Stanford revela dieta que ajuda no tratamento de doença mental grave
Ensaio clínico conduzido por Stanford mostrou que uma dieta é capaz de ajudar a estabilizar o cérebro em bipolares e esquizofrênicos
atualizado
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Pessoas diagnosticadas com doenças mentais graves causadas por desequilíbrios químicos, como a esquizofrenia ou transtorno bipolar, precisam conviver com o uso de remédios para controlar os sintomas. Uma pesquisa recente da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, apontou que é possível reduzir a quantidade de medicamentos —controlando seus efeitos colaterais— a partir de mudanças na dieta.
Um estudo clínico feito com pacientes mostrou que a adoção de uma dieta cetogênica é capaz de melhorar a adaptação aos remédios, diminundo os efeitos colaterais metabólicos e aumentando o nível de felicidade dos participantes.
O que é a dieta cetogênica?
A alimentação cetogênica é aquela em que há uma redução de carboidratos processados, como pães, macarrão e chocolate, e um aumento proporcional de alimentos naturais, incluindo vegetais e gorduras boas, como abacate e azeite e proteínas.
Como a dieta interferiu no tratamento?
O tratamento padrão com medicamentos antipsicóticos pode ser uma faca de dois gumes para pessoas com doenças mentais graves. Embora os remédios ajudem a regular a química cerebral, muitas vezes causam efeitos colaterais metabólicos, como resistência à insulina e obesidade, que são reduzidos com a adoção da dieta recomendada na pesquisa.
“É muito encorajador que você possa retomar o controle da doença de alguma forma, além do padrão usual de tratamento”, disse a psiquiatra Shebani Sethi, professora de Stanford e primeira autora da pesquisa, em entrevista à universidade americana. Os resultados foram publicados na revista Psychiatry Research em 27 de março.
Shebani pesquisa a conexão entre obesidade e psiquiatria e percebeu essa mudança no cotidiano de seus pacientes. Antes do ensaio, 29% dos participantes preenchiam os critérios para síndromes metabólicas. Após quatro meses de dieta cetogênica, nenhum deles continuou com as condições.
“A dieta cetogênica provou ser eficaz para manter o controle de crises epilépticas resistentes ao tratamento, reduzindo a excitabilidade dos neurônios no cérebro”, explicou.
Como foi feito o estudo?
No ensaio piloto de quatro meses, a equipe acompanhou 21 participantes adultos que foram diagnosticados com esquizofrenia ou transtorno bipolar. Eles tomavam medicamentos antipsicóticos e apresentavam pelo menos uma anormalidade metabólica (ganho de peso, resistência à insulina ou tolerância diminuída à glicose).
Os participantes foram orientados a seguir uma dieta cetogênica com aproximadamente 10% das calorias provenientes de carboidratos, 30% de proteínas e 60% de gorduras. Eles não foram instruídos a contar calorias.
A equipe de pesquisa acompanhou o quão bem os participantes seguiram a dieta por meio de medidas semanais dos níveis de cetonas no sangue. As cetonas são ácidos produzidos quando o corpo decompõe a gordura – em vez do açúcar dos carboidratos – para obter energia.
No final do ensaio, 14 pacientes tinham sido considerados totalmente aderentes ao plano alimentar, seis eram semi-aderentes e apenas um não-aderente.
Quais foram os resultados do estudo?
Em média, os participantes perderam 10% do peso corporal; reduziram a circunferência da cintura em 11% e tiveram também melhor adesão aos medicamentos. Para a médica, essa melhora vem da redução de inflamações do cérebro causadas pelo excesso de carboidratos, mas esta hipótese ainda precisa ser comprovada por estudos futuros.
Os participantes relataram recuperação da energia, sono, humor e qualidade de vida. Em média, eles melhoraram 31% em uma avaliação psiquiátrica de doenças mentais conhecida como escala de impressões clínicas globais, com três quartos do grupo apresentando melhorias clinicamente significativas.
“Os participantes relataram melhorias na energia, no sono, no humor e na qualidade de vida”, detalhou a psiquiatra. “Eles se sentem mais saudáveis e mais esperançosos. Vimos mais benefícios com o grupo totalmente aderente em comparação com o grupo semi-aderente, indicando uma potencial relação dose-resposta”, concluiu.
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