Saiba por que é difícil provar relação entre vacina e efeito adverso
Casos de coágulos e reações alérgicas graves foram documentados, mas são raros e ainda não é possível afirmar se vacinas são responsáveis
atualizado
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Desde o começo da vacinação contra a Covid-19, o mundo assiste atento a qualquer sinal de efeito adverso causado pelos imunizantes criados e aprovados em tempo recorde. Primeiro, causaram preocupação os relatos sobre choques anafiláticos entre pacientes que receberam a vacina da Pfizer/BioNTech. Desde meados de março, o foco passou a ser os casos de coágulos sanguíneos após a aplicação do imunizante de Oxford/AstraZeneca.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a agência regulatória europeia (EMA) estão revisando os dados disponíveis até o momento sobre os “eventos trombóticos” causados pelos coágulos e ainda não chegaram a um consenso sobre se eles estão realmente ligados à vacina.
Não é fácil definir a relação direta entre imunizantes e reações, principalmente, porque elas acontecem em um intervalo de dias ou até semanas depois da aplicação. Os coágulos, por exemplo, são eventos relativamente comuns na população e a incidência normal deles é até maior do que a detectada entre as pessoas que tomaram a vacina.
Também não há biomarcadores específicos para chegar a essa conclusão, ou os testes são impraticáveis. O cenário não acontece só com as vacinas da Covid-19. A vacina da poliomielite, por exemplo, pode causar a doença em uma a cada 2,4 milhões de crianças que recebem o imunizante: a relação só foi comprovada depois que se encontrou o código genético usado na vacina no fluido espinhal de pacientes positivos.
No caso da vacina da H1N1, criada em 2009, até hoje não se sabe, com certeza, se a fórmula é responsável por relatos de narcolepsia – transtorno do sono que causa sonolência excessiva – em crianças que receberam a dose. Os incidentes reportados são muito mais frequentes depois da vacina do que sem ela, e estudos mostraram que um ingrediente da fórmula pode ser responsável por desencadear a doença.
Porém, mais de 10 anos depois, ainda não há consenso sobre a relação entre a narcolepsia e a doença. Uma pesquisa publicada em 2018 por cientistas do Hospital Infantil de Cincinnati, nos Estados Unidos, concluiu que o ingrediente, sozinho, não pode ser associado à narcolepsia.
No caso específico das vacinas da Covid-19, os estudos feitos com uma quantidade limitada de voluntários não costumam ser suficientes para detectar eventos que acontecem uma vez a cada um milhão de doses aplicadas.
A OMS e a EMA, além do FDA, nos Estados Unidos, e a Anvisa, no Brasil, possuem um sistema de vigilância para detectar casos de reações raras, mas o monitoramento não é capaz de apontar de imediato a causa do problema e uma possível ligação com as vacinas. Essas informações são importantes para investigar caso a caso, se necessário, e entender como o imunizante se comporta a longo prazo, quando aplicado em uma grande quantidade de pessoas.
Apesar das incertezas, a OMS e todos os órgãos regulatórios internacionais concordam: vacinas aprovadas (como a de Oxford/AstraZeneca e a da Pfizer/BioNTech) possuem benefícios que superam, em muito, os riscos de uma condição adversa.
Saiba como as vacinas contra Covid-19 atuam: