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“Superimunidade à Covid não é tão rara”, diz geneticista Mayana Zatz

Grupo de pesquisa liderado pela pesquisadora da USP tenta desvendar se os genes desempenham papel chave na proteção ao coronavírus

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Mayana Zatz
1 de 1 Mayana Zatz - Foto: Reprodução/ Zoom

Você conhece alguma pessoa que, mesmo tendo contato muito próximo com um paciente da Covid-19 no último ano, não foi infectada pelo novo coronavírus? Talvez ela seja o que os cientistas chamam de “superimune”. A condição vem sendo associada a genes específicos que parecem oferecer uma proteção robusta a alguns indivíduos.

A geneticista Mayana Zatz, diretora do Centro de Estudos em Genoma Humano da Universidade de São Paulo (USP) está à frente de um dos estudos mais promissores sobre o tema no Brasil e afirma que a superimunidade pode ser mais comum do que se imagina.

Ao estudar o material genético de 86 casais em que apenas um dos companheiros desenvolveu a doença, a equipe liderada por ela observou a repetição de dois genes nas pessoas “resistentes”. “Para a nossa surpresa, nós vimos que não é nada raro”, disse Mayana.

Em entrevista ao Metrópoles, a professora do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências (IB) da USP conta detalhes sobre a pesquisa e as descobertas feitas até aqui. Ela também detalha um estudo paralelo com centenários, que busca esclarecer porque alguns idosos – o grupo etário é um dos mais vulneráveis à doença – se recuperam bem ou que sequer sofrem a infecção quando são expostos ao coronavírus.

 

Ponto de partida

Indivíduos que são expostos ao vírus em contatos muito próximos e não desenvolvem a doença são chamados de “resistentes”. Situações assim já foram observadas em estudos com o vírus HIV e, hoje, já se sabe que pessoas com o gene CCR5 são imunes ao vírus. Isso levantou a suspeita de que algo semelhante poderia ocorrer em relação ao coronavírus.

Quando divulgou a intenção de iniciar o estudo, a equipe liderada por Mayana recebeu mais de 2,5 mil relatos de pessoas que se identificavam com o perfil e cerca de 700 candidatos estavam em um relacionamento com uma pessoa com Covid-19.

Os pesquisadores selecionaram 86 casais discordantes, onde só um dos parceiros foi infectado. A exposição ao vírus foi dada como certa, pois os parceiros compartilhavam a mesma cama sem máscaras.

Os voluntários foram submetidos a exames RT-PCR, que detectam a presença do patógeno, e sorológicos, que verificam a existência de anticorpos gerados após a infecção. Nenhum deles teve resultado positivo, o que sugere que, mesmo sendo expostos ao vírus e sem produzir anticorpos de defesa, eles conseguiram se proteger.

Resposta está nos genes

Ao avaliar o material genético destas pessoas, os cientistas identificaram dois genes que eram presentes nas pessoas resistentes e não em seus parceiros que adoeceram. Conhecidos como MICA e MICB, os genes pertencem ao complexo MHC (complexo principal de histocompatibilidade, em português), localizado no cromossomo 6.

Eles estão relacionados às células NK (natural killers, do inglês). Estas células são conhecidas como “os soldados de defesa” do corpo. A hipótese é que os genes MICA e MICB ativam as células NK, levando a uma resposta mais rápida à infecção.

“Nas pessoas que são suscetíveis, a resposta é mais devagar, então as natural killers demoram mais para serem ativadas e para impulsionarem a proteção. Enquanto nas pessoas que são resistentes, haveria uma resposta imediata dessas células. Os ‘soldadinhos’ entrariam em defesa imediatamente e não deixariam o vírus penetrar e nos infectar”, explica Zatz.

Centenários imunes

Antes da pandemia, a equipe de Mayana Zatz estudava os centenários e as características que fazem com que alguns passem dos 100 anos saudáveis do ponto de vista físico e cognitivo. Com a pandemia e as notícias de que pessoas desta faixa etária haviam se recuperado da Covid-19, a cientista mudou o foco para entender o que os protege.

Atualmente, esta frente de pesquisa acompanha 15 centenários que se recuperaram, tiveram formas assintomáticas da doença ou foram expostos e não sofreram a infecção. A mais velha deles tem 114 anos. “Se a gente conseguir entender esses mecanismos de defesa, a gente espera conseguir informações importantes para outras doenças”, explica a professora da USP.

Como saber se sou um superimune?

A geneticista acredita que, com o avanço das pesquisas e da tecnologia, é provável que, no futuro, as pessoas consigam saber com antecedência se são imunes a infecções. Mayana afirma que, caso seja confirmado que a proteção ao coronavírus parte dos genes MICA e MICB, seria possível prever que teria a proteção capaz de impedir a Covid-19.

Uma nova etapa da pesquisa do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva da USP estudará casais concordantes, aqueles em que os dois foram infectados. Os cientistas vão avaliar qual sexo transmite mais. Eles querem saber se os homens passam mais a doença para as mulheres ou o contrário.

Os interessados em participar podem responder o formulário (neste link) ou entrar em contato com o grupo de pesquisa pelo e-mail estudocovid@gmail.com.

Saiba como o coronavírus ataca o corpo humano:

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