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Solidão, um fenômeno social com consequências médicas graves

A solidão é um possível fator de risco de enfartes e derrames. Agora, cientistas investigam se ela pode estar relacionada ao Parkinson

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Imagem colorida: idosa solitória sentada em banco de parque com uma bengala - Metrópoles - Parkinson
1 de 1 Imagem colorida: idosa solitória sentada em banco de parque com uma bengala - Metrópoles - Parkinson - Foto: Getty Images

O ser humano é um animal gregário, que necessita relações sociais. A solidão é sobretudo um peso na velhice, quando diminui o contato com a própria família, a mobilidade se reduz, o parceiro ou os amigos já morreram.

Mas também os mais jovens sofrem desse mal, seja após uma separação ou por se sentirem socialmente isolados. E a partir dos 50 anos de idade, quando os filhos saem de casa, é comum ficar uma estranha sensação de vazio.

É claro que às vezes estar sozinho também pode ser extremamente benéfico. Do ponto de vista psicológico, um indivíduo é solitário quando a falta de companhia lhe é dolorosa, ou quando, apesar de contatos sociais, mesmo não estando concretamente só, se sente isolado e sem pertencer a lugar nenhum.

Solidão é um sentimento, portanto difícil de quantificar, e se torna um problema quando é crônica e resulta em escassez de contatos sociais. Aí passa a afetar negativamente a psique e a saúde física.

Hoje em dia a falta de interações sociais por um período prolongado é classificada como praticamente tão perigosa quanto consumo exagerado de álcool, nicotina, má alimentação ou sedentarismo persistente.

Do hormônio do estresse a Parkinson

Ao longo de sua evolução, os humanos sempre procuraram viver em comunidade, pois em grupo é mais fácil repelir ameaças e assegurar a sobrevivência. Sem esse apoio, o corpo entra em estado de alarme, a liberação do hormônio do estresse cortisol se eleva.

Devido a esse aumento do cortisol, indivíduos solitários tendem a apresentar hipertensão constante e taxas altas de glicose no sangue, seu sistema imunológico baixa a guarda, o combate a infecções fica menos eficaz, o que, por sua vez, propicia moléstias cardiovasculares.

Portanto a solidão crônica aumenta consideravelmente o risco de enfartes cardíacos, derrames cerebrais, câncer ou demência e, segundo um estudo recente, também da doença de Parkinson. Não se trata de uma relação direta: as causas dessa enfermidade neurodegenerativa – que se manifesta por tremores descontrolados, rigidez muscular e lentidão de movimentos – continuam sem ser definitivamente estabelecidas.

No entanto uma pesquisa de longo prazo – publicada no início de outubro pela revista médica JAMA Neurology e tendo como base os dados de 491.603 indivíduos do banco de dados britânico UK Biobank – indicou entre os solitários um risco 37% maior de desenvolver Parkinson. E, mesmo descontando outros fatores, como predisposição genética ou moléstias coexistentes, aqueles que se definiram como solitários ainda apresentaram 25% a mais de risco.

Nina Browner, docente de Neurologia e diretora do Departamento de Distúrbios Motores da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Sul, enfatiza que o estudo não provou conclusivamente que a solidão cause doença de Parkinson: ele é unicamente explorativo e deve ser encarado como ponto de partida para pesquisas mais aprofundadas.

Contudo os pesquisadores são unânimes em dizer que, ao lado da depressão, estados de pânico e cansaço, a solidão seria um sintoma não motor precoce para Parkinson: todos esses sinais podem se manifestar num estágio preliminar da doença, às vezes anos antes de um diagnóstico específico.

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Esse processo degenerativo das células nervosas pode afetar diferentes partes do cérebro e, como consequência, gerar sintomas como tremores involuntários, perda da coordenação motora e rigidez muscular
Outros sintomas da doença são lentidão, contração muscular, movimentos involuntários e instabilidade da postura
Em casos avançados, a doença também impede a produção de acetilcolina, neurotransmissor que regula a memória, aprendizado e o sono
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de a doença ser conhecida por acometer pessoas idosas, cerca de 10% a 15% dos pacientes diagnosticados têm menos de 50 anos
Não se sabe ao certo o que causa o Parkinson, mas, quando ocorre em jovens, é comum que tenha relação genética. Neste caso, os sintomas progridem mais lentamente, e há uma maior preservação cognitiva e de expectativa de vida
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Parkinson é uma doença neurológica caracterizada pela degeneração progressiva dos neurônios responsáveis pela produção de dopamina

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Esse processo degenerativo das células nervosas pode afetar diferentes partes do cérebro e, como consequência, gerar sintomas como tremores involuntários, perda da coordenação motora e rigidez muscular

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Outros sintomas da doença são lentidão, contração muscular, movimentos involuntários e instabilidade da postura

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Em casos avançados, a doença também impede a produção de acetilcolina, neurotransmissor que regula a memória, aprendizado e o sono

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), apesar de a doença ser conhecida por acometer pessoas idosas, cerca de 10% a 15% dos pacientes diagnosticados têm menos de 50 anos

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Não se sabe ao certo o que causa o Parkinson, mas, quando ocorre em jovens, é comum que tenha relação genética. Neste caso, os sintomas progridem mais lentamente, e há uma maior preservação cognitiva e de expectativa de vida

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O diagnóstico é médico e exige uma série de exames, tais como: tomografia cerebral e ressonância magnética. Para pacientes sem sintomas, recomenda-se a realização de tomografia computadorizada para verificar a quantidade de dopamina no cérebro

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O Parkinson não tem cura, mas o tratamento pode diminuir a progressão dos sintomas e ajudar na qualidade de vida. Além de remédio, é necessário o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Em alguns casos, há possibilidade de cirurgia no cérebro

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Amigos, cães e hobbies contra a solidão

Raramente a solidão é uma escolha voluntária. Mas quem se sente só precisa, acima de tudo, adotar uma atitude proativa, buscando expressamente o contato com outros.

Um novo hobby, como tocar música em conjunto, pode ajudar a formar novos contatos. Adotar um cão traz movimento ao dia a dia, além de assuntos para conversar com outros cinófilos. Engajar-se como voluntário transmite uma sensação de ser útil.

Todas essas são belas ideias, mas para muitos o caminho para fora da solidão pode ser longo. Conversar com estranhos? Inscrever-se em cursos? Atuação honorária por uma causa? Mais fácil falar do que fazer, mas amigos, familiares ou vizinhos podem ser vitais nos primeiros passos para vencer o isolamento.

Quando alguém se sente só, conversas telefônicas ou videochamadas certamente superam a distância, até certo ponto, e transmitem uma sensação de participação. Porém nada substitui o contato pessoal.

Se insegurança ou baixa autoestima contribuem para a sensação de solidão, a assistência de um terapeuta ou centro de aconselhamento pode ajudar. Afinal de contas, superar esse mal psicossocial é também uma questão de autoproteção: o corpo agradecerá.

  • O texto foi escrito por Alexander Freund, repórter da Deutesche Welle especializado em matérias científicas.

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