Resposta imune das mulheres ao coronavírus é mais eficiente, diz pesquisa
Genes ligados ao funcionamento de células de defesa e à produção de moléculas inflamatórias seriam mais ativos em mulheres
atualizado
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Um estudo da Universidade de São Paulo com participação de outras instituições indica que o sistema imune das mulheres é mais eficiente contra a Covid-19 que o dos homens. Esta seria uma explicação possível para o fato de que, desde o início da pandemia, a maior parte das mortes acontece entre indivíduos do sexo masculino.
A partir do cruzamento de milhares de dados, os pesquisadores perceberam que o sistema imunológico feminino ativa respostas de citocinas de forma intensa, porém sem causar danos ao organismo. Além disso, as pacientes infectadas apresentaram expressão reduzida de genes dos neutrófilos — células que podem causar danos teciduais críticos nos casos de Covid-19.
Os cientistas utilizaram dados genômicos públicos disponíveis no repositório Gene Expression Omnibus (GEO Database). Com ferramentas de bioinformática, analisaram o material coletado de secreções da nasofaringe e de exames de sangue de mais de mil pessoas infectadas com a Covid-19. O cruzamento de dados revelou que as mulheres de várias faixas etárias apresentaram perfil imunológico mais parecido ao dos pacientes jovens, enquanto os homens se assemelham mais aos pacientes idosos, com resposta inferior à infecção.
O que faz o sistema imunológico das mulheres ser superior ao dos homens quando o assunto é a proteção contra o coronavírus ainda não está claro. Uma pista, segundo a pesquisa, seriam os vários receptores para hormônios femininos expressos no sistema imune, o que poderia colaborar para a construção de uma imunidade mais potente.
Mulheres tendem a ter um estilo de vida mais saudável, o que também poderia explicar o organismo mais protegido contra doenças. A menor ocorrência de tabagismo e de alcoolismo entre as mulheres, por exemplo, justificaria um sistema imunológico mais eficaz entre elas.
Novos tratamentos
Um dos tratamentos possíveis a partir dos resultados da pesquisa seria a inibição da expressão excessiva de citocinas, que são moléculas liberadas pelo organismo para se defender do vírus. Em excesso, as citocinas podem causar danos aos órgãos, principalmente ao sistema respiratório, podendo levar à morte.
Com as novas informações, os pesquisadores esperam estudar mais detalhadamente novos tratamentos para a doença, criando formas de reduzir a incidência de casos graves. O trabalho ainda está em pré-print, ou seja, ainda não foi revisado pela comunidade científica.
Outros estudos já indicaram uma maior resistência das mulheres ao coronavírus. Em junho, cientistas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) sugeriram que o sexo feminino estaria mais protegido devido ao estrogênio. Em Nova York, uma equipe médica começou a usar hormônios femininos como possível tratamento para pacientes homens em estado grave.