Após surto no AM, há risco da febre oropouche se espalhar pelo Brasil?
Com 1,7 mil casos registrados desde o início do ano, Norte do Brasil vive um surto de febre oropouche que assusta os infectologistas
atualizado
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O Amazonas declarou, no último domingo (4/3), que está passando por um surto da febre oropouche. Foram registrados 1,7 mil casos da doença no estado até o fim de fevereiro, o triplo do que foi computado no mesmo período em 2023. No ano passado inteiro, foram identificados apenas 995 casos.
Em 23/2, o Ministério da Saúde (MS) publicou uma nota técnica que orientou o monitoramento eventual de sintomas de oropouche em todo o Brasil. Até a divulgação do documento, o código específico para registrar a doença não estava nem disponível nos sistemas do governo.
Surto ou epidemia?
Para especialistas em saúde coletiva ouvidos pelo Metrópoles, a indicação de surto chega de forma tardia e também imprecisa: já poderíamos falar de uma epidemia localizada.
“Surto de oropouche tem todo ano no Amazonas. Surtos são aumentos concentrados em espaços pequenos — um hospital, uma escola. A epidemia é quando você tem um aumento acima do esperado e de forma mais ampla, como em um município ou zona. É o que temos de mais próximo do que está ocorrendo no Norte”, indica o pediatra e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri.
Além do Amazonas, Acre e Rondônia têm registrado aumento de casos. Um paciente no Rio de Janeiro que esteve no Amazonas também foi diagnosticado com a febre oropouche.
Embora o aumento seja exponencial, os médicos indicam que o risco da doença se espalhar pelo Brasil é baixo, já que ela depende da transmissão por um mosquito que é endêmico apenas da região Norte, o Culicoides paraenses, popularmente conhecido como maruim ou mosquito-pólvora.
Há risco da doença se espalhar?
A infecção depende diretamente das picadas do matuim, um mosquito encontrado de forma concentrada na floresta amazônica. Isso não significa, porém, que os casos não podem se espalhar pelo Brasil. “É possível que a gente comece a ver pacientes em outros locais, já que há um grande trânsito de pessoas dentro do nosso país”, aponta Kfouri.
O infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professor da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), alerta para as mudanças climáticas, que podem fazer com que o mosquito se adapte a outros espaços e migre.
“O aumento do calor ou mudanças causadas pelo homem podem ajudar esses mosquitos a viver em novos lugares. Por isso, é muito importante monitorar a aparição de casos da doença por outras regiões”, indica.
O que justifica o aumento de casos deste ano?
Os médicos atribuem a explosão de casos a um conjunto de fatores. As mudanças climáticas e a crescente urbanização da região Norte, apontadas pelo infectologista, podem ser algumas das responsáveis pelo surto. Até 1960, por exemplo, a doença circulava em mamíferos da floresta, como bichos-preguiça e onças, quando “pulou” para os humanos.
“Além disso, o deslocamento das pessoas entre diferentes áreas pode espalhar o vírus para lugares onde ele não existia antes, afetando pessoas que nunca tiveram contato com ele e, portanto, não têm imunidade”, aponta Weissmann.
Outro fator pode ser uma melhor identificação das pessoas infectadas, já que, devido aos sintomas da oropouche serem parecidos com os de outras doenças, antes do surto ela poderia ser confundida com condições diferentes.
Sintomas da febre oropouche
Uma das dificuldades para controlar a doença é que os sintomas da febre oropouche são semelhantes aos de uma outra doença transmitida por mosquitos (e muito mais conhecida), a dengue.
“As infecções transmitidas por mosquitos e outros insetos são chamadas de arboviroses. Elas, em geral, causam sintomas parecidos, que incluem febre, dor de cabeça, dores pelo corpo e nas articulações, além de uma sensação de cansaço e náusea”, explica Weissmann.
A febre oropouche, porém, possui algumas particularidades. Ela pode causar uma maior sensibilidade à luz (fotofobia) e, em casos raros, levar a uma inflamação em regiões próximas ao cérebro, gerando encefalites.
Mesmo considerando a gravidade eventual da doença, desde que ela foi descoberta em humanos, nos anos 1970, não existem registros de mortes causadas pelo vírus quando ele atua isoladamente.
Não existe tratamento específico nem vacina para a febre oropouche. O tratamento é para aliviar os sintomas, que costumam desaparecer com uma ou duas semanas.
Em nota ao Metrópoles, o Ministério da Saúde ressaltou que está monitorando o aumento de casos desde novembro de 2023 para compreender o cenário e está “orientando as secretarias de saúde para a detecção dos casos a partir da estruturação da vigilância epidemiológica” para criar planos contra o avanço do vírus.
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