Supernutrição na infância provoca alterações metabólicas, diz estudo
Experimento em ratos mostrou que alimentação exagerada no início de vida antecipa problemas futuros como dificuldade de metabolizar açúcar
atualizado
Compartilhar notícia
Antigamente, para um bebê ser considerado saudável, ele precisava ser gordinho. Alimentar demais uma criança, contudo, pode fazer mais mal do que bem. De acordo com pesquisa feita pela Baylor College of Medicine, a supernutrição na infância pode estar relacionada ao desenvolvimento de doenças crônicas na idade adulta, como a diabetes tipo 2. O trabalho foi publicado na revista especializada Environmental Epigenetics.
Para realizar o experimento, os cientistas utilizaram três grupos de camundongos: um foi alimentado excessivamente, outro recebeu alimentação normal e o último serviu como grupo de controle. Os pesquisadores, então, exageraram na oferta de comida para os filhotes do grupo 1 durante os primeiros 21 dias de vida. Os ratos que comeram demais apresentaram metilações no DNA, ou seja, mudanças químicas que alteraram a expressão genética dos bichos. Ratos que foram alimentados normalmente apresentaram tais modificações na vida adulta.
Essas alterações genéticas são associadas ao mau funcionamento das ilhotas pancreáticas, responsáveis pela produção de insulina e glucagon, substâncias que agem como importantes reguladores do metabolismo de açúcar. Outros estudos demonstraram que pacientes com diabetes tipo 2 também apresentam tais alterações, o que indicaria que os animais superalimentados estariam, portanto, mais propensos a desenvolver a doença.
Além de sobrepeso, os camundongos que foram alimentados em excesso apresentaram um perfil epigenético (mecanismos moleculares que determinam quais genes serão ativados ou desativados em diferentes tipos de células) semelhante ao de animais muito mais velhos.
De acordo com os pesquisadores, como a capacidade de regular o açúcar no sangue diminui com a idade, esse envelhecimento epigenético prematuro pode explicar como a supernutrição durante a infância aumenta o risco de diabetes mais tarde na vida.
A diabetes é uma doença crônica classificada como uma das maiores ameaças à saúde em 2019, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, cerca de 12,5 milhões de pessoas têm a doença, ficando somente atrás de China, Índia e EUA. E o número tende a crescer nos próximos anos, visto que 14 milhões dos brasileiros são pré-diabéticos, de acordo com a Federação Internacional de Diabetes.