Saiba por que vacinas não vão acabar com a pandemia de um dia para o outro
Ainda não há informações suficientes para saber quanto tempo dura a imunidade adquirida ou se pacientes podem transmitir o vírus
atualizado
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Pressionada com a missão de criar uma vacina contra o novo coronavírus e ajudar a acabar com a maior pandemia do último século, a ciência desenvolveu, em tempo recorde, imunizantes que começarão a ser aplicados na população de alguns países ainda em 2020.
A vacina é vista como a salvação e o símbolo para a volta à vida pré-pandemia, mas especialistas e a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertam que não é bem assim. O produto não será uma bala de prata que vai resolver tudo de um dia para o outro.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Guilherme Werneck, explica que o imunizante será uma ferramenta muito importante para o enfrentamento da pandemia, mas precisará preencher dois requisitos: eficácia muito alta e disponibilidade para a população.
“Algumas das vacinas apresentadas não têm eficácia tão alta. Os primeiros resultados da AstraZeneca, por exemplo, mostraram uma média de 70%, o que é uma eficácia mediana. Um imunizante imperfeito vai ser útil, mas não vai conseguir proteger todas as pessoas, mesmo as que tomarem a vacina”, afirma.
Para a população estar finalmente livre do vírus, será preciso que muita gente seja imunizada – de acordo com o vice-presidente da Abrasco, a expectativa é que 70% da população precisa estar imune para que a epidemia comece a ceder de vez e seja interrompida.
“Isso significa vacinar quase toda a população brasileira, e não é algo que se possa fazer imediatamente. Tem problemas de logística, de distribuição e produção. Precisa ter disponibilidade de pessoal, de material e, claro, de vacina. Hoje não temos quantidade de medicamento pra cobrir toda a população nem um plano de vacinação que seja considerado sério o suficiente para dar conta deste desafio”, alerta.
De acordo com Werneck, enquanto a população inteira não é imunizada, o risco de transmissão permanente ativo e os indivíduos precisam continuar adotando as medidas de proteção. Ele diz que é importante ter resiliência: era uma doença desconhecida e, até hoje, ainda há muito que não se sabe sobre o coronavírus.
Por enquanto, é preciso manter os cuidados e não relaxar. “A recomendação é seguir os protocolos de distanciamento, higienização e uso de máscaras por um longo período, até que a taxa de transmissão/circulação do Sars-CoV-2 seja muito baixa e sem subidas repentinas. O relaxamento dos protocolos deve acontecer de forma gradativa, como foi com as medidas de flexibilização, mesmo para quem já estiver vacinado”, explica Gustavo Campana, diretor médico da rede Dasa.
Vacinas imperfeitas
Uma das preocupações dos especialistas é que ainda não se tem informações suficientes sobre as vacinas mais avançadas para saber se a imunidade gerada é duradoura, tampouco se sabe se os vacinados não serão capazes de transmitir o vírus. Até o momento, os estudos mostraram que a pessoa imunizada não desenvolve casos graves de Covid-19, mas ainda não há informações sobre se ela pode contaminar outras.
“É um adianto, mas não temos informações sólidas para prevenir a infecção. Até que tenhamos mais evidências, as pessoas vacinadas precisam ter cuidado não só porque poderão ser infectadas e transmitir para os colegas mas também porque a vacina não tem 100% de eficácia e pode ser que o paciente não seja imunizado mesmo após tomá-la”, explica Werneck.
De acordo com Campana, esse tipo de informação só aparecerá no final das fases 3 e 4 do estudo – a última é de monitoramento e acompanha por um longo período de tempo pacientes que tomaram a vacina.
O fim da pandemia
Apesar de a pandemia só poder ser oficialmente considerada encerrada com um anúncio da OMS, o cenário perfeito que todos esperamos deve acontecer quando as vacinas forem eficazes, amplamente distribuídas e com imunidade duradoura o suficiente para interromper a transmissão e derrubar a curva epidemiológica. Pode ser até que os casos não desapareçam por completo, mas serão controlados e considerados endêmicos.
“Do meu ponto de vista, ainda estamos muito distantes dessa situação. Essa questão da vacina deve se arrastar por 2021. As pessoas precisam se engajar com as medidas de proteção. O governo e a comunidade científica devem garantir que a população tenha acesso às vacinas para que possamos decretar o fim da pandemia”, afirma o vice-presidente da Abrasco.