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Sobram caixão e UTI. Estudo revela áudios mais divulgados entre direita

Pesquisadores analisaram 2.108 mensagens distribuídas no período em que o presidente Jair Bolsonaro disse que Covid-19 era uma “gripezinha”

atualizado

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Ilustração sobre o coronavírus
1 de 1 Ilustração sobre o coronavírus - Foto: Arte Metrópoles

Um grupo de pesquisadores de São Paulo e Minas Gerais que acompanha disseminação de fake news examinou áudios que circularam em 720 grupos de WhatApp entre os dias 24 e 28 de março  e descobriu que os mais populares eram os que negavam a gravidade da Covid-19. O período da análise coincidiu com o pronunciamento feito pelo presidente Jair Bolsonaro à nação de que o novo coronavírus provocava apenas uma “gripezinha”.

Entre os 2.108 áudios distribuídos, 10 foram mais recorrentes e, entre estes, quatro tinham conteúdos que colocavam em dúvida a veracidade da pandemia mundial. Baseadas em supostos depoimentos, as mensagens citavam UTIs vazias, funerárias sem corpos e erros na contabilização dos mortos pela doença. Apesar de públicos, os grupos observados eram formados, em sua maioria, por integrantes pró-governo.

De acordo com os pesquisadores dos projetos Eleições Sem Fake, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Monitor do Debate Político no Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP), as mensagens chegaram a pelo menos 18 mil usuários. O conteúdo que mais circulou foi um áudio em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre o protocolo de uso da hidroxicloroquina.

Em seguida, com 240 compartilhamentos em 204 grupos, aparece o depoimento de uma pessoa com sotaque carioca que duvida do novo vírus, uma vez que, segundo argumenta, moradores de rua ou criminosos não foram internados em hospitais do Rio de Janeiro por causa de Covid-19. “Alguém pode me dizer porque nenhum bandido pega essa doença?”, questiona.

O terceiro áudio mais divulgado é de suposto médico de um hospital de Presidente Prudente, em São Paulo, afirmando que os leitos da unidade estão vazios, sem nenhum caso de pessoas internadas em estado grave. A mensagem foi publicada 206 vezes, em 147 grupos, por 82 usuários. O autor da gravação diz que se trata de uma “epidemia psíquica”.

A quarta fake news mais popular seria de um amigo do dono de uma funerária que, após investir em caixões, estaria passando aperto financeiro. “Tá morrendo menos gente do que antes. Antes, o cara ia no bar e tomava uma facada, um tiro. Os bandidos iam para rua para fazer confusão. Mas, agora, tá uma paradeira”, afirma.

O levantamento foi feito a partir de buscas no Google e no Twitter por comunidades abertas facilmente acessadas a partir de links disponíveis na internet. O professor Fabrício Benevenuto, do projeto Eleições Sem Fake, lembra que existem muitos outros grupos em atividade no momento e que a pesquisa é apenas um recorte do alcance. “O que estamos observando é só um olhar pela fresta”, destaca.

“Esses grupos são permeados por ativistas, pessoas que querem promover o conteúdo e apoiar um político ou partido. São amplificadores de um conteúdo que rapidamente é enviado para outros grupos. Eles (os grupos) acabam sendo a porta de entrada de muita notícia falsa em grupos privados, como os de condomínio ou da família”, explica Benevenuto.

De acordo com o professor, o monitoramento de fake news começou em 2018, durante a disputa para mandatário do país. Ele conta que muitos grupos pró-Fernando Haddad (PT) ou Ciro Gomes (PDT) perderam fôlego após as eleições e, hoje, estão inativos. Enquanto isso, as associações bolsonaristas ganharam força em defesa do presidente da República.

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