Resposta antiviral no nariz pode influenciar Covid grave, diz estudo
Pesquisadores dos Estados Unidos mostram que pessoas com Covid grave não conseguem produzir proteína determinante no combate ao coronavírus
atualizado
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As primeiras respostas imunológicas na região do nariz e garganta (ou nasofaringe) – onde ocorre o primeiro encontro do corpo com o Sars-CoV-2 – ajudam a determinar quem desenvolverá a forma grave da Covid-19, quem terá a forma leve e quem será assintomático.
A descoberta é mais uma pista de como o vírus se desenvolve no corpo humano. Publicada na revista científica Cell e divulgada na sexta-feira (23/7), a pesquisa foi conduzida por pesquisadores do Hospital Infantil de Boston, MIT e Centro Médico da Universidade de Mississippi, todos nos Estados Unidos.
Os cientistas obtiveram amostras de swabs nasais, aquele tipo de cotonete do teste PCR, de 35 adultos infectados pelo vírus entre abril e setembro de 2020, divididos em grupos baseados nos sintomas, variando entre levemente sintomático a gravemente doente. Além dessa amostra, o estudo também avaliou swabs de 17 indivíduos controle e seis pacientes que foram intubados, mas não tinham Covid-19.
O objetivo da pesquisa era entender por que algumas pessoas infectadas pelo coronavírus ficam mais doentes do que outras. O time observou que pessoas com Covid-19 leve ou moderada apresentaram aumento da ativação de genes envolvidos com respostas antivirais nas células epiteliais da nasofaringe. Esses genes foram estimulados pelo interferon tipo I, que é uma glicoproteína essencial para dar o alarme ao sistema imunológico do corpo.
Já as pessoas que desenvolveram a forma grave da doença, necessitando inclusive de hospitalização e ventilação mecânica, as respostas antivirais foram debilitadas. As células epiteliais dessas pessoas apresentaram uma resposta nula ao interferon, embora concentrassem grandes quantidades de vírus.
Ao mesmo tempo, os swabs desses pacientes tinham um número maior de macrófagos e outras células imunológicas que aumentam as respostas inflamatórias. “Ter a quantidade adequada de interferon no momento certo pode ser o ponto crucial para lidar com o Sars-CoV-2 e outros vírus”, observa José Ordovás-Montañés, autor sênior do estudo e cientista do Hospital Infantil de Boston, em anúncio da pesquisa.
Detalhe celular
Para conseguir uma imagem detalhada do que acontece na nasofaringe quando o vírus entra no corpo, os pesquisadores sequenciaram o RNA de cada célula, uma por vez. Para se ter uma ideia do que esse trabalho significa, o swab de cada paciente rende uma média de 562 células. Esses dados de RNA permitiram à equipe identificar quais células continham RNA proveniente do vírus, indicando infecção, e quais genes as células estavam ativando e desativando em resposta.
A partir desse método, os cientistas notaram que as células epiteliais do revestimento interno do nariz e da garganta sofrem grandes alterações quando entram em contato com o coronavírus. Eles perceberam que diversos tipos de células continham o RNA do vírus e que essas células possuíam mais genes ativados envolvidos na resposta imunológica à infecção. A descoberta principal dos cientistas veio quando eles compararam os swabs de pessoas com diferentes graus de severidade da doença.
A próxima etapa da pesquisa é investigar o que causa essa resposta silenciada do interferon na nasofaringe nas pessoas que desenvolveram a forma grave da Covid-19. Os pesquisadores também irão explorar a possibilidade de aumentar a resposta do interferon em pessoas com os primeiros sintomas da doença, utilizando spray nasal ou gotas.
Estudo francês
O estudo americano se soma a outro, divulgado em julho do ano passado. Realizada por cientistas franceses, a pesquisa também investigou o interferon e revelou que pacientes com o quadro grave da doença possuíam deficiência nessa proteína. A pesquisa foi publicada na Science.