Rastreio do câncer de pulmão deve começar aos 50, defendem médicos
Especialistas reunidos no 1º Congresso Brasileiro de Câncer de Pulmão defendem que políticas de prevenção comecem a ser periódicas no Brasil
atualizado
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Atualmente, no Brasil, só é recomendado que uma pessoa faça exames de imagem para identificar se tem câncer de pulmão caso apareçam sintomas que levem à suspeita de que a doença está instalada, como a tosse persistente e a falta de ar associadas ao hábito do tabagismo.
Sociedades médicas ligadas à prevenção dos casos se uniram, no 1º Congresso Brasileiro de Câncer de Pulmão, realizado em Brasília de terça a quinta-feira (13 a 15/8), para alertar que é preciso repensar essa política. Elas propõem que se incentive o diagnóstico precoce da doença, já que os sintomas do câncer de pulmão só aparecem em estados muito avançados e de difícil tratamento.
As estimativas apresentadas pela Aliança contra o Câncer de Pulmão sugerem que mais de 50% dos diagnósticos poderiam ser feitos em estágios iniciais (1 e 2) caso houvesse uma política mais ativa de busca do grupo de risco. Atualmente, 88% dos casos só são descobertos a partir do estágio 3, quando as chances de cura são muito mais reduzidas.
A aliança é composta por seis sociedades médicas: de cirurgia torácica (SBCT), de pneumologia e tisiologia (SBPT), de oncologia clínica (SBOC), de radiologia (CBR), de patologia (SBP) e radioterapia (SBRT).
Rastreio deve ser anual, defende aliança
Os especialistas recomendam que o rastreamento passe a ser feito anualmente, com uma tomografia computadorizada de baixa dose (TCBD), nos indivíduos que pertencem ao grupo de alto risco: pessoas com de 50 a 80 anos e que fumam ou já fumaram mais de 20 maços de cigarro por ano nos últimos 15 anos.
Com o reforço da detecção precoce, os médicos acreditam que seria possível reduzir a mortalidade global do câncer de pulmão em até 20%. Atualmente, são 32,5 mil novos casos da doença no Brasil a cada ano e 28,8 mil mortes — é um dos cânceres com mais mortes no país.
O pedido desta mudança de política pública é a pauta principal do congresso. A sessão de abertura do evento, realizada no Senado Federal nessa terça (13/8), reuniu presidentes de sociedades médicas e representantes do governo para discutir as possibilidades de ampliação do rastreio do câncer de pulmão.
“Não é possível que um país como o Brasil ainda tenha 28 mil pessoas morrendo de uma doença que é facilmente tratável quando é precocemente detectável. Se seguirmos examinando ativamente pacientes apenas quando estão com sintomas, vamos continuar a receber pacientes já em estágio quatro de câncer de pulmão, quando já não nos resta quase nada a fazer”, lamenta a pneumologista Margareth Dalcolmo, presidente da SBPT.
“Sabemos que 80% dos casos de câncer de pulmão são relativos ao uso do cigarro. Não é que outros fatores como poluição e genética não tenham seu papel, mas se não fosse o tabagismo, incluído aí os vapes e os cigarros eletrônicos, o câncer de pulmão seria até raro”, completa Dalcolmo.
Superando entraves para o diagnóstico do câncer de pulmão
O problema do acesso ao diagnóstico rápido, porém, não se resolve tão rapidamente. Não basta desenbolar o nó que impede as pessoas de fazerem os exames, mas também garantir que a doença seja identificada corretamente.
Os exames devem ser analisados por médicos especialistas em laboratório para identificar o subtipo do câncer de pulmão e recomendar o tratamento mais adequado com base nas biópsias.
“Com a biópsia, aumentamos muito a qualidade de vida dos pacientes por conseguir fazer terapias mais direcionadas e que permitem aumentar as chances de sucesso do tratamento, que em geral são muito baixas”, explica Clóvis Klock, presidente da SBP.
Além disso, é preciso dar suporte à saúde mental dos pacientes para que eles possam lidar com a notícia da suspeita de um câncer de pulmão e completar o tratamento. “Muitos pacientes não voltam para buscar seus exames por medo. É uma doença de estatísticas assustadoras e muitos preferem fugir das respostas por não terem uma atenção à saúde. Sem acolher esse paciente ao dar a notícia, a chance de perdê-lo é alta”, afirma a ativista Marlene Oliveira, presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, que reúne pacientes oncológicos.
Ministério da Saúde reconhece necessidade de mudança
O secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde (MS), Adriano Massuda, concordou que é preciso renovar e atualizar as políticas públicas de prevenção do câncer de pulmão, especialmente na organização dos fluxos para receber os pacientes.
“Atualmente, eles enfrentam uma fragmentação muito grande dos níveis de cuidado. O exame é feito em um lugar, a biópsia é em outro, o tratamento é em outro, não se integram os cuidados e isso torna o tratamento todo muito lento em uma doença que avança rápido. Nosso objetivo é encurtar estes prazos ao centralizar o tratamento para que o paciente não espere mais que 30 dias para conseguir sair de uma etapa e ir para outra”, defende ele.
Esta atenção integrada depende da inclusão do câncer de pulmão nos tratamentos oncológicos oferecidos pelo programa Mais Acesso a Especialistas, o que ainda está em tramitação no MS e não tem data prevista para começar. Atualmente, estão no programa de integração o atendimento aos cânceres de útero, mama, próstata, colorretal e gastresofágico.
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