Cientistas criam soro universal eficaz contra picadas de várias cobras
Pesquisa feita em camundongos mostrou que um soro modificado artificialmente pode neutralizar venenos de várias espécies
atualizado
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Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 29 mil pessoas são picadas todos os anos por cobras no Brasil. O dado mais recente disponível, de 2021, dá conta de 31.354 acidentes desse tipo por ano no país.
As picadas de animais peçonhentos são um problema de saúde em todo o mundo, especialmente em países tropicais como o nosso. Um dos maiores desafios é que é preciso usar soros específicos para cada espécie: uma picada de jararaca, por exemplo, não pode ser tratada com soro de cobra-coral e vice-versa. Essa realidade, porém, pode ser modificada em um futuro próximo.
Um estudo publicado na revista Science em 21/2 indica que há chance de um soro mais geral ou até mesmo universal contra picadas de cobras estar disponível nos próximos anos.
A pesquisa feita por biólogos e imunologistas da Índia e dos Estados Unidos testou um soro que é capaz de neutralizar as neurotoxinas de vários gêneros da família das Elapidae, a subordem com mais serpentes venenosas, incluindo a naja, a mamba-negra e a cobra-coral.
Soro sintético
No geral, os soros são produzidos com injeções de pequenas doses de veneno em cavalos e outros animais de grande porte. Os anticorpos criados para combater o material tóxico são coletados posteriormente.
Os pesquisadores criaram o soro sintético a partir de anticorpos presentes em 50 mil soros contra picadas de serpentes, identificando o que havia em comum entre as substâncias coletadas.
O soro universal foi criado para bloquear a possibilidade de as toxinas se conectarem aos receptores nicotínicos de acetilcolina, neurotransmissores responsáveis pelas contrações musculares. Quando são atingidos pelos venenos, eles morrem, causando paralisia muscular.
O soro universal desenvolvido pelos pesquisadores foi eficiente in vitro e também em testes com camundongos. Os animais receberam doses de veneno de várias serpentes que seriam letais ao organismo, mas sobreviveram com o uso do remédio.
Em artigo publicado no site de divulgação científica The Conversation, os imunologistas especialistas em soros Stuart Ainsworth e Camille Abada, ambos da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, comemoraram os avanços.
“Os resultados são particularmente animadores, pois mostram que é viável gerar anticorpos produzidos em laboratório que possam neutralizar amplamente os efeitos dos venenos de muitas espécies, tornando o desenvolvimento de um antiveneno universal uma perspectiva realista”, defenderam.
Quando a solução estará disponível?
O soro, entretanto, não é a bala de prata que salvará todos dos envenenamentos. Embora as neurotoxinas sejam algumas das mais perigosas formas de envenenamento por serpente, existem cobras que possuem hemotoxinas, que levam a hemorragias, ou citotoxinas, que matam células da pele e dos músculos. Para esses tipos de venenos, o soro ainda não se mostrou eficaz.
“Para garantir que qualquer novo antiveneno produzido em laboratório seja eficaz e seguro em testes em humanos, sabemos que ainda levará muitos anos. Um antiveneno universal disponível para as vítimas deve demorar”, concluem Ainsworth e Abada.
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