Síndrome de Munchausen: entenda condição da personagem de Jade Picon
Chiara, interpretada por Jade Picon em Travessia, será diagnosticada com síndrome em que paciente se machuca e finge ter sintomas de doença
atualizado
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Nos próximos capítulos de Travessia, novela da TV Globo, a personagem Chiara, vivida por Jade Picon, será diagnosticada com uma condição rara, a síndrome de Munchausen ou distúrbio factoide. O paciente com o transtorno psicológico é reconhecido por simular sintomas de uma doença ou se machucar de propósito para receber cuidados hospitalares.
“Uma importante característica deste quadro é que o objetivo não é o de ter algum benefício prático, como benefício previdenciário. Sua principal intenção é assumir o ‘papel de doente’ para que as pessoas cuidem dele e ele seja o centro das atenções”, explica o psiquiatra Elson Azevedo, pesquisador do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
A causa exata da síndrome é desconhecida. Segundo Azevedo, um importante fator relacionado à necessidade de atenção e simpatia da equipe médica é a vivência de experiências traumáticas na infância, como negligência e abandono pelos pais, ou abusos físicos e sexuais. Também podem estar envolvidas experiências de adoecimento na infância que podem ter causado extensa atenção médica.
Transtornos de personalidade – condições de saúde mental que causam padrões de pensamento e comportamento anormais – também podem estar associados à síndrome de Munchausen. Entre eles, destacam-se o transtorno de personalidade antissocial, onde uma pessoa pode ter prazer em manipular e enganar médicos; o transtorno de personalidade borderline, onde o indivíduo luta para controlar seus sentimentos e muitas vezes oscila entre visões positivas e negativas dos outros; e o transtorno de personalidade narcisista, em que a pessoa muitas vezes oscila entre se ver como especial e temer que não tenha valor.
“Evidências sugerem que pessoas que passaram por procedimentos médicos extensos ou receberam atenção médica prolongada durante a infância ou adolescência têm maior probabilidade de desenvolver a síndrome. Isso pode ser porque elas associam suas memórias de infância com a sensação de serem cuidadas”, explica.
O transtorno factício foi descrito pela primeira vez em 1951, pelo médico inglês Richard Asher. Ele ganhou este nome em homenagem ao Barão de Münchausen. Os relatos fantasiosos e exagerados sobre fugas impossíveis e viagens fantásticas do militar alemão que viveu no século 18 serviram de base para a série As Aventuras do Barão de Münchhausen, publicada em 1785.
Sintomas e diagnóstico
De acordo com Azevedo, as pessoas com a síndrome de Munchausen podem se comportar de maneiras diferentes: eles podem simular sintomas psicológicos ou físicos, como ouvir vozes ou ver coisas que não estão realmente lá, ou afirmar que sentem dor no peito ou de estômago, por exemplo. Outra possibilidade é que alterem os próprios exames ou tentem ativamente ficar doente.
Há relatos de pessoas que se cortam propositalmente durante exames de urina, para que o resultado indique algum sangramento interno, ou que infectem deliberadamente uma ferida esfregando sujeira nela.
Também é comum observar sinais como dores em geral, febre de origem desconhecida, lesões na pele, enfisema subcutâneo que geralmente aparece no pescoço e região torácica como um inchaço indolor, distúrbios endócrinos, arritmias cardíacas, insuficiência respiratória ou infecções de repetição.
“Pessoas com síndrome de Munchausen podem ser muito manipuladoras. Alguns pacientes podem passar anos viajando de hospital em hospital fingindo uma ampla gama de doenças. Quando é descoberto que eles estão mentindo, eles podem deixar o hospital de repente e se mudar para outra área. Nos casos mais graves, podem passar por cirurgias dolorosas e às vezes com risco de vida, mesmo sabendo que são desnecessárias”, afirma Azevedo.
A síndrome costuma ser identificada depois que o paciente passa por diversos exames com resultados que acabam descartando qualquer outra doença.
“Diagnosticar a síndrome de Munchausen pode ser um desafio para os médicos. As pessoas com a síndrome costumam ser muito convincentes e habilidosas em manipular e explorar a equipe de saúde”, conta o psiquiatra. “Se um profissional suspeitar que uma pessoa pode ter síndrome de Munchausen, ele deve avaliar detalhadamente os registros de saúde da pessoa para verificar inconsistências entre o histórico médico alegado e o real”, continua.
Tratamento
Depois do diagnóstico, o tratamento é feito com o suporte de psicólogos e psiquiatras. Segundo Azevedo, a combinação de psicanálise e terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem demonstrado benefícios nesses casos, mas muitos pacientes se recusam a aceitar o diagnóstico.
“O tratamento pode ser difícil porque a maioria das pessoas se recusa a admitir que tem um problema e a cooperar com os planos de tratamento. As pessoas que têm síndrome de Munchausen têm uma condição de saúde mental genuína, mas muitas vezes só admitem ter uma doença física”, explica.
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