Soro de cavalo: entenda como funciona método promissor para tratar Covid-19
Cientistas brasileiros da UFRJ e do Instituto Butantan querem aprovar tratamento feito a partir do plasma de cavalos ainda este ano
atualizado
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O avanço nos estudos com soro de cavalo aumenta a perspectiva de que, em breve, o Brasil terá novas opções para tratar os pacientes infectados pelo novo coronavírus.
A soroterapia é usada há mais de um século contra doenças como raiva, tétano e picadas de abelhas, cobras e outros animais peçonhentos. A estrutura física dos cavalos – com muito sangue e grande capacidade para produzir anticorpos – é usada para gerar medicamentos capazes de combater infecções.
O Instituto Butantan, em São Paulo, e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) fazem pesquisas paralelas, para verificar se no caso da Covid-19 a estratégia também seria eficiente. Ambos esperam ter os respectivos medicamentos aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda este ano.
“A nossa ideia é contribuir ainda este ano, muito rapidamente, quando estamos vendo todo o problema que está acontecendo”, conta Ana Marisa Chudzinski Tavassi, diretora do Centro de Desenvolvimento e Inovação do Instituto Butantan, responsável pelo estudo em São Paulo.
Ao contrário das vacinas, que previnem a doença, o soro age como um remédio para o paciente que já está infectado. Ou seja, enquanto os imunizantes estimulam o organismo a produzir anticorpos que reajam ao agente infeccioso para bloqueá-lo, o soro entrega os anticorpos prontos para combater o vírus no momento da doença.
“No soro, a gente faz o processo de vacinação em um outro organismo que, nesse caso, é o cavalo. Eu pego o anticorpo pronto, com capacidade de reconhecer esse agente infeccioso e coloco em alguém que esteja infectado”, explica Ana Marisa.
A pesquisadora compara o soro a um antiviral que age temporariamente no organismo de um doente, por isso ele não é uma opção preventiva ou de longo prazo. “A imunoglobulina (anticorpo) não vai ser usada para fazer uma proteção tardia. Ela terá um efeito em um determinado tempo e depois vai embora”, diz.
Fabricação
Para fabricar o soro equino, os cientistas injetam o vírus Sars-CoV-2 inativado no cavalo. Como resposta à infecção, o organismo do animal produz a imunoglobulina no sangue e, em seguida, se coleta o sangue do cavalo para fabricar o soro. O plasma (parte amarelada que contém anticorpos) é separada do resto do sangue, que retorna para o animal.
O material coletado passa por um processo de purificação para a obtenção exclusiva das imunoglobulinas e depois é processado na fábrica do Butantan, em São Paulo.
“A gente fica com os anticorpos, que serão administrados nas pessoas. Quando se está fazendo esse tipo de abordagem, você dosa a quantidade de anticorpos que está injetando porque o soro foi preparado, é um produto concentrado”, explica Ana Marisa.
Estudos no Brasil
O Butantan começou o estudo do medicamento há cinco meses. Em novembro, o instituto apresentou os resultados preliminares para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A agência regulatória, por sua vez, pediu mais testes em laboratório com animais que mostrassem que o soro é capaz de capaz de diminuir o efeito do vírus.
A pesquisa que está sendo desenvolvida no Rio de Janeiro, pela UFRJ, já conseguiu mostrar que o soro de equino apresentou anticorpos neutralizantes até 150 vezes mais potentes do que os presentes em ex-pacientes da Covid-19. O próximo passo do estudo é fazer os testes clínicos com humanos e, para isso, também precisa de autorização da Anvisa.
Caso consigam essa aprovação, os pesquisadores cariocas pretendem avaliar as reações adversas, o tempo de internação, a curva de redução da infecção pelo Sars-CoV-2 e o número de pacientes que necessitarão de intubação, entre outros aspectos, durante três meses.