Segurança de Bolsonaro: quadro grave do coronavírus não é só em idosos
O adoecimento de Ari Celso, revelado pelo Metrópoles, mostra que a Covid-19 faz vítimas em todos os grupos
atualizado
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O adoecimento de Ari Celso Rocha Lima de Barros, de 39 anos, que está internado no Hospital de Base do DF, mostra que os quadros graves da Covid-19 não são exclusivos para os grupos da população que têm a saúde mais vulnerável, como os idosos. Apesar de ainda não estar claro se o capitão da Polícia Militar do DF possui comorbidades, amigos o definem como um homem forte, atleta e ativo.
Conforme revelado pelo Metrópoles nesta quinta-feira (26/03), Ari trabalha na segurança pessoal do presidente Jair Bolsonaro e estava tentando controlar a doença em casa quando precisou ser removido para uma unidade de cuidados terciários.
“O Covid-19 é uma doença seríssima, não é um resfriado banal. O quadro pode evoluir rapidamente para uma pneumonia dependendo do estado de saúde do paciente”, explica o infectologista Hélio Bacha, consultor técnico da Sociedade Brasileira de Infectologia.
De acordo com o especialista, os quadros mais graves da doença exigem em média sete dias de internação em unidade de terapia intensiva (UTI) para que o paciente se recupere. Portanto, o isolamento de toda a sociedade seria a única maneira de assegurar que o sistema de saúde não ficará sobrecarregado.
“A experiência italiana nos ensinou muito e o que estamos vendo em São Paulo também tem nos ensinado: o Sars-CoV-2 está sendo muito eficiente em sua adaptação ao nosso clima”, destaca Bacha.
O infectologista Alexandre Cunha, do Hospital Sírio-Libanês Brasília, explica que o vírus realmente é menos letal e se converte em uma menor taxa de hospitalização para jovens, mas essa regra possui muitas exceções. Além disso, se todos contraírem a enfermidade no mesmo período, haverá mortes que poderiam ser evitáveis.
“Se o número de infectados simultaneamente for muito grande, se todos pegarem ao mesmo tempo, os que ficarem em estado grave irão afogar o sistema de saúde e podem acontecer mortes evitáveis”, frisa Cunha.
Para o especialista, pensando na saúde pública, é importante, por ora, manter as medidas de distanciamento social, mas é preciso acompanhar cada passo da pandemia, a fim de saber o momento certo de voltar à normalidade. “Essas decisões têm que ser tomadas por órgãos técnicos e baseadas em dados estatísticos e epidemiológicos. O melhor ainda é ficar em casa para evitar o contágio rápido. À medida que a população for criando imunidade, as coisas podem ir voltando ao normal”, conclui.
Cadeia de contágio
De acordo com estudos internacionais, a taxa de reprodução da doença é de 2,7 – isso significa que cada uma das pessoas com o vírus consegue disseminá-lo para outras duas pessoas, quase três.
Coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz Brasília, Claudio Maierovitch destaca que essa espécie de “taxa de contágio”, entretanto, é variável, pois depende de pelo menos quatro fatores: 1) a capacidade do contagiado de expelir o vírus; 2) os cuidados que são tomados pelas pessoas próximas; 3) a saúde das pessoas próximas; e 4) o tamanho da rede de relacionamentos do contagiado.
“Quanto maior for a rede de relacionamentos do infectado, maiores são as chances de ele passar o vírus adiante”, explica. Segundo Maierovitch, a generalização das medidas de distanciamento social são as únicas capazes de deter a contaminação pelo coronavírus, conforme já foi demonstrado em outros países.
Sobre o caso específico de Ari Celso, segurança do presidente Jair Bolsonaro, o coordenador lembra da quantidade de pessoas que participaram da recente viagem aos Estados Unidos e testaram positivo para o novo coronavírus: pelo menos 23. “Mesmo que o presidente tenha um passado de atleta, é importante que ele acompanhe seu estado de saúde para que não seja ele próprio um possível agente de contágio”, salienta.