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Saiba o que é a síndrome FOGO, medo de sair de casa na pandemia da Covid-19

Comparada à Síndrome da Cabana, a condição se caracteriza pelo medo excessivo do coronavírus e o isolamento afetivo

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1 de 1 depressão suicídio - Foto: ISTOCK

O organismo humano tem diversas ferramentas de defesa para situações de perigo. Uma delas é o medo. Evitar sair de casa durante a pandemia da Covid-19 é uma maneira de proteção contra o novo coronavírus. No entanto, deve-se prestar atenção quando ele passa a ser excessivo, interferindo na rotina, com crises de ansiedade, alterações no sono e taquicardia que levam à paralisia e ao isolamento afetivo. A Síndrome FOGO – “Fear Of Going Out” (medo de sair, em português) tem tratamento.

A condição costuma ser comparada à Síndrome da Cabana, um fenômeno psicológico que consiste no medo de sair de casa após longos períodos de confinamento, descrito no início do século 20, nos Estados Unidos. Na época, ela foi observada em pessoas que passavam muito tempo em isolamento e tinham dificuldade de retorno à convivência, recorrente entre trabalhadores de minas e caçadores ou após longos períodos de inverno.

“É importante a gente considerar que ela aconteceu em um outro contexto. Eles estavam no inverno, normalmente, sem possibilidade nenhuma de comunicação. Por mais que a gente tenha o distanciamento físico, estamos mais conectados do que nunca”, explica a professora do Instituto de Psicologia da UnB e membro do Comitê Gestor do Plano de Contingência em Saúde da Covid-19 (COES) da UnB, Larissa Polejack.

Existe diferença entre o distanciamento físico – fator importante para a proteção contra o novo coronavírus – e o isolamento afetivo e social, quando se evita ter contato, mesmo que por telefone, com amigos e familiares. “Mesmo com saudade da família, ela se fecha, se isola para não ver ninguém. Isso é preocupante”, conta Larissa. Muitos desses casos são notados em pessoas que já tinham dificuldades anteriores e que foram agravadas pelo contexto da pandemia: aumento do número de casos e mortes.

“Todo mundo precisou se adaptar a essa realidade muito rapidamente porque teve um agente externo que fez mudar o seu comportamento, hábitos e estilo de vida e isso gera um impacto. É natural que a gente sinta medo de retornar porque sabemos que implica em exposição maior ao risco. Tem quem se adapte facilmente; quem sinta o impacto na adaptação ficando mais ansioso e estressado, mas que aos poucos vai se adaptando; e quem seja impactado muito diretamente na saúde mental”, comenta a professora da UnB.

A psicóloga clínica da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, Deyse Sobral, ressalta que, embora seja muito recente e sem publicações científicas, a síndrome FOGO atinge homens e mulheres. Alguns estudiosos a relacionam a pessoas com perfil mais introspectivo. “Ele tem uma tendência maior a ser pessimista e se identificar mais com cenários desesperançosos”, pontua.

A FOGO passa a ser preocupante quando o medo se torna excessivo e irracional e a pessoa começa a ter comportamentos obsessivos que se somatizam. “São disfunções tênues, mas importantes de serem observadas. A pessoa começa a se cristalizar e não consegue mais ter uma rotina minimamente normal. Ela evita sair para realizar atividades essenciais como ir ao mercado, mesmo tomando todas as medidas de segurança. Alguns sintomas têm a ver com a função e outros são mais somáticos. Os mais comuns são os sintomas da ansiedade”, explica Deyse.

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A designer Gabriela Domingues não se sente segura para sair de casa
Solidão e prisão

A designer Gabriela Domingos, 32 anos, mora em São Paulo e está em isolamento social rigoroso desde março, quando começou a trabalhar em home office, fazer as compras do supermercado com entrega por delivery e a se revezar com o namorado para buscar o medicamento controlado na farmácia. As consultas de terapia e psiquiátricas também migraram para a telemedicina.

Mesmo morando com o namorado, ela diz ter a sensação de solidão por não poder ver a família e se sente presa, mas entende a necessidade disso para preservar a saúde. “Faz quatro meses que eu não recebo ninguém em casa e nem vou na casa dos meus amigos. Minha ansiedade aumentou muito. Fiquei gripada por uns dias e isso trouxe algumas crises de ansiedade por medo de ser o coronavírus”.

“Como os sintomas do resfriado são próximos da Covid-19, a gente fica mais assustada. Eu tenho ansiedade e quando vinha a falta de ar, não sabia se era por conta dela ou se era corona e tive medo de ir para o hospital e pegar o vírus por lá”, explica. A solução encontrada por ela foi medir a temperatura duas vezes por dia e comprar um oxímetro para acompanhar os níveis de oxigenação do sangue.

O escritório onde Gabriela trabalha informou que o quadro completo de funcionários só retornará após a disponibilidade da vacina. Até lá, a designer diz não se sentir segura para retornar às atividades. “As pessoas do bairro onde eu moro não parecem estar se preocupando. Elas só põem a máscara onde é obrigatório”.

Acompanhar a evolução da pandemia foi um ponto que aumentou a ansiedade da designer, que passou a ficar mais agitada, com problemas para dormir. “A gente toma uma série de cuidados quando sai de casa, mas me aflige saber que eu vou ver pessoas que não estão ligando para isso e dá a sensação de que nunca vai acabar”, completa.

Como amenizar a FOGO?

O primeiro passo para reverter a situação é se acolher e reconhecer que estar ansioso e preocupado é natural em um momento de pandemia, de acordo com a psicóloga Larissa Polejack. Depois, deve-se observar se ao longo do tempo houve uma mudança muito grande no comportamento. Entre eles,  distúrbios de sono e alimentação, aumento do uso de bebidas, irritação e vontade de não falar mais com as pessoas.

“O que não é normal, é quando isso te impede de se conectar com pessoas que são importantes para você e de conseguir refletir sobre o motivo do medo. É uma coisa maior, chega a ser uma paralisia”, completa a professora da UnB.

Deyse Sobra lembra que cada pessoa responde de maneira individual à crise e elenca seis sugestões de cuidados para prevenir e amenizar a síndrome:

1 – Respeite você e o seu tempo: aceitar, acolher e respeitar o que sentimos é fundamental;
2 – Estabeleça uma rotina que faça sentido para você: de acordo com as prioridades é possível estabelecer uma rotina factível. Com o mínimo de motivação torna-se mais viável criar novos hábitos;
3 – Atente para o conteúdo dos seus pensamentos: essa é uma arma muito poderosa tanto de autopromoção quanto de autodestruição. É uma tendência muito grande as pessoas ficarem monotemáticas;
4 – Utilize a tecnologia a seu favor: mantenha contato com pessoas queridas e tenha acesso a informações de diferentes naturezas, não só conteúdo sobre a pandemia;
5 – Cuide dos hábitos alimentares, de atividades físicas e do sono dentro do que for possível;
6 – Caso necessário, busque ajuda profissional: é importante que a gente reconheça que não está dando conta sozinho.

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