Técnica criada no DF reduz risco em cirurgia de aneurisma complexo
Médico brasiliense desenvolveu novo modelo para operar casos complexos de aneurisma. Técnica representa maior rapidez no tratamento
atualizado
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Uma nova técnica de cirurgia de casos complexos de aneurisma da aorta abdominal, desenvolvida pelo médico brasiliense Gustavo Paludetto, cirurgião endovascular e chefe da Hemodinâmica do Hospital Santa Lúcia de Brasília, foi determinante para a recuperação rápida do pai de Maria Keila, de 45 anos, professora e moradora de Ceilândia.
Há cerca de dois anos, quando Josa Galdino de Lima tinha 80 anos e realizou um exame na barriga, foi descoberto um aneurisma em sua aorta localizada na região do abdômen. “Foi por acaso que descobrimos, uma surpresa para toda a família”, conta Maria.
A partir daí, começou a busca pelo tratamento. Mas, naquela época, segundo a professora, o aneurisma ainda não necessitava de cirurgia. Mesmo assim, o pai dela foi acompanhado pela equipe de Paludetto, realizando exames para verificar o desenvolvimento do aneurisma.
A técnica desenvolvida pelo médico consiste na adaptação de um modelo de stent que não existia no Brasil. O tratamento disponível anteriormente era mais caro, demorado e arriscado quando há risco iminente de rompimento do vaso.
Quando acontece a ruptura do aneurisma de aorta, as principais consequências são hemorragias que podem levar o paciente à morte em pouco tempo. Por isso, o tempo é crucial no tratamento. Existem duas formas de se operar casos de aneurisma, que é a cirurgia convencional por corte, mais agressiva e com mais riscos para o paciente, e a operação endovascular (cateterismo), menos invasiva, realizada através de dois furinhos na virilha com instalação de um stent, minimizando os danos ao paciente e permitindo uma rápida recuperação.
Mas, em alguns casos, quando não há cateter adequado para o corpo do paciente, é necessário encomendar um modelo customizado que só existia na Europa e Estados Unidos.
“Não é possível fazer um stent para todo mundo, cada pessoa tem uma anatomia diferente. Quando o paciente não podia ser atendido pelos stents disponíveis no Brasil, era necessário fazer solicitação para uma empresa americana ou europeia confeccionar um modelo específico para cada paciente. Essa peça custa mais de R$ 100 mil e leva entre quatro e seis meses para chegar no Brasil. Um paciente com aneurisma grande, com risco de romper, não pode esperar seis meses para ser operado”, destaca Paludetto.
A técnica criada pelo médico e sua equipe, que foi publicada em artigo na revista científica europeia European Journal of Vascular and Endovascular Surgery (EJVES Vascular Forum), anuncia melhorias para os tratamentos de aneurismas complexos, onde as artérias dos órgãos viscerais se originam dentro do aneurisma.
“Nós entendemos a customização necessária para esse tipo de tratamento e desenvolvemos uma forma de conseguir o mesmo dentro da plataforma de stents que já existem no Brasil”, explica Paludetto. “Modificamos o stent disponível para fazer a adaptação sob medida para cada paciente. É um material que existe inclusive pelo SUS. Possibilitamos fazer o tratamento de forma mais rápida”, acrescenta o médico.
Em junho de 2021, foi constatado que era hora de Josa ser submetido a uma cirurgia, onde já foi aplicado o novo método. “Ter conseguido esse tratamento foi muito importante para nos tranquilizar. Achávamos que seria uma cirurgia mais complicada. Eu não sabia que existia esse método e foi espetacular”, relata Maria Keila.
Segundo a professora, o pai de 82 anos nem parece que passou por uma cirurgia. “Ele é bem ativo e, olhando fisicamente, não imaginamos que ele passou por uma cirurgia de aneurisma. Ele se recuperou tranquilamente e rapidamente depois do procedimento”, conta.
De acordo com estudo da American Heart Association, o aneurisma da aorta abdominal é mais frequente em homens mais velhos que têm pelo menos um ou mais fatores de risco, incluindo enfisema, histórico familiar, pressão alta, colesterol alto, tabagismo e obesidade. Entretanto, mulheres com o problema geralmente sofrem rupturas com mais frequência e com aneurismas de tamanhos menores.