciamento social. “Manter a proibição de aglomerações é essencial, já que o vírus continuará mutando enquanto se reproduzir em células humanas”, frisou.

Novas variantes do vírus

A nova cepa de SARS-CoV-2, descoberta recentemente no Reino Unido, pode não ser a única, segundo Maria Van Kerkhove, epidemiologista da OMS. “Quanto mais o vírus circula, mais ele tem chances de mutar”, explicou a médica. “Cada mutação deve ser avaliada propriamente, mas devemos entender primeiro porque ele muda.”

De acordo com Kerkhove, duas variações do coronavírus foram detectadas no Reino Unido e na África, onde pesquisadores do mundo inteiro tentam entender as consequências das mutações. “Nossa equipe de pesquisadores está realizando testes laboratoriais para estudar a neutralização dos anticorpos destas variantes, mas os estudos levam tempo e ainda não estão completos.”

A especialista explicou que os pesquisadores ligados à OMS estão cultivando as novas cepas do Sars-CoV-2 para estudar a neutralização de cada um, bem como descobrir se há diferenças na transmissão deles. “Quanto mais avançarmos nessa pandemia, mais mutações serão identificadas. Esperamos novos resultados dos estudos para as próximas semanas”, avaliou Kerkhove.

“Vimos a centralidade da saúde durante essa pandemia quando o mundo todo ficou doente”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Todos nos tornamos reféns desse vírus. Afetou a economia, nosso tecido social, nossa política, tudo. No futuro, investir em saúde deve ser prioridade para todos os países do mundo. A visão da OMS é que agora é a hora de tratar a saúde de forma realmente séria.”

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