Redesignação sexual: como foi cirurgia das gêmeas trans da HBO Max
Em entrevista ao Metrópoles, o médico José Martins Júnior explica os procedimentos necessários para a redesignação sexual
atualizado
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O médico José Martins Júnior é especialista em cirurgias de redesignação sexual e em atendimento de saúde para mulheres trans. Com mais de mil procedimentos do tipo já realizados, ele foi o encarregado das cirurgias realizadas nas gêmeas Mayla Phoebe e Sofia Albuquerck, que estrelam série documental sobre o assunto na HBO Max.
A produção estreou neste mês de junho e mostra em seis episódios o processo detalhado de transformação das duas irmãs. Atualmente com 21 anos, elas fizeram as cirurgias quando tinham 19. Em entrevista ao Metrópoles, o médico explicou os procedimentos necessários para a redesignação de gênero.
“O caso da Mayla e da Sofia é muito excepcional. Já trabalhei com outras gêmeas, mas não que tivessem processos tão semelhantes. Elas começaram o tratamento hormonal juntas e fizeram os mesmos procedimentos”, conta.
O que é a cirurgia de redesignação sexual?
Ao contrário do que o senso comum costuma acreditar, a redesignação sexual não é feita por todos. Há uma percepção diferente de cada pessoa trans em relação ao próprio corpo. Nem todas querem passar pelos mesmos procedimentos e poucas são as mulheres trans que escolhem fazer a cirurgia popularmente chamada de mudança de sexo – quando pênis e escroto são remodelados para virar uma vagina.
“Nenhuma pessoa trans precisa de cirurgia para ser uma pessoa trans. Há muitas que fazem apenas terapias hormonais ou nem isso. A indicação de uma cirurgia é feita quando existe a chamada disforia de gênero. Essa disforia é uma tristeza, um mal-estar que a pessoa sente em relação ao próprio corpo”, esclarece o médico.
Segundo Martins, apenas cerca de 5% de suas pacientes escolhe fazer a cirurgia de redesignação sexual. A maioria prefere fazer modificações na face e em outras partes do corpo. “São essas mudanças que permitem uma nova leitura social dessas mulheres. Elas passam a ser melhor aceitas por sua comunidade e entendidas como as mulheres que são”, completa o médico. Entre os procedimentos possíveis, há até o de readequação vocal.
Que cirurgias são feitas por mulheres trans?
Em geral há três tipos de disforia: facial, corporal e sexual. Cada uma delas é tratada com procedimentos médicos específicos. “O primeiro passo no atendimento de uma pessoa trans é entender que tipo de disforia ela sofre para planejar os procedimentos que serão necessários”, explica o médico. A partir daí podem ser feitas, a depender de cada caso:
Cirurgias para amenizar a disforia facial: A pessoa passa por modificações nos ossos da face e o processo se chama feminilização facial. São feitas com raspagens nos ossos e preenchimentos para alterar o formato do rosto. O resultado é uma face com contornos mais finos e delicados.
Cirurgias para amenizar a disforia corporal: São procedimentos que complementam um tratamento hormonal já iniciado. Há, por exemplo, a implantação de próteses mamárias para quem já tem o broto mamário desenvolvido. Também são feitas abdominoplastias, cirurgias nos glúteos e lipoaspirações para dar contornos mais curvilíneo ao corpo.
Cirurgias para amenizar a disforia gential: Nessas situações, há o procedimento de redesignação sexual. “É um procedimento que transforma uma genitália masculina em uma que seja o mais próximo possível de uma feminina. O objetivo é que a vagina tenha tanto características funcionais quanto estéticas”, explica Martins.
O perfil das mulheres trans
Segundo o médico, o tipo de pacientes que têm buscado atendimento mudou ao longo dos últimos três anos. Em seus 10 anos de carreira, ele afirma ver uma mudança no perfil das pacientes. Elas já não são mais pessoas que compareciam ao consultório após um largo ciclo de rejeições.
“Nesses últimos anos, tenho visto o cenário muito mais favorável. Obviamente, a gente está distante do que deveria ser, o preconceito ainda existe. Mas estamos vivendo uma realidade menos sombria. Hoje tenho na clínica pais acompanhando meninas de 17 anos para iniciar procedimentos”, exemplifica.
“É bonito ver o pai e a mãe entendendo o processo de transição, trazendo a família para aprender e testemunhar essa jornada. As pessoas que estão em busca de transformação fazem por amor próprio, e é muito bonito ver quando elas chegam com uma rede de apoio”, afirma.
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