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Telemedicina: como médicos ajudam pacientes de UTIs da Covid-19 a distância

Especialistas de grandes hospitais do país fazem videoconferências com profissionais que atuam em cidades menores

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Pessoa em UTI
1 de 1 Pessoa em UTI - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Há alguns anos, o intensivista pediátrico Felipe Cabral, coordenador médico de saúde digital do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, recebeu uma ligação da mãe, que mora no Rio de Janeiro, relatando dificuldade para urinar. Sabendo do histórico de infecção urinária recorrente da mulher, ele a medicou a distância e logo o problema passou.

Dias depois, ele recebeu em sua UTI um adolescente de 16 anos, que se machucou durante um jogo de futebol com amigos. O jovem era de uma cidade pequena, sem atenção médica específica e longe de um centro médico de referência. A infecção se espalhou e, até conseguir a transferência, o rapaz chegou aos cuidados de Felipe em choque séptico e acabou falecendo. “Esse episódio me marcou. Se ele tivesse tido atendimento de um profissional a distância, como minha mãe teve, não teria morrido. A partir daí, esse se tornou meu propósito: viabilizar atendimento de qualidade em todos os cantos do país”, conta o médico.

Em tempos de coronavírus, e com a chancela do Ministério da Saúde, a telemedicina para pacientes internados com a Covid-19 em estado grave se tornou possível. Por meio de uma parceria público-privada, o Proadi-SUS, médicos especialistas de cinco grandes centros médicos podem ser consultores em hospitais a quilômetros de distância. Felipe, por exemplo, atende do Rio Grande do Sul a um hospital público de Sobral, no Ceará. Participam do projeto os hospitais Albert Einstein, Moinhos de Vento, Sírio-Libanês, HCor e Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

O contato entre as duas equipes, local e remota, acontece por meio de uma chamada de vídeo diária. Os hospitais do SUS atendidos normalmente não possuem intensivistas (especialidade relativamente recente que trata de pacientes em estado gravíssimo), ou têm médicos com pouca experiência no trato específico da Covid-19.

“O que o projeto tenta fazer é levar o intensivista, a partir de um sistema de áudio e vídeo, a qualquer lugar do país, nos mesmos moldes que fazem as maiores UTIs do mundo. Temos um profissional sênior, que coleta as informações com a equipe in loco e ajuda a definir o plano terapêutico. Costumamos dizer que o tsunami começou em São Paulo e temos a responsabilidade de compartilhar a experiência adquirida”, conta Adriano Pereira, coordenador médico da tele-UTI adulto do Hospital Israelita Albert Einstein.

O médico explica que não ver o paciente fisicamente, quando se trata de alguém intubado e respirando por aparelhos, não faz tanta diferença: o exame físico, nesses casos, não pode ser feito de maneira detalhada. De toda forma, a equipe responsável pelo atendimento presencial faz todos os exames e relata os resultados. “Para fazer as indicações, nos apoiamos substancialmente nas informações que os colegas repassam”, diz.

Felipe afirma ainda que uma boa relação entre os médicos dos dois lados da tela é imprescindível para que o tratamento flua da melhor forma possível. “Tem que se tornar amigo e conversar todo dia para garantir uma relação de confiança e cumplicidade. Percebemos que nos primeiros contatos, a equipe in loco ficava um pouco desconfortável em compartilhar as informações. Os médicos de lá são os nossos olhos. Trabalhando juntos conseguimos diminuir o tempo de internação em 50% em alguns hospitais e a mortalidade em pelo menos 30%”, explica. Para melhorar o atendimento, que sofria com a instabilidade da internet, o projeto chegou a custear a instalação de um equipamento mais moderno em alguns centros médicos.

De acordo com Adriano, uma situação encarada com frequência pelos médicos do projeto é a demora dos colegas com menos experiência em colocar o paciente na ventilação mecânica com receio que o quadro não seja revertido. “Se você deixa passar o momento, a colocação do aparelho pode ser dramática. Temos visto que, quanto mais inexperiente é o profissional, mais ele demora para fazer a transição”, explica. Com o atendimento remoto de um especialista, o médico fica mais seguro.

Do outro lado, os médicos do SUS também contam que o contato com intensivistas que estão há meses tratando pacientes com Covid-19 é muito produtivo e valioso. “Além de um crescimento profissional, nos traz segurança. As instituições têm credibilidade e ficamos mais confiantes em passar os dados e discutir os casos. Olhar no rosto do colega, mesmo que por videoconferência, nos dá confiança”, conta Gustavo Picolotto, médico pneumologista responsável pelas internações da Covid-19 e UTI Covid-19 no Hospital de Clínicas de Passo Fundo, no  interior do Rio Grande do Sul.

Ele explica que, no hospital que trabalha, há intensivistas na UTI geral, mas não na área específica para pacientes com coronavírus. Apenas na última quinta-feira (6/8), uma profissional foi destacada para o atendimento. “Para mim, o mais importante dessa troca é a tranquilidade e o conforto de saber que estamos fazendo o máximo e o melhor pelos nossos pacientes”, afirma.

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